Oportunidades acadêmicas de programas de estadia no exterior expandem os horizontes de pesquisa para doutorandos
Após a conclusão do mestrado, o próximo desafio para quem quer seguir na vida acadêmica é o doutorado. Essa nova fase nos estudos é um período em que o aluno explora ainda mais sua pesquisa durante quatro anos e contribui com seus achados para a comunidade científica. A conquista do desejado título de Doutor traz diversas oportunidades para os pesquisadores – tanto na conclusão da jornada quanto durante ela. Entre essas, está o doutorado sanduíche.
O doutorado sanduíche é a oportunidade de realizar parte dos trabalhos de pesquisa em uma universidade no exterior. Isso ocorre através de uma parceria pré-existente entre as instituições de ensino, que contemplam discentes selecionados com bolsas de estudo – as quais variam no tipo de assistência oferecida e no período vigente, fatores determinados pelas regras da própria bolsa e do programa no qual ela se origina.
Mas qual a conexão entre a palavra “doutorado” e o delicioso alimento que se faz presente em nossos cafés da tarde? E por que logo essa combinação para nomear o programa de bolsas no exterior oferecidas a doutorandos? O termo, originário do inglês “doctoral stay” ou “sandwich doctorate”, é uma metáfora: os pães que unem o sanduíche remetem ao programa de doutorado na instituição de ensino brasileira em que o aluno está matriculado desde o princípio; e o miolo – o recheio do sanduíche – a experiência de pesquisa na instituição estrangeira, por se tratar de um curto período de tempo, que na maioria das vezes é realizado próximo ao meio da trajetória no doutorado.
O doutorado sanduíche na UFSM
Na UFSM, os discentes podem se inscrever através de editais elaborados pelos Programas de Pós-graduação de suas áreas e participar de processos seletivos para serem contemplados pelas bolsas. Segundo o assistente administrativo da Pró-Reitoria de Pós-graduação e Pesquisa (PRPGP), Marcelo Cassanta Antunes, eles recebem orientações de dois programas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES): o Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE) em que a seleção interna na Universidade ocorre após a publicação do edital pela CAPES; e o Projeto Institucional de Internacionalização (PrInt), um projeto de desenvolvimento institucional em que estão previstas 150 bolsas até 2023.
Nos anos de 2019 e 2020, foram 78 bolsas de doutorado sanduíche oferecidas para alunos da UFSM pelo PrInt. Já pelo PDSE, em 2018, foram cerca de 30 bolsas, e apenas 3 em 2019 – devido à regra que impossibilita a inscrição de programas integrantes do PrInt e falta de preenchimento dos requisitos por parte dos alunos. Essas viagens foram destinadas a países em que a UFSM possui importantes parcerias de convênios vigentes com instituições de ensino, localizados tanto na América, como os Estados Unidos, quanto em localidades de outros continentes, como em países europeus. Segundo o site da Associação Nacional de Pós-Graduandos, alguns destinos disponibilizados pela CAPES em geral são: Estados Unidos, Canadá, Argentina, Uruguai, França, Portugal, Reino Unido, etc. Entre esses, as rotas dos doutorados sanduíches da Universidade se destinam à instituições em que a UFSM possui convênios ativos, que podem ser consultadas no site da PROPLAN.
Dentre os contemplados pelo PDSE em 2018 está Giovana Ghisleni Ribas, doutora em Engenharia Agrícola pela UFSM. No período em que esteve na University of Nebraska (EUA), ela conseguiu aprimorar sua pesquisa – voltada para a área da ecofisiologia vegetal – e o desenvolvimento de suas práticas com o idioma inglês. “Tive acesso a toda a estrutura física necessária para a geração de estudos de alto impacto, além de todo o suporte técnico e científico necessário ao desenvolvimento da habilidade de redação e apresentação oral na língua inglesa”, explica a pesquisadora.
