O Departamento de Psicologia da UFSM promove ações de atendimento psicológico para a comunidade, por meio da Clínica de Estudos e Intervenções em Psicologia (CEIP). Criada em 2001 como Serviço de Atendimento Clínico-Institucional (SACI), o objetivo é dar suporte para os estágios básicos e específicos do curso de Psicologia, oferecer atendimento à comunidade e aos servidores e discentes da Universidade, e apoiar os projetos de ensino, extensão e pesquisa desenvolvidos no curso. Em 2015, a clínica ganhou um novo espaço físico no prédio 74 B no campus.
Os atendimentos realizados por meio da abordagem Terapia Clínico-Cognitiva (TCC) tem uma metodologia de ensino que possibilita o estágio curricular dos discentes de Psicologia em um momento menos tardio do curso. Por meio dele, os participantes passam por uma fase de observação e discussão dos casos, além de produções científicas em grupos de pesquisa, para então participarem das consultas na prática. A CEIP conta com uma sala-espelho, que tem um vidro espelhado que permite aos participantes assistirem ao atendimento enquanto o mesmo ocorre. Com a preparação e prática, os discentes têm um contato direto com diferentes abordagens da terapia sem ter que esperar o período de estágio final nos últimos anos do curso.
As consultas são disponibilizadas para a comunidade por meio de formulários divulgados no site oficial da CEIP e nas contas do Instagram individuais dos projetos.
Vamos apresentar três projetos de extensão do curso de Psicologia que são apoiados pela Clínica de Estudos e Intervenções:
Raio-X
Número registro: 052984
Coordenação: Clarissa Tochetto de Oliveira
Objetivo Geral: Prevenir e tratar quadros psicopatológicos de adultos por meio da aplicação do conhecimento científico às necessidades dessa população.
Linhas de extensão: Saúde
Período de realização: 19/10/2019 a 01/03/2025
ODS: 06
O CliniCog é um projeto de Psicologia Clínica com a abordagem TCC desenvolvido no departamento, e foi criado pela docente do Departamento de Psicologia e coordenadora do Laboratório de Avaliação e Clínica Cognitiva (LACCog), Clarissa Tochetto. O foco principal é a prevenção e o tratamento de psicopatologias em adultos, que são atendidos por discentes da graduação, pós-graduação, e pela docente. Segundo Clarissa, “quadros psicopatológicos” consistem em uma série de transtornos mentais como: depressão, ansiedade, transtornos alimentares, de personalidade, de neurodesenvolvimento, transtornos neurocognitivos, ou por uso de substâncias.
Os participantes também participam da organização do projeto e de outras ações de extensão, palestras e produção de cartilhas. Uma dessas ações foi a organização do evento Clinitalk: Saúde Mental Além da Clínica, com palestras realizadas nos dias 15 e 22 de junho de 2023. “Tivemos uma grande procura para participar deste evento, então vemos que tem muita gente interessada no assunto da saúde mental. Apesar de Santa Maria ter 5 cursos de Psicologia, ainda assim parece que existe uma carência para tratar desses assuntos”, explica Clarissa. Os discentes podem utilizar o conhecimento adquirido nos casos que atendem e nos que são discutidos no grupo de pesquisa para a produção de trabalhos em eventos e artigos, preservando o anonimato dos pacientes.
A docente relata que muitas pessoas da comunidade seguem o projeto nas redes sociais com a expectativa de conseguir vaga para atendimento psicoterápico, mas que nem sempre a equipe e a carga horária são suficientes. “Eu gostaria de atender mais pessoas pelo projeto, mas isso depende da disponibilidade de horário da equipe para as consultas, planejamento e supervisão dos casos”, conta a coordenadora.
Por isso, o projeto pretende desenvolver mais ações de atendimento em grupo. Em 2022 foi realizado um grupo para atendimento de estudantes universitários com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade), e esse ano pretendem estender para a consulta de crianças com TDAH. “E ao mesmo tempo que as crianças são atendidas, os pais receberão uma psicoeducação em outra sala com outro integrante do projeto”, explica a docente. Clarissa ainda reforça a necessidade das iniciativas de atendimento à comunidade: “Não há amplo acesso à psicoterapia pela saúde pública. O objetivo final do projeto é ampliar o acesso à saúde mental e a serviços gratuitos e de qualidade”.
Raio-X
Número registro: 057769
Coordenação: Samara Silva dos Santos
Objetivo Geral: Desenvolver ações direcionadas à comunidade de Santa Maria para promoção à saúde, prevenção de enfermidades e intervenções terapêuticas e psicoterapêuticas que colaborem para o cuidado de situações de sofrimento, por meio de um conjunto de práticas e atividades que envolvem atendimento direto à população.
Linhas de extensão: Saúde
Período de realização: 05/04/2022 a 05/04/2024
ODS: 03, 04
De acordo com a coordenadora da iniciativa e docente do Departamento de Psicologia, Samara Silva dos Santos, o projeto foi registrado em 2019 com o objetivo de desenvolver ações direcionadas à comunidade de Santa Maria, para promover a saúde, prevenção de enfermidades, intervenções terapêuticas e psicoterapêuticas que colaboram para o cuidado de situações de sofrimento.
