Estudo liderado pelo paleontólogo do CAPPA/UFSM Rodrigo Temp Müller foi capa da Nature, o maior periódico cientifico do mundo. No estudo, um grupo de pesquisadores de diferentes países apresenta um fóssil que lança luz sobre a anatomia, biologia, ecologia e evolução dos precursores dos dinossauros e pterossauros. Também participou da pesquisa o aluno de doutorado do PPG em Biodiversidade Animal da UFSM Maurício Garcia.
A nova espécie foi descoberta em São João do Polêsine e recebeu o nome de Venetoraptor gassenae. O réptil precursor dos pterossauros carrega uma combinação de características incomuns, como um bico raptorial e mãos proporcionalmente grandes que são munidas de garras longas e afiadas. Com aproximadamente 1 metro de comprimento, viveu por volta de 230 milhões de anos atrás e pertence a um grupo extinto chamado de Lagerpetidae. Esses animais são considerados os parentes mais próximos dos pterossauros, os répteis voadores que dividiram a Terra com os dinossauros. Porém, diferente dos pterossauros, o Venetoraptor gassenae e os outros lagerpetídeos não foram capazes de voar.
“Venetoraptor” significa o raptor de Vale Vêneto, em referência a uma localidade turística chamada de “Vale Vêneto” no município de São João do Polêsine. Já o nome “gassenae” faz uma homenagem a senhora Valserina Maria Bulegon Gassen, uma das principais responsáveis pela criação do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia (CAPPA/UFSM), local em que o fóssil está depositado. Venetoraptor gassenae é um dos precursores dos pterossauros mais informativos já descobertos, permitindo, pela primeira vez, um olhar mais detalhado na face desses répteis enigmáticos. O bico raptorial incomum antecede àquele dos dinossauros em aproximadamente 80 milhões de anos. Em aves modernas, bicos semelhantes são atribuídos a diversas funções, como rasgar carne ou o consumo de forma de foice, o bico pode ter sido usado para lidar com potenciais presas. Além disso, as garras podem ter ajudado o Venetoraptor gassenae a escalar árvores. Pesando entre 4 a 8 quilogramas, o animal locomovia-se adotando uma postura bípede, tendo as mãos livres para manusear presas ou escalar árvores.
Combinando dados de fósseis de diversos lugares do mundo, os pesquisadores foram capazes de observar que a variedade de formas dos precursores dos dinossauros e pterossauros foi muito maior do que se imaginava. Essa alta diversidade indica que a linhagem que originou os dinossauros e pterossauros passou por um primeiro grande pulso de diversificação antes do estabelecimento dos répteis mais famosos da Era Mesozoica. Desta maneira, o sucesso evolutivo dos dinossauros e pterossauros foi resultado da sobrevivência diferencial em meio a um conjunto mais amplo de variação
ecológica e morfológica.
• Participaram do estudo pesquisadores da UFSM, UFRJ, Museo Argentino de Ciencias Naturales “Bernardino Rivadavia” e Virginia Tech. O estudo recebeu financiamento do CNPq FAPERGS, CAPES, FAPERJ, Agencia Nacional de Promoción Científica y Técnica e Paleontological Society.
• Créditos das imagens: ilustração de Venetoraptor gassenae em vida por Caio Fantini; fotografias por Janaína Brand Dillmann.
A artigo completo na Nature pode ser acessado aqui:
https://www.nature.com/articles/s41586-023-06359-z