No último dia 24, comemorou-se o Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais (Libras), que no Brasil, desde o ano de 2002, é reconhecida pela Lei n. 10.436. A Libras se constitui como uma ferramenta essencial para a inclusão de pessoas surdas. Diante disso, sendo o Centro de Educação da UFSM (CE) uma unidade de ensino formadora de profissionais atuantes na área da Educação de Surdos, pelos cursos de Educação Especial, no intuito de instigar a visibilidade ao tema, a equipe de comunicação do CE apresenta um breve panorama atual sobre as principais conquistas e desafios a partir da aprovação da lei. Para isso, foram consultadas sobre o assunto as professoras Liane Camatti, chefe do Departamento de Educação Especial; Giovana Fracari Hautrive, coordenadora do curso de Educação Especial Diurno; e Glaucimara Pires Oliveira, coordenadora do curso de Educação Especial Noturno. Cada uma delas trouxe um pouco de suas experiências e pontos de vista acerca da temática, levando em conta suas trajetórias formativas e na qualidade de lideranças institucionais, em constante contato com o público-alvo da referida lei.
Num primeiro momento, foi abordada a questão das conquistas alcançadas. Nesse sentido, as professoras Liane e Giovana foram categóricas ao assertar que a conquista primordial foi a visibilidade dada à Libras e às pessoas surdas perante à sociedade. Elas passaram a ter mais oportunidades, sobretudo a partir do movimento de compreensão do sujeito surdo para além da tradicional visão da Educação Especial. Liane alegou que o acesso ao profissional Tradutor/Intérprete de Libras foi um direito fundamental reconhecido pela legislação. Para Giovana houve uma transformação na perspectiva de visão social, isto é, o discurso amparado na deficiência está se modificando para outro baseado na diferença linguística e cultural. De acordo com Glaucimara, o reconhecimento oficial da Libras, enquanto meio legal de comunicação e expressão no país, foi a principal conquista dos últimos anos, principalmente por trazer à universidade uma exigência que era atribuída principalmente às escolas de ensino básico.
Alhures, quanto aos desafios a serem superados, a professora Liane argumentou que ainda é preciso ressignificar coletivamente a Língua Brasileira de Sinais e os processos de escolarização das pessoas surdas, uma vez que a lei trouxe à tona diversas lacunas que aumentaram o debate na academia. As principais fragilidades percebidas estão relacionadas aos processos de escolarização na rede básica de ensino, bem como os encaminhamentos de crianças pequenas, a partir do diagnóstico da surdez. A professora Giovana salientou que, pela insuficiência de professores e intérpretes para atuar na área, a surdez infantil (e todo seu contexto de convivência) acaba sendo encarada pelas famílias, num primeiro momento, apenas como uma questão de saúde. O encaminhamento inicial da criança, em diversos casos, acaba sendo patológico e clínico, sem considerar de forma adequada a questão da acessibilidade logo no início, com o uso da língua de sinais e o acompanhamento por intérprete. Isso acaba por potencializar a possibilidade de prejuízo ao desenvolvimento da criança. A professora Glaucimara corrobora nessa perspectiva e complementa ao expor a necessidade de avanços nos currículos escolares e acadêmicos, com a formação de mais profissionais aptos para o uso e ensino de Libras e a inserção da língua de sinais nas diferentes esferas públicas da educação, pois muitos alunos surdos chegam à universidade sem o domínio da sua primeira língua.
Portanto, como se depreende das manifestações trazidas pelas professoras do CE, a Língua Brasileira de Sinais é fundamental para a comunicação plena de pessoas surdas e para a democratização do acesso ao universo do trabalho, familiar, cultural e social. E o CE, como um polo de formação de professores atuantes nessa área, inclusive com a presença de docentes surdos altamente qualificados que formam outros formadores, é uma referência institucional e nacional nesta matéria, principalmente pelo engajamento e representatividade da comunidade acadêmica.