Nara Bigolin, professora da UFSM-FW, e suas filhas Natália e Mariana foram citadas na entrega do Prêmio Maryan Mirzakhani, durante a Olimpíada Internacional de Matemática (IMO), na Romênia. O Prêmio, que anteriormente se intitulava “Meninas Olímpicas”, agora homenageia Mirzakhani, a única mulher a receber o Nobel da Matemática (2014).
A premiação foi concedida pela primeira vez durante a IMO de 2017, no Brasil, como um reconhecimento especialmente voltado a meninas. A partir da edição da Romênia, passa a ser fixa nas Olimpíadas Internacionais de Matemática.
Antes de chegar nesse patamar, o Projeto Meninas Olímpicas teve uma caminhada de dois anos incentivando a participação de meninas em olimpíadas científicas. O intuito foi aumentar o protagonismo feminino nessas competições através do encorajamento de alunas do ensino médio.
O projeto surgiu após um estudo da professora Nara, em que se notou a pouca participação feminina nas olimpíadas de áreas exatas e, por consequência, poucas premiações de mulheres nas provas. Em 2016, houve no Brasil um treinamento para a Olimpíada Internacional de Matemática e dentre os 25 professores convidados, havia apenas uma mulher. Na Olimpíada Brasileira de Química no mesmo ano, de 10 alunos na delegação do Rio Grande do Sul, a única participante feminina era filha da professora Nara, Mariana Groff. Analisando dados como esses que o projeto foi criado e tem ajudado a aumentar o número de meninas nas delegações do estado e do país.
A professora Nara comenta que a baixa representatividade feminina é visível: “nas olimpíadas mais competitivas como matemática, física e informática, o percentual não chega a 5% de alunas que estão no ensino médio”. Há ainda, nesse baixo percentual, o chamado efeito tesoura. Quanto maior o nível de dificuldade da olimpíada, menor é a participação de mulheres – o que, segundo a professora, se deve à falta de incentivo e treinamento para garotas em competições científicas de alto nível.
Uma das frentes do projeto Meninas Olímpicas é o incentivo à criação de prêmios especiais para o público feminino participante. Em 2016, a Olimpíada Paulista de Matemática (OPM) foi a primeira a aderir a esse objetivo. Após a OPM, outras competições criaram premiação especial: a Olimpíada Internacional de Matemática (IMO); a Olimpíada Brasileira de Física (OBF); Olimpíada Brasileira de Física das Escolas Públicas (OBFEP);Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP); Olimpíada de Química de São Paulo (OQ-SP); a Olimpíada Brasileira de Biologia (OBB); a Olimpíada Brasileira de informática (OBI) e a Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM).
De acordo com a professora Nara, dessa forma se inicia a motivação das meninas, pois se sentirão capazes de representar seu estado e seu país nas olimpíadas. Além disso, incentiva a ir além dos prêmios voltados às participantes mulheres. Outra frente de trabalho que busca aumentar a representatividade no curto prazo é a admissão de um participante extra em equipes que contam com mulheres em sua composição.
O projeto já revela resultados mesmo em pouco tempo de atuação: a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) no Rio Grande do Sul apresentou visível crescimento na premiação de meninas. Em 2013, foram três premiadas, sete em 2015, e nove em 2017.
Os dados de mulheres destaques são baixos não apenas no âmbito estudantil, mas também em demais áreas da sociedade e é isso que o projeto quer transformar. “Fizemos uma média e em olimpíadas científicas temos apenas 10% de meninas premiadas. Na sociedade, temos 10% de mulheres eleitas, então nosso projeto vai além das olimpíadas, pois mudando aqui no início, mudamos o Brasil lá na frente”, afirma Nara.
Texto: Ariel Stival