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Reflexões sobre o processo vivido III – O papel das pessoas adultas nas brincadeiras das crianças



Daliana Löffler

Maria Talita Fleig

Vívian Jamile Beling

A Ipê Amarelo tem uma trajetória de atendimento às crianças. Isso por si só, não basta, pois temos um grupo muito importante e necessário para que este atendimento seja viável – são os adultos. Neste momento, dirigimo-nos especificamente àquelas(es) que estão em processo de formação inicial, seja atuando como bolsista ou como estagiária(o) dentro da Unidade, que possuem uma trajetória pessoal e formativa específica. Reconhecemos cada um(a) nas suas individualidades e especificidades, e, por estarmos em um espaço de vida coletiva, nos articulamos, constituindo-nos profissionalmente, vivendo a proposta pedagógica da Unidade.

Ao mesmo tempo em que essa articulação é potente, e cada um(a) pode contribuir desde a sua perspectiva formativa, ela também é desafiadora, pois trabalhamos com múltiplas formas de olhar e compreender as relações infantis – seja pela especificidade da área de formação, seja pela etapa do percurso formativo de cada um(a). Cientes dessa relação, apostamos na comunicação com os estudantes em formação, como forma de provocar a reflexão sobre suas ações no dia a dia com as crianças: quais são as escolhas realizadas, como dialogam com as crianças…  

Observar é a base para compreender e tomar decisões, agindo de acordo com as referências já elaboradas das vivências familiares e sociais, da escolarização e formação. Quando se está junto das brincadeiras sociais ou dos processos de exploração das crianças, aspectos escolhidos para serem problematizados neste texto, o desafio é saber em que medida podemos contribuir com o processo e qualificar sem romper ou inferiorizar as ações infantis. Esse é um dos aspectos que justifica o diálogo sobre o papel dos adultos na brincadeira das crianças, e considerando isso, o desafio para esse momento parte da seguinte questão: “O que os adultos fazem quando as crianças estão juntas?”. 

Para a Unidade de Educação Infantil Ipê Amarelo as brincadeiras, juntamente com as interações constituem-se os eixos norteadores do trabalho pedagógico (BRASIL, 2009). Isso significa dizer que as crianças que frequentam a Ipê Amarelo brincam muito, e que este brincar nem sempre acontece do mesmo jeito, visto que a brincadeira da criança varia conforme a oferta de materiais e as relações que as crianças estabelecem entre si e com os adultos. A brincadeira (FERREIRA E TOMÁS, 2020), antes de tudo, é reconhecida como um dos direitos das crianças e tem sido foco de estudos e investigação de diferentes áreas do conhecimento. Cada área olha para esse processo da criança de acordo com as suas perspectivas. A Sociologia da Infância vê no brincar das crianças uma possibilidade de socialização, compreendendo-as como atores sociais, a Psicologia seja ela na perspectiva do desenvolvimento ou na perspectiva cultural, lança olhares sobre esse processo que encontram na brincadeira da criança possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento, bem como uma forma de estar e se relacionar com o mundo. 

A pesquisa “A escuta dos bebês e das crianças pequenas na Unidade de educação Infantil Ipê Amarelo” (LÖFFLER E BELING, 2023) apontou para a existência de quatro aspectos importantes no papel do professor, os quais podem ser ampliados para serem compreendidos como importantes para todos os adultos que trabalham com crianças. Os aspectos dizem respeito a apostar nas potencialidades dos bebês e crianças pequenas, a proporcionar o desenvolvimento e o conhecimento, ao conhecimento do professor sobre aspectos do desenvolvimento da criança na faixa etária em que atua e sobre estar em relação com as crianças. Esse estar em relação, é outro aspecto que nos motiva a pensar sobre o que os adultos fazem quando as crianças estão brincando. 

Para Löffler (2019) a relação das crianças com os adultos, nas brincadeiras pode ocorrer a partir da perspectiva criança-adulto havendo uma relação direta entre esses sujeitos, alternando-se as funções desempenhadas nas brincadeiras;  criança-criança-adulto havendo neste caso uma relação direta entre as crianças, na qual os adultos relacionam-se com as crianças de modos pontuais, desde a perspectiva das crianças ou dos próprios adultos e uma terceira possibilidade faz menção a relação criança-espaços/materiais-adulto, em que as crianças evidenciam seus processos mais autônomos de organização da brincadeira, em que circulam pelo espaço, fazem as escolhas dos materiais e compondo seus enredos, bem como os tempos em que envolvem-se ou não com os materiais/espaços. Nessa última perspectiva, o envolvimento dos adultos pode ser determinante para a continuidade ou não dos enredos ou ainda, a ampliação de possibilidades do brincar, colocando-se como colaborador(a) nas ações das crianças. 

As crianças, assim como os adultos, também possuem as suas individualidades e especificidades, por estarem partilhando de espaços e relações também articulam-se entre si, constituindo-se sujeitos ativos que convidam ou não os adultos a fazer parte da sua brincadeira. O adulto por sua vez, quando está disponível para aceitar o novo e as oportunidades de se envolver com as crianças construindo uma relação com engajamento e continuidade  faz isso mediante um envolvimento direto ou de modos sutis, aproximando-se do grupo, criando estratégias de participação. 

A brincadeira é das crianças e elas são capazes de brincar sozinhas. Ocorre que, em algumas situações a presença dos adultos se faz mais necessária, geralmente quando falta um elo entre as crianças. Ou seja, quando as crianças sozinhas não conseguem criar vínculos para brincar, a presença adulta tem a função de despertar na criança a curiosidade e a vontade de envolver-se em alguma brincadeira, utilizando-se como recurso as informações sobre as preferências da criança, por exemplo. Embora relações como essas iniciam-se com um processo de brincadeira mais individual entre o(a) adulto(a) e uma criança, é importante que haja iniciativas para ampliar as relações, envolvendo outras crianças, de modo que novos vínculos sejam construídos. 

A presença do adulto nem sempre garante a construção dos vínculos entre as crianças para que as brincadeiras aconteçam. Nesse sentido, é importante conhecer a criança, para elaborar estratégias colaborativas com a equipe multiprofissional, considerando suas especificidades, suas preferências, suas formas de se comunicar e se relacionar no contexto da escola.

Esse trabalho é contínuo e não tem um tempo determinado para acontecer, em alguns casos precisa-se retomar reiteradas vezes os diálogos e as propostas até que os(as) parceiros de brincadeira se encontrem e consigam se auto organizar.   

Este texto é um começo! Fica o convite para que outras vozes possam somar-se a esta escrita.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Resolução CNE/CEB nº 5, de 17 de dezembro de 2009 – Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil.

FERREIRA, Manuela; TOMÁS, Catarina. A brincar, a brincar… lógicas e sentidos de futuras educadoras de infância (2014-2019). Educação. Santa Maria. v. 45, 2020. 

Disponível em <1984-6444-edufsm-45-e54739.pdf (fcc.org.br)>. Acesso em Mai.2024.

LÖFFLER, Daliana. Os movimentos de participação construídos por e entre bebês e crianças maiores em uma turma de berçário.  2019. Tese de Doutorado. 334f. Disponível em<Plataforma Sucupira (capes.gov.br)

LÖFFLER, Daliana; BELING, Vivian Jamile. Relatório final de projeto de pesquisa, número de registro 46451 (Não publicado). 2023. 

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