Cotutela de tese x Doutorado Sanduíche
Embora as duas experiências sejam semelhantes – ambas permeiam a ideia de ampliação internacional da pesquisa para pós-graduandos – há regras específicas que diferem o doutorado sanduíche da cotutela de tese (ou doutoramento em regime de cotutela). O principal diferencial é que o processo de cotutela tem a inscrição plena do doutorando nas duas instituições de ensino – tanto na de origem, quanto na estrangeira -, com a necessidade de prestar um tempo mínimo de estudos na universidade do outro país, que segue as regras individuais de cada uma. Ou seja, enquanto no doutorado sanduíche o aluno viaja, volta e conquista o título na instituição de origem, no doutorado em regime de cotutela o acadêmico é diplomado pelas duas instituições.
Daniela do Canto, tradutora do Núcleo de Idiomas da SAI/UFSM, realizou a experiência na Vrije Universiteit Brussel (VUB), em Bruxelas, na Bélgica. A partir das regras do doutoramento em regime de cotutela de sua universidade, teve estadia obrigatória de no mínimo nove meses na universidade europeia e foi diplomada como Doutora em Estudos Literários pela UFSM e em Estudos da Tradução pela VUB. Ela conta que sua experiência na viagem a fortaleceu na área pesquisada, voltada aos estudos de tradução. “Tive a oportunidade de conhecer outras universidades, além da VUB, e também de ter contato com vários profissionais da área, o que foi excelente para o meu crescimento como tradutora”. Para Daniela, a experiência não foi apenas benéfica no âmbito acadêmico, mas também no pessoal: “O grande número de alunos internacionais que são recebidos anualmente na VUB proporcionou com que eu conhecesse pessoas de várias partes do mundo que se tornaram amigos queridos”.
A equipe da revista Arco conversou com Marcelo a fim de esclarecer outras questões que envolvem a solicitação para participar dos programas oferecidos pela UFSM:
ARCO: Como funciona a assistência ao aluno em outra universidade?
Marcelo Antunes: Varia de IES para IES. Enquanto algumas concedem estadia, por exemplo, outras não o fazem.
ARCO: Quais são os custos bancados pela Universidade? Há algo que o aluno precisa custear (como passagem, passaporte, etc)?
Marcelo Antunes: A UFSM não utiliza recursos de seu orçamento para custear o doutorado sanduíche. Os alunos contemplados com bolsas recebem, além da mensalidade, valores para custear a sua instalação no país, passagens aéreas e contratar um seguro-saúde. Estes valores estão dispostos na Portaria CAPES nº 1/2020. Demais custos, como emissão de passaporte, prova de proficiência em língua estrangeira, entre outros, são de responsabilidade do beneficiário da bolsa.
ARCO: Durante quanto tempo o aluno reside no exterior?
Marcelo Antunes: O período de estadia no exterior varia, principalmente, com a vigência da bolsa. Por exemplo, no PrInt o período mínimo é de seis meses e o máximo 12 meses. No PDSE, este ano, o mínimo é quatro meses e o máximo é seis meses. No caso do discente que utiliza recursos próprios para custear o doutorado sanduíche (o que geralmente não ocorre devido ao alto custo para se manter no exterior), o período está relacionado às atividades que serão desenvolvidas na IES estrangeira.
ARCO: Como estão funcionando os processos dos programas durante a pandemia?
Marcelo Antunes: No geral, as aulas estão sendo feitas remotamente e a seleção está sendo feita de forma totalmente online. Além disso, Marcelo salienta que cada programa possui suas particularidades. Questões como documentação, critérios de seleção, especificação da condição da bolsa e etapas de inscrição diferem de cada bolsa ofertada e todas as informações encontram-se presentes nos editais de seleção das próprias, que podem ser encontrados na aba da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa, no site da UFSM.
Expediente
Repórter: Paula Appolinario, acadêmica de Jornalismo e voluntária
Ilustradora: Amanda Pinho, acadêmica de Produção Editorial e bolsista
Mídia Social: Nathalia Pitol, acadêmica de Relações Públicas e bolsista
Edição de Produção: Esther Klein, acadêmica de Jornalismo e bolsista
Edição Geral: Luciane Treulieb e Maurício Dias, jornalistas