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Arroz sem defensivos agrícolas: o aumento da competitividade entre produtores

Grupo de pesquisa da UFSM desenvolve a produção de arroz na região da Quarta Colônia por meio de técnicas que evitam o uso de defensivos químicos.



O arroz é um dos alimentos mais tradicionais do país e está sempre na mesa dos brasileiros. Conforme levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população consome em torno de 10 milhões de toneladas de arroz por ano. Com isso, existe a necessidade de diversificar as formas de produção desse grão. Na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o grupo de pesquisa “Arroz Irrigado e Uso Alternativo de Áreas de Várzea” – criado em 2015 e coordenado pelo professor Dr. Enio Marchesan -, busca fomentar a competitividade de pequenos produtores e atender uma nova parcela de consumidores. Esse público opta por alimentos saudáveis e com produção socialmente responsável, vinda de sistemas característicos da agricultura familiar e que preservam os recursos naturais. 

Plantação de arroz sem defensivos agrícolas (Foto: Assessoria de Comunicação Colégio Politécnico)

No início, a atividade era focada no sistema orgânico, mas após algumas dificuldades com a certificação da produção esse modelo acabou por se tornar inviável. Essas adversidades permitiram a adesão ao modo “sem uso de defensivos químicos”,  uma espécie de fase intermediária entre o orgânico e o convencional, que utiliza mão de obra mecanizada e fertilizantes minerais, o que eleva o nível de produtividade por hectare. Desde o princípio, o propósito era alcançar uma valorização superior ao arroz convencional que, mesmo numa produtividade menor, tivesse um resultado líquido por hectare parecido com o que é obtido no sistema convencional. 

 

Quais são as práticas de produção deste arroz?

Conforme o coordenador do projeto, a dinâmica de uso de fertilizantes é reduzida apenas aos minerais, pelo fato de utilizarem como matéria-prima resíduos que são passíveis ao meio ambiente e não deixarem resíduos químicos no alimento. Marchesan explica, ainda, como os produtores evitam o uso de herbicidas: “Em relação aos herbicidas, nós preparamos a área, reduzimos o banco de sementes, cuidamos do entorno para que não produzam sementes e isso é um diferencial do arroz, o nosso é limpo”. 

O projeto também está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, plano de ação global criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) que reúne 17 objetivos de desenvolvimento sustentável. As ações desenvolvidas pelo grupo se enquadram nos itens 2 (Fome Zero e Agricultura Sustentável), 4 (Educação de Qualidade) e 12 (Consumo e Produção Responsáveis) da lista.

 

Um espaço para os alunos aplicarem a teoria na prática

Durante os oito anos de atuação, diversos alunos se envolveram direta e indiretamente no projeto. Ao todo, foram mais de 60 participantes vindos do grupo de pesquisa, alunos de graduação, mestrado e doutorado, bolsistas de Fpergs, CNPq, Fatec, entidades privadas e voluntários dispostos a aprender na prática o que é ensinado em sala de aula.  

A área didático-experimental de várzea conta com onze hectares sistematizados, possui irrigação individual para cada talhão (Unidade mínima de cultivo em uma propriedade), canais de drenagem e estradas internas. Em relação à infraestrutura, os locais contam com máquinas e equipamentos destinados aos trabalhos de campo, laboratórios de química para a análise de sementes e processamento pós-colheita, casa de vegetação e sala de aula. 

Ainda assim, utilizam-se  análises de multirresíduos desenvolvidas no Laboratório de Análises de Alimentos do Departamento de Química da UFSM. A pretensão é garantir ao consumidor final zero resíduos químicos no alimento e assegurar que há transparência e legitimidade quanto ao processo produtivo.

 

Empresas internas e externas contribuem para as atividades

Mesmo depois da primeira produção bem-sucedida, o arroz não tinha uma destinação definida. Assim, iniciou-se a parceria com a PoliFeira do Agricultor, projeto vinculado ao Colégio Politécnico da UFSM, para produção da rotulagem e venda do produto. Nesse sentido, foram realizadas diversas atividades de lançamento nas edições da feira livre, a fim de impulsionar o produto no mercado e promover as atividades do projeto. 

 

Evento de lançamento do arroz em parceria com a PoliFeira do Agricultor
(Foto: Assessoria de Comunicação Colégio Politécnico)

Já no segundo semestre de 2020, algumas instituições somaram-se ao projeto. São elas: EMATER/RS ASCAR, Instituto Riograndense do Arroz (Irga), Prefeituras de Dona Francisca e de Faxinal do Soturno, Cooperativa Agrícola Mista Nova Palma (CAMNPAL), Cooperativa de Produção e Desenvolvimento Rural dos Agricultores Familiares de Santa Maria RS (COOPERCEDRO) e Meta Soluções Agrícolas de Agudo. 

Desde então o projeto passou a dialogar  com a comunidade regional, fazendo essa possibilidade de produção chegar aos agricultores. Sobre benefícios com a adesão de novas empresas, Marchesan comenta: “Essas empresas chegam com uma visão um pouco maior, um pouco mais abrangente sobre o mercado, eles também estimulam com que outros produtores façam adesão ao projeto”. Aos interessados, atualmente o arroz é comercializado no Armazém Coopercedro na Praça Saturnino de Brito e, em um futuro próximo, vai estar disponível em diversos mercados de Santa Maria como um produto Bella Dica.  



Projeto é destaque no agronegócio regional 

Em outubro de 2023, o projeto foi reconhecido com dois prêmios de relevância nacional e estadual. Promovido pela Rede Pampa e Banrisul com apoio da Cotrijal, o “Troféu Destaques do Agro” premiou o projeto na categoria “Pesquisa e Inovação” durante a Expointer. O outro prêmio foi o “Destaque APUSM” que tem o objetivo de homenagear projetos, professores e iniciativas de Instituições de Ensino Superior que causam impacto nas comunidades e fortalecem a participação das Instituições de Ensino Superior no desenvolvimento de cidades da região. A homenagem foi entregue durante jantar baile de Dia do Professor. 




Texto: João Victor Souza, acadêmico de Jornalismo e bolsista do projeto
Revisão: Assessoria de Comunicação do Colégio Politécnico da UFSM

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