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A importância da arborização urbana para cidades sustentáveis



A arborização urbana é um tema de crescente relevância nas discussões sobre sustentabilidade e qualidade de vida nas cidades modernas. Com o avanço da urbanização e a consequente expansão das áreas construídas, a presença de árvores e áreas verdes nas zonas urbanas torna-se cada vez mais importante. A arborização não apenas embeleza os espaços públicos, mas também desempenha um papel fundamental na melhoria do ambiente urbano, oferecendo uma série de benefícios ecológicos, sociais e econômicos, denominados serviços ambientais.

De acordo com a pesquisadora Taíse Duarte e colaboradores (2), o termo “Arborização Urbana” no Brasil é uma adaptação do termo norte-americano “Urban Forest“. Este no nosso país, acabou sendo utilizado como sinônimo de arboricultura, referindo-se ao ato de plantar árvores em áreas urbanas, desassociando-se do conceito original de florestas urbanas. De acordo com a Embrapa (2002), o conceito da arborização urbana abrange a cobertura vegetal nas cidades, incluindo árvores já existentes na paisagem ou cultivadas. 

A arborização urbana ajuda a prevenir enchentes ao reduzir o escoamento superficial, pois suas raízes e folhas absorvem a água como alimento, assim ajudando a melhorar a infiltração desta no solo. Igualmente, a vegetação com diversas plantas em diferentes alturas (estratos alto, médio e baixo) diminuem o impacto que a gota de água faz no solo. Quando a gota d’água atinge o solo diretamente, ela quebra o grão da terra em diversos pedaços (erosão em splash), gerando  uma superfície mais lisa e compacta que dificulta a entrada de água no solo, como por exemplo, quando o solo é cimentado ou a terra está exposta sem qualquer tipo de cobertura. Isso geraria uma maior erosão e riscos de inundações e deslizamentos. Se houver diversas plantas com alturas diferentes do solo, o impacto da água será menor, deixando diversos espaços para a água infiltrar para dentro do solo, permitindo maior absorção e reduzindo o risco de inundações. 

Os principais desafios na implementação de projetos de arborização urbana incluem a falta de conscientização sobre os serviços ambientais, a valorização excessiva do desenvolvimento urbano sem planejamento adequado e a ausência de uma equipe multidisciplinar. Para evitar esses erros, é necessário envolver profissionais capacitados nas áreas social, econômica e ambiental, garantindo um desenvolvimento sustentável e equilibrado.

Problemáticas de sua falta e os benefícios da arborização urbana

Com o modelo de cidades pós Revolução Industrial, qualquer elemento que se referisse ao verde das florestas e paisagens naturais, dentro delas, era considerado como atraso ao seu desenvolvimento. Neste modelo, a maioria das cidades brasileiras foram sendo desenvolvidas, com espaços arborizados destinados exclusivamente ao lazer como praças e parques e rara presença de arborização urbana fora desses espaços. Este pensamento parece perdurar até os dias atuais, sendo necessários esclarecimentos sobre a importância das espécimes arbóreas na cidade para o próprio benefício humano, para além da justificativa exclusiva da produção de oxigênio.

Para os geógrafos Carlos Moreira, Josep Pintó e Marilyn Romero (1), os problemas urbanos começam a surgir com a redução das paisagens naturais, ocorrendo um aumento do escoamento superficial, conforme já citado. Com isso, também gera-se uma diminuição na recarga dos aquíferos subterrâneos, pois a água não está sendo absorvida pelo solo. Os autores também citam a redução na qualidade da água, pois com o aumento da velocidade das águas e com inundações extremas, muitos efluentes e resíduos sólidos de diferentes origens se misturam à água, antes límpida e possivelmente potável. A falta ou a diminuição dos espaços naturais também resulta em uma menor capacidade de renovação do oxigênio no ar, assim como uma redução na fixação temporária de dióxido de carbono (CO2) e uma diminuição da umidade do ar, devido à redução da transpiração vegetal. Assim, locais mais quentes, com maiores dificuldades de produção de oxigênio, estão justificadas pela falta de elementos vegetais em seu espaço urbano.

