A partir de uma percepção de escassez nas representações femininas, em especial negras e indígenas, no ambiente universitário, especialmente nas áreas de tecnologia, surge um novo projeto da UFSM. Trata-se do projeto GuriasTec que, em parceria com a rede pública de educação básica, visa atenuar essa defasagem por meio da construção coletiva. O projeto envolve dois grandes centros de ensino da UFSM, o CT e o CCNE, e quatro escolas públicas, todas localizadas em regiões periféricas. Recentemente, o projeto foi aprovado na chamada pública “Meninas nas Ciências Exatas, Engenharias e Computação” do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e terá financiamento do CNPq.
Com o objetivo de potencializar o protagonismo social de meninas e mulheres de escolas da periferia de Santa Maria, o projeto GuriasTec busca incentivar o interesse de alunas no ingresso, formação, permanência e ascensão em carreiras nas áreas de Ciências Exatas, Engenharias e Computação. O público de interesse são estudantes de escolas públicas do Ensino Fundamental e Médio, especialmente aquelas em situação de vulnerabilidade, com a finalidade de compartilhar experiências e aprendizados, difundindo o conhecimento das profissões científicas e tecnológicas em uma linguagem acessível.
Contexto de surgimento do projeto
Santa Maria é um polo de educação, com cerca de dez instituições de ensino superior. Dentre elas, a UFSM tem um lugar de destaque, por ser uma instituição pública, com infraestrutura, apoio socioeconômico e ensino de qualidade em diferentes áreas e níveis. Por isso, é dela que se espera o início de movimentos para transformação da realidade, com um olhar cuidadoso para as vulnerabilidades socioeconômicas e étnico-raciais. Dada a realidade de vulnerabilidade das regiões periféricas da cidade, é especialmente importante que, nessas regiões, as meninas sejam estimuladas a perceberem e a buscarem novas possibilidades; para que seja expandido o mundo em que elas se percebem fazendo parte e, por consequência, possibilitando a mudança de suas realidades educacionais e sociais.
Dentre os cursos da UFSM na área de Ciências Exatas (Matemática, Química, Física e Estatística), de Engenharias (Elétrica, Civil, Química, Mecânica, Ambiental e Sanitária, Produção, Controle e Automação, Acústica, Computação, Aeroespacial e Telecomunicações); de Computação (Ciência da Computação e Sistemas de Informação) e de Arquitetura e Urbanismo, apenas 29,85% dos ingressantes foram mulheres no período de 1970 até o momento.
Na análise curso a curso, é possível identificar que em alguns o percentual de mulheres ingressantes não chegou a 20% – o curso de Engenharia Mecânica tem o menor percentual (8% de ingressantes femininas). Mesmo no curso de Arquitetura e Urbanismo, que tem a maior procura por mulheres (cerca de 75% de ingressantes femininas no período analisado), as professoras enxergam a necessidade de uma mudança para além do ingresso, uma mudança estrutural na sociedade e nas instituições – o que justifica o seu engajamento no projeto.
Em relação à representatividade feminina nos departamentos didáticos, o Centro de Tecnologia possui em seu quadro docente apenas 28% de mulheres, enquanto que no Centro de Ciências Naturais e Exatas, considerando os departamentos de Estatística, de Química, de Física e de Matemática, é de apenas 35%. A representatividade de negras e indígenas é irrisória. Considerando que, para ingressar na carreira docente na Instituição é necessário um alto nível de escolaridade (doutorado) é possível perceber como o percurso é ainda mais complexo para as mulheres negras e indígenas.
Logo, o contexto aponta que ainda é necessário um esforço conjunto para a criação e/ou a consolidação de políticas e de estímulos que tornem as áreas em questão de interesse de atuação das meninas. Para além do ingresso delas na Educação Superior, seja ele pelo sistema de cotas ou universal, faz-se necessário minimizar as possíveis distorções, preconceitos e dificuldades oriundas de suas bagagens pessoais, de modo a não afetarem o seu desempenho acadêmico. Nessa conjuntura, ampliar a conexão da sociedade com a UFSM, em especial das meninas, se faz pertinente e urgente.
O projeto
O GuriasTec é uma iniciativa de docentes e técnicas administrativas em educação (TAEs) do Centro de Tecnologia (CT) e do Centro de Ciências Naturais e Exatas (CCNE) da UFSM. Atualmente, integra em sua equipe 23 servidoras das unidades de ensino já citadas e do Centro de Educação (CE), Centro de Ciências Sociais e Humanas (CCSH) e Coordenadoria de Ações Educacionais (CAED).
Além da equipe da UFSM, o projeto conta com a participação do Núcleo de Tecnologia Educacional Municipal de Santa Maria (NTEM) e das seguintes escolas municipais: Escola Municipal de Ensino Fundamental Diácono João Luiz Pozzobon, Escola Municipal de Ensino Fundamental Adelmo Simas Genro e Escola Municipal de Ensino Fundamental Pão dos Pobres Santo Antônio e Colégio Estadual Professora Edna May Cardoso.
A vigência do GuriasTec será de três anos, prevendo a oferta de 28 bolsas de estudo, destinadas a alunas dessas escolas, professoras da educação básica e discentes de iniciação científica, pós-doutorado e divulgação científica. O projeto também disponibilizará recursos para custeio, tendo em vista a recente aprovação do projeto na chamada pública nº 31/2023 do MCTI/CNPq.
Quanto aos resultados esperados, o projeto prevê além da parceria com escolas, NTEM e lideranças indígenas, a capacitação de pelo menos 20 alunas e 4 professores(as) da educação básica como multiplicadoras e influenciadoras sociais, dentre outros.
Texto por Subdivisão de Comunicação do CT/UFSM, com informações e imagens das gestoras do projeto GuriasTec.
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