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Mulheres inspiradoras: Mulheres que inspiram outras mulheres



Neste 8 de março, dia Internacional das Mulheres, buscamos contar as histórias de mulheres que inspiram, pelas suas histórias de vida, trajetórias profissionais e pela força que cada uma delas possui para enfrentar os desafios do cotidiano, e desta forma, fortalecemos a rede de apoio entre essas mulheres. 

Ser mulher é viver uma luta constante, contra o preconceito, a desigualdade, a desvalorização, a sobrecarga e combater diariamente a necessidade de legitimação e aprovação do outro.

Diretora do CCSH e docente do Departamento de Serviço Social

Nasceu em Ibirubá, cidade do interior do Rio Grande do Sul. Cercada pelo patriarcado enraizado e pela cultura caracterizada pela presença masculina em espaços de autoridade, Sheila encontrou em sua mãe o exemplo de liderança feminina: “Sempre tive a presença da minha mãe que exerceu na maior parte da sua vida cargos bem relevantes dentro do espaço que ela trabalhava, era uma das poucas mulheres que ocupavam cargos de destaque dentro desse cenário. Em muitos momentos eu a via sozinha como mulher no cargo de gestão, e então vi a possibilidade de que as mulheres também poderiam ocupar espaços de gestão, afinal ela se destacava dentro desse cenário”. 

Durante sua trajetória profissional Sheila assumiu um perfil de gestão em coordenações de cursos e na direção da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis da Unipampa, atualmente é a primeira mulher eleita como Diretora do Centro. “Nessas últimas eleições aconteceu uma reconfiguração, na qual o CCSH e os outros Centros passaram a ter a presença mais forte de mulheres à frente da gestão. Começamos a ver essa transformação não só no discurso, mas no cotidiano, na interferência das decisões, na capacidade de conduzir os processos de trabalho do qual em muitos momentos estivemos em segundo plano” – afirma a docente. A diretora conta que existiram dificuldades quando se candidatou ao cargo, “Considero como uma etapa que estamos conseguindo superar um outro tempo histórico, que com o ingresso de muitas mulheres na gestão me transmitiu um aconchego”.  

Sheila acredita que essa representatividade de mulheres em posições de liderança demonstra a luta pela equidade que buscamos, a presença feminina também inspira outras mulheres, de que todas podem realizar tudo que desejam. “Até uns 20 anos atrás havia uma cisão entre o que era o lugar de mulher e de homem, hoje acredito que está demarcação não existe com tanta força. Na Universidade se espera que não haja essa diferenciação, que ambos terão características diferentes e estão aptos e são competentes para exercer esse papel”.

“Muitas vezes há um nível de segregação entre as próprias mulheres, precisamos nos reconhecer todas como mulheres, para constituir uma rede de apoio fortalecida”.

Chefe da Secretaria Integrada de Graduação III

A servidora Técnico-Administrativa em Educação (TAE), sócia fundadora do Grupo de Apoio e Incentivo a Adoção (GAIA) e coordenadora do projeto de Extensão Esperançando, Alice Farias, participa ativamente na luta pelos direitos dos jovens em situação de adoção. Mãe de dois filhos, Alice explica como ingressou no GAIA e sua motivação para participar do grupo: “Meus dois filhos chegaram pelas vias da adoção, tudo o que eu faço e desempenho hoje é em função deles. Em 2010 quando minha filha chegou para nós, eu morava em Alegrete. Quando vim para Santa Maria, em 2012, me inseri no GAIA – que estava iniciando na cidade – em função dela, porque eu estava nesse processo da maternidade pela adoção, que eu sabia que iria ter muitos desafios no decorrer”.

Com apoio da docente Luciana Traverso, e da servidora da Proplan, Elisete Kronbauer, Alice criou o projeto Esperançando, ação que auxilia na autonomia de jovens de 14 a 20 anos que moram ou já deixaram instituições de acolhimento. “Quando fundamos o GAIA comecei a visualizar outras questões, não só do mundo adotivo, mas do mundo dessas crianças que vivem nos acolhimentos em busca de uma adoção ou que não conseguem uma família adotiva, e estão lá naquele mundo invisibilizadas. Então do GAIA, eu parti para o Esperançando e hoje vendo o desenvolvimento do projeto e tudo que conseguimos fazer, me deixa muito realizada como profissional. Os meus filhos foram a inspiração para eu estar desenvolvendo esse projeto”.

