“Estou salvando meu gado nesta seca”, comemora o produtor rural Laurindo Beling, de Agudo, se referindo à utilização do sistema silvipastoril, que propicia a integração lavoura-pecuária-floresta. Na propriedade de 59 hectares onde cria angus e planta soja, ele tem duas áreas de plantio de eucaliptos que totalizam 15 hectares. Segundo ele, as árvores protegem tanto do calor quanto do frio, com faixas de sombreamento.
Já a produtora Sandra Gomes Brum, de Tupanciretã, destaca que nas duas áreas que têm com este sistema, totalizando cinco hectares, buscou a recuperação do solo e sombra para os animais. “Nós presenciamos nestes dias muito quentes os animais na sombra e isto é uma proteção. E no inverno também, as acácias protegem o gado dos ventos frios e da geada”, declara. Além dos animais, o pasto também fica protegido tanto do sol quanto da geada, afirma. Sandra optou pelo plantio da acácia negra, porque auxilia no aumento da matéria orgânica do solo e tem crescimento rápido.
O produtor de Barra do Ribeiro, Pedro Feijó, implantou o sistema silvipastoril há dois anos em uma área de sete hectares. “Esse sistema eu acredito que não tenha mais volta com esta integração, porque o animal fica comendo na sombra, num lugar que traz benefícios pra ele”, afirma. A ideia do produtor é ampliar em mais um hectare com plantio de eucaliptos.
“É uma grande oportunidade para o produtor minimizar os efeitos da estiagem, porque se cria um microclima na parte do sub-bosque, que reduz em média oito graus a temperatura, trazendo o bem-estar para os animais e alívio para a pastagem. Além disso, é um sistema com enorme potencial de sequestro de carbono devido à presença de árvores”, diz o Engenheiro Florestal Jackson Brilhante, coordenador do Comitê Gestor Estadual do Plano ABC+ da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi). O plano tem como objetivo promover a adaptação à mudança do clima e o controle das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) na agropecuária brasileira, com aumento da eficiência e resiliência dos sistemas produtivos.
A coordenação do Comitê Gestor Estadual do Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC+), juntamente com a Emater e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), esteve visitando, no final de janeiro, produtores de três municípios da região central do estado que utilizam o sistema silvipastoril. O objetivo da visita foi avaliar e discutir com os produtores rurais o desempenho deste sistema neste período de seca.
O Professor do Curso de Engenharia Florestal da UFSM, Jorge Farias, constata que “o que estamos observando é a perfeita harmonia de crescimento de árvores e de pastos, com ganhos para ambos. Crescimento muito acima da média das árvores, crescimento de qualidade da pastagem e agora neste ano em que estamos passando pelo terceiro ano de estiagem no Rio Grande do Sul, o produtor tem relatado que onde o pasto está menos degradado, menos sofrido, é no sistema silvipastoril”.
Para Farias, vários conceitos estão sendo revistos com a adoção deste sistema. “O que nós estamos vendo, na prática, é que a floresta não prejudica a pastagem, que a floresta maximiza o uso do solo sem prejuízo da pastagem, que o sistema garante um melhor fluxo de renda, que é possível a manutenção da pecuária mesmo durante a estiagem e que as florestas representam carbono”. O trabalho é desenvolvido pela UFSM em parceria com a Embrapa e a Emater.
A regional de Santa Maria da Emater atende hoje 40 propriedades com este sistema silvipastoril. O primeiro município a implantar este sistema foi Nova Esperança, em 2005. “Produtores rurais, técnicos e pesquisadores vêm observando a persistência da pastagem verde e crescendo, mesmo com muitos dias de falta de chuvas, resultando reserva de forragem em pé para os animais se alimentarem satisfatoriamente e persistirem na produção de leite e engorda, mesmo em momentos de crise como a que vivemos desde novembro de 2022”, destaca o engenheiro florestal da Emater, Gilmar Deponti. Além da Emater Santa Maria, outras 12 regionais vêm desenvolvendo trabalhos de incentivo à implantação do sistema silvipastoril.
“Os produtores que visitamos estão muito satisfeitos, pois o sistema além de minimizar os impactos da estiagem na produção de leite e de carne, também contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa no setor agropecuário gaúcho”, destaca Jackson. Segundo ele, o estado deve incentivar a adoção desse sistema de produção como uma estratégia de médio e longo prazo para minimizar o impacto da estiagem na produção pecuária gaúcha.
Notícia elaborada pela jornalista MARIA ALICE LUSSANI.