As serpentes ou cobras, como são popularmente conhecidas, são animais alongados, desprovidos de patas, pálpebras móveis e orelhas. Com um corpo escamoso e um tanto esquisito, são parentes próximas de jacarés, tartarugas, lagartos e, surpreendentemente, até das aves. Ainda que o formato geral do corpo de uma serpente não seja muito variável, dentre as mais de 3.700 espécies do mundo, algumas chamam a atenção por suas peculiaridades, como as grandes sucuris (Eunectes spp.), e seu tamanho colossal, as cascavéis (Crotalus spp.) e seu icônico chocalho ou mesmo as coloridas (nem sempre!) e graciosas cobras corais (Micrurus spp.).
No Brasil, temos mais de 390 espécies de serpentes, distribuídas por toda a extensão do país. Ao norte, desde a úmida Floresta Amazônica, passando pelo Cerrado, à seca Caatinga, até as áreas de Mata Atlântica e, por fim, no extremo sul, nos campos do Pampa. Neste último bioma, ocorrente apenas no Rio Grande do Sul, podemos encontrar serpentes nos mais diversos ambientes. Seja em árvores, típico lugar da cobra-cipó (Philodryas olfersii), seja em meio à área de campo nativo, ambiente da conhecida e cruzeira (Bothrops alternatus), dentro de banhados e açudes, onde podemos encontrar a “inofensiva” cobra-água (Helicops infrataeniatus), ou mesmo ocultas sob a terra, o caso da cobrinha-cega (Epictia munoai). Assim, como os vários locais onde podemos encontrar serpentes, os itens alimentares consumidos por elas também são diversos. Ainda que todas sejam carnívoras, suas presas são diversas, como: aranhas, lacraias, lesmas, sapos, ratos, outras serpentes e diversos outros tipos de presas.
As serpentes vivem em diversos ambientes, possuem diversos tipos de presas e mesmo de predadores, portanto, cada espécie tem um papel importante na cadeia alimentar (por exemplo, controle de roedores ou alimento para falcões). Quando o ambiente natural é alterado de alguma forma, as espécies que antes viviam nele são impactadas, podendo até virem a ser extintas.
O bioma Pampa, em território nacional, sofreu uma degradação de quase 40% de toda a área nativa, apenas nos últimos 20 anos. Em consequência de toda essa área convertida (seja em áreas de agricultura ou silvicultura), houve uma acentuada perda de biodiversidade, entre os grupos diretamente impactados está o das serpentes. Atualmente, a região mais conservada do pampa gaúcho, os campos rochosos de solos rasos (áreas de difícil acesso a mecanização e conversão do solo), se estendem pelos municípios de Quaraí, Santana do Livramento, Rosário do Sul, Uruguaiana e Alegrete, uma área extremamente prioritária para a conservação dos répteis no Pampa.
Assim, visando futuras estratégias de conservação de serpentes, partindo da ideia que é preciso conhecer para preservar, um estudo está sendo desenvolvido em uma área de campos rochosos do Pampa (Serra do Caverá), localizado no município de Rosário do Sul-RS. Pretendemos descobrir que espécies vivem nessa região, que tipo de ambientes elas frequentemente utilizam, de que se alimentam e outros aspectos ecológicos gerais. Essas informações servirão como base para futuros estudos e, principalmente, na tomada de decisões envolvendo a conservação da biodiversidade e do bioma Pampa.
Texto: Conrado Mario da Rosa