Segundo ela, tanto no ambiente profissional quanto na sua atuação no projeto de extensão existe uma rede de apoio entre as mulheres que motivam umas as outras, “Não é fácil ser mulher, porque temos que ser trabalhadoras, mães, e dar conta de todas as atividades que fazem parte da nossa vida, como a atenção na família, as responsabilidades dentro do trabalho. Acho que conversando entre as colegas servidoras, nós conseguimos nos apoiar, e ver que não estamos sozinhas, essa conversa entre colegas é importante para nos fortalecer”. 

Por ser mãe de menina, Alice afirma que busca ensinar a sua filha sobre seus direitos como mulher e desta forma busca desconstruir esses estereótipos construídos por todos esses anos. “Eu preciso que ela veja os direitos dela e que ela não precisa aceitar tantas coisas que as mulheres no passado aceitavam, em virtude de toda a sociedade. É uma luta diária para desconstruir uma coisa que há anos é construída”. 

“Ter professoras mulheres ministrando aulas e desenvolvendo seu trabalho, mostra a força da mulher – dentro da educação quanto da sociedade – para incentivar outras mulheres a seguir qualquer carreira que queiram” 

 

  Docente do Departamento de Ciências Administrativas

Natural de Joaçaba, interior de Santa Catarina, Luciana, se formou em Letras (Português/Inglês) pela Universidade do Oeste de Santa Catarina, após ter concluído a graduação em Tecnólogo em Hotelaria e mestrado em Turismo e Hotelaria. Filha de uma mãe professora e um pai veterinário, Luciana conta que desde cedo seus pais não queriam mais professores em casa “Acabei fazendo hotelaria para trabalhar com empresas, pois não ia ser professora, mas acabei efetivamente em uma sala de aula, fazendo mestrado, doutorado e trabalhando com a parte de gestão. Venho para cidade e começo a trabalhar na Universidade Pública, e aqui em Santa Maria fiz muitos amigos e construí uma vida muito diferente de onde eu vinha”.

Mãe da Maria Eduarda, de 10 anos, Luciana decidiu se tornar mãe solo por meio da adoção quando, mesmo com a preocupação da família, enfrentou as dificuldades e encontrou uma rede de apoio na cidade, “Qualquer coisa que eu preciso eu tenho uma rede de apoio grande aqui em Santa Maria, apesar de vivermos só nós duas, eu nunca me senti sozinha. E eu sempre peço ajuda, então se acontecer alguma coisa eu tenho para quem ligar”. De acordo com Luciana, ser mulher na sociedade é matar um leão por dia e, apesar disso, as mulheres encontram uma nas outras o apoio para enfrentar os desafios e preconceitos velados, e esse acolhimento é importante para que todas consigam se manter de pé, “Eu vejo nas mulheres que quando estamos cansadas, exaustas, ainda temos um toque de ‘senta aqui, vamos conversar’, aquela sororidade de uma abraçar a outra”. Afirma ainda que entende que por ser servidora pública vive em uma situação confortável, porém, quando olha para realidade do mundo, percebe que as dificuldades aumentam em cada contexto que essa mulher está inserida.

Luciana procura carregar o lado positivo e os aprendizados que serão construídos através das dificuldades enfrentadas pelo caminho, “Os problemas vêm para nos ensinar, então quando aprendemos a lição ela não se repete, e se não aprendemos ela segue se repetindo. Às vezes temos vários medos que carregamos, precisamos ir deixando-os para que venha um novo aprendizado e uma nova fase, então eu recomeço assim.”

“Precisamos dessas mulheres exercendo a profissão, em cargos de liderança. E que possamos realmente ter um olhar mais inclusivo para o ser humano, afinal de contas ao entrar numa universidade pública a proposta é justamente contribuir para que a possamos evoluir enquanto sociedade, precisamos ser uma sociedade melhor”.



Coordenadora do Curso de Publicidade e Propaganda e Docente do Departamento de Ciências da Comunicação

Natural de Natal, Rio Grande do Norte, a docente do Departamento de Ciências da Comunicação, Milena Freire, participa ativamente na luta pela igualdade de gênero e social, pelos direitos das mães universitárias e pesquisadoras. “Na minha história me reconheço como mulher pelo meu percurso profissional associado à maternidade. Sempre tive interesse no campo das ciências sociais, e no momento em que me tornei mãe as questões do feminismo me caíram no colo. Apesar de reconhecer o meu privilégio, afinal precisei de 30 anos para perceber as desigualdades de gênero na prática. Depois de ter uma filha mulher tive o olhar, no ‘como você educa uma mulher para que ela seja sensível e que tenha uma percepção aguçada para colocar limites, e falar suas vontades”. A docente busca fomentar o debate na sala de aula estabelecendo relações que respeitem a pluralidade. 

