O conhecimento gerado nas universidades é um bem de toda a sociedade, mas muitas vezes a informação não é disseminada e as pesquisas produzidas no âmbito acadêmico não são reconhecidas por quem está fora desse meio. É neste ponto que compreende-se a importância da divulgação científica. Ela tem o papel de democratização da informação e difusão do conhecimento científico para toda a sociedade.
Em julho, foi comunicado que a humanidade esgotou os recursos do planeta Terra em 2019, ou seja, está usando mais recursos do que a Terra consegue repor. Essa informação foi divulgada pela Global Footprint Network, uma organização que é responsável por calcular a “pegada ecológica” deixada pela humanidade no planeta. Existem diversas alternativas que podem diminuir esse impacto negativo causado na Terra, e elas surgem, também, de pesquisas realizadas nas instituições de ensino. Um exemplo é o Grupo de Pesquisa em Modelagem Hidroambiental e Ecotecnologias, do Centro de Tecnologia da Universidade Federal de Santa Maria, que tem foco no desenvolvimento e divulgação dos conhecimentos científicos e técnicos, integrando princípios da Engenharia e Ecotecnologia que são utilizados para reduzir os danos causados ao ecossistema.
Desde 2011 o Grupo, registrado no CNPq, desenvolve pesquisas sobre as Ecotecnologias – ciência que junta a ecologia com a engenharia e estuda métodos, dispositivos e técnicas de baixo custo, baseadas em dispositivos naturais. Entre as principais técnicas pesquisadas pelo grupo estão telhados verdes, paredes ou brise vegetal e biorretenções, e outras soluções de baixo custo que são aplicadas para melhorar as condições de vida na Terra.
“Nossa sociedade precisa adaptar as tecnologias existentes à realidade brasileira. Então, temos que levar em conta aspectos vegetais até aspectos ligados a cultura das pessoas, e como elas reagem ao verde.”
Segundo o coordenador do grupo de pesquisa, Prof. Dr. Daniel Allasia, as técnicas que pesquisam existem há décadas nos países desenvolvidos, mas no Brasil não são tão difundidas. Isso principalmente porque as técnicas não podem ser diretamente aplicadas aqui, já que o clima do Brasil é diferente do clima europeu e norte-americano. Além disso, no Brasil, técnicas verdes geralmente não funcionam porque precisam de manutenção preventiva e sazonal, algo que não é um hábito entre nossa população. Tendo isso em vista, um dos estudos do grupo é tentar encontrar e desenvolver tecnologias que se apliquem à realidade brasileira.
A mestranda em Engenharia Civil na área de recursos hídricos, Bruna Minetto, entrou no grupo durante a graduação e trabalhou diretamente na modelagem hidrológica, monitorando dois telhados verdes. O telhado verde consiste em uma proposta sustentável arquitetônica que busca aplicar solo e vegetação sobre estruturas de cobertura impermeável. “Ele não só adiciona um aspecto de paisagismo, como também ameniza a temperatura servindo como um isolamento térmico”, diz. A participação de Bruna nessa pesquisa foi decisiva, ela continuou desenvolvendo a parte de modelagem no trabalho de conclusão de curso e agora, na pós-graduação, segue trabalhando nisso, mas na linha de cidades inteligentes.
Além dos telhados verdes existem outras técnicas aplicadas:
- Bacia de evapotranspiração ou fossa bananeira: sistema de tratamento de esgoto doméstico que impede a infiltração do efluente no solo. Pode ser feita de bananeira, mamoeiro ou qualquer espécie de folha larga que tem uma grande evapotranspiração. O esgoto é utilizado como alimento para as plantas. Os frutos são testados e livres de qualquer contaminação possível.
- Biorretenção: estrutura que recebe o escoamento de água e acumula os excessos, formando poças que se infiltram gradualmente no solo, auxiliando o sistema de drenagem a trabalhar dentro de sua capacidade mesmo durante os picos de precipitação.
- Brise vegetal: estruturas utilizadas para reduzir a incidência direta de radiação solar nos interiores de um edifício, diminuindo a necessidade do uso do ar-condicionado.
Essas técnicas são aplicadas em um protótipo de uma casa sustentável que foi desenvolvida no projeto Casa Popular Eficiente, coordenado pelo professor Marcos Alberto Oss Vaghetti, em parceria com a Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). A casa fica localizada no Centro de Eventos, e foi construída com todos os recursos sustentáveis disponíveis, visando mostrar que é possível construir moradias de baixo custo e inteligentes considerando as questões ambientais.
De acordo com a multinacional inglesa Arup, estima-se que nos próximos anos 400 bilhões de dólares serão investidos nos países emergentes, melhorando o conceito de cidades inteligentes. “Quem tiver essa tecnologia, além da melhoria da qualidade de vida dos seus cidadãos, vai dominar uma tecnologia que é estratégica sob qualquer ponto de vista. E ela pode gerar recursos para o país, diminuir a importação, criar centros e pólos de desenvolvimento. E a UFSM pode ser um desses pólos de desenvolvimento”, salienta o professor Daniel.
A graduanda do nono semestre de Engenharia Sanitária e Ambiental, Fabiana Pimentel, iniciou no grupo como voluntária no projeto de pesquisa de um mestrando e salienta a importância de atividades extracurriculares: “O grupo foi o lugar que eu me encontrei dentro do curso. Nós estudantes da graduação sempre temos a dúvida se essas horas de dedicação compensam, porque é uma carga horária extra. Querendo ou não às vezes é cansativo, mas compensa muito pela experiência e pelo conhecimento”.
Para entrar no grupo basta contatar um dos professores. Após o entrar em contato, eles analisam as aptidões dos estudantes e as necessidades do grupo. Quando surge oportunidade de bolsa, é lançado um edital específico. Atualmente, com os cortes de verba, não há disponibilidade de bolsas de iniciação científica (IC’s) e de pós-graduação. O professor Daniel reitera que 90% dos mestres e doutores do grupo de pesquisa já foram IC’s, e que os IC’s fazem parte de quase todas as publicações de impacto em revistas internacionais e nacionais, e participam de quase 100% da publicação em eventos.
Para saber mais sobre o Grupo de Pesquisa em Modelagem Hidroambiental e Ecotecnologias acesse o site ou a página do facebook.
Texto por Jéssica Medeiros, acadêmica de Jornalismo – Divulgação Institucional do CT/UFSM. Revisão por João Ricardo Gazzaneo, Jornalista – Unidade de Comunicação Integrada da Reitoria/UFSM.
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