O atendimento é realizado principalmente para crianças, e a maior parte dos casos são de autismo e síndrome de Down. Há também uma parceria com a escola Ipê Amarelo, da UFSM, pela qual é encaminhada parte da demanda dos pacientes. “Conhecemos um pouco da fragilidade da rede de atendimento às crianças na cidade, no sentido de equipamento, de profissionais, de uma alta demanda que a rede tem dificuldade em absorver”, explica Samara.
A docente relata que o atendimento de crianças é um desafio à parte, pois traz dificuldades distintas comparado aos outros tipos de consultas. ”O atendimento com crianças tem uma certa imprevisibilidade, ele é da ordem do inesperado, então a gente precisa estar minimamente preparado para tudo que pode acontecer”. Samara esclarece que muitos dos pacientes estão desde o início do projeto, e que a maioria não receberá alta pois são casos que necessitam de um olhar contínuo.
O projeto possibilita não apenas que os discentes da graduação tenham contato direto com a Psicologia Clínica, mas também com o atendimento de crianças e as necessidades específicas dessa modalidade. “Isso às vezes assusta os participantes, eles ficam com receio de que vai acontecer alguma coisa que eles não vão saber como lidar. Então é bem interessante a possibilidade de experienciar de fato as coisas e poderem reduzir um pouco essa insegurança”, conta a coordenadora.
Raio-X
Número registro: 051343
Coordenação: Caroline Rubin Rossato Pereira
Objetivo Geral: Promover atendimentos psicológicos clínicos para famílias com que no momento estão passando por situações de conflitos familiares, fornecendo suporte para o manejo das dificuldades decorrentes dessa situação.
Linhas de extensão: Saúde
Período de realização: 13/03/2018 a 13/03/2024
ODS: 03
Voltado para o atendimento de famílias e casais, o projeto é coordenado pela docente do Departamento de Psicologia, Caroline Rossato. As consultas seguem a abordagem sistêmica, que é uma forma de terapia não individual. “A teoria sistêmica é uma outra proposta com o objetivo de trabalhar as relações. Então não tem um foco no indivíduo, ela tem uma proposta de olhar para a família como um todo, ou para o casal”, explica Caroline. O atendimento é realizado por uma dupla de terapeutas, formado por um discente da graduação e um psicólogo da pós-graduação.
A abordagem sistêmica é um formato de terapia complexa, pois nem sempre todos os envolvidos querem participar, os horários são difíceis de conciliar, e o terapeuta assume uma posição de mediador para tornar o encontro produtivo para todos. “O terapeuta vai tentar ajudar as pessoas a aprender maneiras de se comunicar que sejam construtivas, de expressar suas necessidades e pensar alternativas”, destaca a coordenadora.
Por meio do projeto, os participantes têm contato com um formato de terapia que nem sempre conseguem praticar durante o curso, mesmo no estágio obrigatório. “Eu vejo também que é delicado para o discente que é mais jovem lidar com essas situações que sempre são difíceis. Por isso que a gente tenta estar muito próximo sempre, discutindo muito os casos. Mas eu acho que é um desafio dar conta da complexidade e da seriedade que é”, relata Caroline.
A docente conta que no momento sete grupos, entre famílias e casais, estão sendo acompanhados pelo projeto, e comenta a importância da terapia sistêmica: “Se relacionar não é uma tarefa fácil, vira e mexe as famílias encontram alguma situação mais crítica. Mas quando tem alguma psicopatologia, ou alguma deficiência ou transtorno de um dos membros, isso é um fator de estresse para toda família”.
Dessa forma, o Enlaces possibilita o contato dos discentes da Universidade com a terapia de famílias e casais, além de amparar a demanda da comunidade para esse tipo de atendimento específico. “O objetivo é fornecer a terapia familiar para a comunidade, e como oportunidade para os nossos discentes da graduação e da pós-graduação”, completa Caroline.
Terapia Clínico-Cognitiva (TCC) – é uma abordagem de tratamento psicológico, baseada na ideia de que pensamentos, emoções, sensações corporais e comportamentos estão conectados.
Psicopatologias ou quadros psicopatológicos – A psicopatologia trata da natureza essencial da doença mental — suas causas, as mudanças estruturais e funcionais associadas a ela e suas formas de manifestação. Exemplos: depressão, ansiedade, transtornos alimentares, de personalidade, de neurodesenvolvimento, transtornos neurocognitivos, ou por uso de substâncias.
TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade) – É um transtorno neurobiológico de causas genéticas, caracterizado por sintomas como falta de atenção, inquietação e impulsividade. Aparece na infância e pode acompanhar o indivíduo por toda a vida.
Autismo – O transtorno do espectro autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades.
Síndrome de Down – A Síndrome de Down é uma alteração genética causada por uma divisão celular atípica. As pessoas apresentam características como olhos oblíquos, rosto arredondado, mãos menores e comprometimento intelectual.
Abordagem/terapia sistêmica – A Terapia Sistêmica é uma abordagem terapêutica que observa o sujeito em seu meio, normalmente a família. Não o considera isoladamente, mas no sistema em que se criou e vive. Possibilita uma visão mais ampla do sujeito, das relações, das dificuldades, dos problemas e das soluções.
Texto por: Giulia Maffi