A docente pesquisa e trabalha com seus alunos sobre a inviabilização dos trabalhos domésticos – que por não ser remunerado é desvalorizado pela sociedade -, das desigualdades encontradas pelas mulheres dentro do campo científico, principalmente quando a maternidade começa a fazer parte de suas vidas, além de questionar os critérios, prioritariamente produtivista, “vale o quanto você produz”, para os pesquisadores nesse ambiente acadêmico. “Esse mecanismo ignora as outras dinâmicas da vida privada, que fazem parte culturalmente da vida especialmente das mulheres. Então quando uma mulher ocupa determinada posição é importante olhar de perto para a história dessa pessoa, para entender a que custo ela consegue fazer um malabarismo para se manter ali, qual o custo para a manutenção dessa produtividade”.

Milena afirma que é importante ter mulheres em cargos de liderança, porém é preciso pensar sobre a trajetória e os desafios que essa mulher teve que enfrentar ao longo do caminho: “Essas mulheres que hoje ocupam esses lugares normalmente vem de uma longa trajetória, e muitas vezes passam pela desigualdade dentro do meio acadêmico. Para que elas entendam a importância da manutenção dessa luta desde a graduação, e pelos seus espaços no mercado de trabalho”.

“Depois de ter uma filha mulher tive o olhar, no ‘como você educa uma mulher para que ela seja sensível e que tenha uma percepção aguçada para colocar limites, e falar suas vontades”.

Chefe do Núcleo de Gestão Orçamentária

Nascida em Santa Maria de uma família humilde, com poucas oportunidades, Fabiane foi a primeira da família a se formar no Ensino Superior. Ingressou na UFSM como Assistente em Administração em 2021 e se tornou Chefe do Núcleo de Gestão Orçamentária (NOR) em 2023. Ela acredita que ser mulher na sociedade é inspirar as outras pessoas a vencer os desafios, se tornar um bom exemplo para outras mulheres, “hoje em dia temos que nos provar cada vez mais, que somos capazes, porque a sociedade ainda é muito machista, então uma mulher no poder causa um impacto diferente. E as mulheres precisam  comprovar a capacidade de estar no poder”.

Fabiane acredita que é importante que mulheres ocupem espaços de liderança, pela inspiração e o que elas podem representar para outras mulheres que almejam determinada profissão, para que elas percebam que é possível. Durante sua trajetória profissional, a chefe do NOR enfrentou dificuldades e sentiu a pressão da sociedade: “O fato de ser mulher negra me criou alguns obstáculos, além de tu se provar por ser mulher, tem que provar o teu profissionalismo, a tua capacidade. O fato de ser negra, traz um peso ainda maior, porque a maioria das pessoas tende a menosprezar”. Ela complementa afirmando que se considera uma pessoa privilegiada por ter o reconhecimento profissional, porém infelizmente não é uma realidade na maioria dos lugares, “sou uma exceção porque a grande maioria das mulheres negras ainda são discriminadas, por serem mulheres e por serem negras, assim passam por obstáculos ainda maiores que as demais mulheres”.

De acordo com Fabiane, as mulheres, principalmente na direção do centro, são bem unidas e ajudam umas às outras, e assim se forma essa rede de apoio e acolhimento. Mãe de uma filha, a chefe do núcleo comenta sobre a chegada da maternidade: “A maternidade me ensinou a ser uma pessoa melhor em todos os sentidos, e principalmente de ser mulher e mãe de uma filha mulher me dá um comprometimento ainda maior com o futuro da minha filha, e deixar um mundo melhor para ela e ensiná-la desde pequena a importância dela ser uma mulher de força e correr atrás do que ela acredita, assim como eu fui criada”.

“O fato de ser mulher negra me criou alguns obstáculos. Além de tu se provar por ser mulher tem que provar o teu profissionalismo, a tua capacidade. O fato de ser negra, traz um peso ainda maior, porque a maioria das pessoas tende a menosprezar, então, tu tem que provar o que tu é, e por ser mulher e negra a provação é dupla”.

Também buscando uma reflexão sobre as mulheres inspiradoras que encontramos na nossa jornadas, a Biblioteca Setorial do CCSH integra-se ao 8M. A partir do mural “Fortalecendo o que nos pertence”, que conta com personalidades femininas marcantes, convidamos nossa comunidade para conhecer as obras de algumas personalidades presentes no painel que estão disponíveis para empréstimo na BSCCSH. O mural foi inaugurado também para o 8M, no ano de 2018!

As obras destacadas estão no expositor durante todo o mês de março! Venha conferir e mergulhe na inspiração dessas mulheres extraordinárias!

Texto por: Júlia Almeida

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