Com o objetivo de adquirir sementes de Palmeira Juçara e melhorar o potencial genético das matrizes da planta, o projeto PoliFeira do Agricultor realizou uma visita técnica no “Sítio da Palmeira Juçara”, no município de Vera Cruz (RS), no dia 25 de janeiro. A propriedade visitada foi a da engenheira agrônoma Lori Luci Brandt, que oportunizou, durante a atividade, a demonstração da colheita e da extração da polpa do fruto da árvore.
O que é a Juçara?
O fruto juçara se assemelha ao açaí e é produzido por uma espécie de palmeira diferente, conhecida como Palmeira Juçara, cultivada nas áreas litorâneas de Mata Atlântica, principalmente nas regiões Sul e Sudeste do país. Também conhecida como juçaí, a espécie apresenta uma pequena diferença na textura e mais nutrientes do que o açaí tradicional brasileiro, com até quatro vezes mais propriedades antioxidantes, 50% mais ferro e 30% mais antocianina. Sua árvore é mais conhecida por produzir um palmito comestível, razão pela qual está ameaçada de extinção.
Dedicação e estudo
Lori Luci Brandt, produtora de juçara, dedicou sua trajetória profissional e pessoal para a preservação da natureza e práticas agroecológicas, sempre em busca de mais conhecimento todos os dias. Para a engenheira, a alimentação é extremamente importante porque ensina sobre os lugares de onde vieram. “A comida tem história, cultura e é uma das maneiras que o povo expressa a sua sabedoria”, reflete.
Quando Lori iniciou seus estudos na área da Agronomia, na década de 90, a agroecologia ainda era um tabu no ramo e suas práticas eram pouco ou nada comentadas. Para aprender sobre o assunto, a então aluna teve que buscar por outros meios. Atualmente, como profissional, ela enfatiza a importância do enfrentamento dos problemas climáticos causados pela falta de cuidado com a natureza, e afirma que a agricultura sintrópica ou agroflorestal oferece a possibilidade de recuperação de áreas degradadas, com a cobertura do solo a partir do manejo da biomassa das podas e com colheita de uma grande diversidade de alimentos ao longo do ano.
A produtora teve contato com a planta desde criança, quando seu pai mostrava a ela os palmiteiros. Seu interesse pelo estudo do cacho da palmeira juçara começou há 23 anos, durante seus estudos de mestrado. Em 2005, quando Lori mudou para o sítio da família, acreditou sozinha que o juçaí seria um dos alimentos do futuro. Em 2010, fundou o Centro de Estudos da Palmeira Juçara, depois da ocorrência de um grande desmatamento em sua propriedade, no qual centenas de exemplares da árvore foram derrubados com a mata para exploração ilegal da madeira.
Hoje, a propriedade de Lori e seus irmãos possui 24 hectares, dos quais 17 são de mata nativa preservada em estágio primário ou secundário avançado. Na mata preservada, se encontram em torno de 13 mil palmeiras juçara adultas em estágio de produção. A palmeira juçara é uma planta pioneira, que necessita de meia sombra, ideal para sistemas agroflorestais. No sítio, que desenvolve este tipo de sistema, também podem ser encontrados cultivos de goiaba serrana, jabuticaba, pitanga, banana do mato, ananás e cereja do rio grande. Lori comenta também sobre a necessidade de dispor no mínimo 20% da fruta da árvore para a fauna, porque ela alimenta em torno de 87 espécies de animais.
Ao olhar de fora
A PoliFeira do Agricultor, promotora da visita, tem como uma das suas ações proporcionar a troca de informações entre alunos, agricultores, professores e demais integrantes da comunidade para desenvolvimento de um maior conhecimento sobre a área rural e a natureza do Brasil. Ao final desta visita, todos os convidados levaram sementes de Palmeira Juçara, além de um aprendizado adquirido pelo contato com o Sítio e as histórias e sabedorias que foram compartilhadas.
Texto: Júlia Petenon.
Edição: Giuliana Seerig.