Em artigo produzido por pesquisadores da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), os autores buscam fazer uma reflexão sobre a arborização urbana e os desafios para o aumento delas no Brasil é citado o autor Yuhong Tian (4) que indica que o tema vai além da valorização cultural e ornamental. O contato com os espaços arborizados também  pode diminuir precursores psicológicos da violência como a irritabilidade, além de reduzir a ansiedade, incrementar o relaxamento e reduzir o estresse, proporcionando benefícios à qualidade de vida da população urbana. Outros fatores citados são a qualidade de vida urbana como o conforto térmico, que  está relacionado às  condições  ambientais, tais como a temperatura, a umidade do ar e a ação dos ventos. 

Árvores mais adequadas ao plantio em cidades

Para a escolha das espécies de árvores para áreas urbanas, é preferível optar por espécies nativas, que são adaptadas ao ambiente local e menos propensas a se tornarem invasoras. Quando usadas espécies exóticas, é importante verificar que não sejam invasoras. Segundo o Instituto Brasil Florestal, as árvores escolhidas devem ter uma copa ampla, variadas alturas para melhor absorção em diferentes níveis e raízes que não prejudiquem a infraestrutura urbana. Um dos exemplos que ocorrem com mais frequência são as raízes das árvores que crescem sem cuidados e que como consequência causam rachaduras no piso, danificam esgotos, muros e seus galhos presos a fios de rede elétricas, o que causa prejuízos em relação a segurança dos pedestres e moradores. Para que isso não aconteça, é indicado que se escolha a espécie certa, respeitar um distanciamento adequado, podas regulares e monitoramento constante. Para o portal de arquitetura Archdaily Brasil, é indicado que as árvores escolhidas sejam adequadas para o tipo de clima e bioma de sua cidade, “pois apesar de ser nativa do Brasil pode não ser o caso na sua cidade e a espécie pode prejudicar o equilíbrio do ecossistema local.”
Além da importância para a absorção de água no solo, as árvores em ambientes urbanos também contribuem para a qualidade de vida e bem-estar da população. Em acréscimo, árvores frutíferas nativas, como a pitangueira, araçá, canela-guaicá, amoreira atraem pássaros onívoros (que comem vegetais e animais) e carnívoros, bem como contribuem na alimentação humana. Árvores floríferas, como os ipês, extremosa e jacarandá embelezam a cidade, trazendo sensação de bem-estar ao observá-las e constituem não somente a paisagem natural, mas a paisagem cultural urbana. No entanto, deve-se observar o local de plantio, para que suas folhas e flores não ocasionem possível obstrução de bueiros e vias de escoamento d’água.

Foto: Espécimes de Handroanthus heptaphyllus (Ipê Roxo) e Tabebuia ochracea (Ipê Amarelo), AGROIPU, 2019.

 Ipê Roxo (Handroanthus heptaphyllus ou Tabebuia heptaphylla) espécie comum no nordeste e sudeste do país. É uma das mais populares no paisagismo brasileiro muito utilizada na arborização de ruas e avenidas, além de reflorestamentos. // Ipê Amarelo (Handroanthus ochraceus ou Tabebuia ochracea), espécie comum na região centro-oeste, sudeste e sul do Brasil, sua árvore pode alcançar de 6 até 14 metros de altura e tronco de 30 a 50 cm.

Foto: Bignoniaceae (Jacarandá Mimoso), Furnitstore.

Jacarandá Mimoso (Bignoniaceae): a espécie que mede até 15 m de altura, com casca fina e acinzentada, são indicadas para ações de reflorestamento, preservação ambiental, arborização urbana, paisagismos ou plantios domésticos.

 

Foto: Lagerstroemia indica (Extremosa Rosa), Dancruz Plantas.

Extremosa Rosa (Lagerstroemia indica) espécie asiática adaptável em todo o território nacional e pode ser visto em jardins e em calçadas.

A presença dessas árvores em corredores e outras formas de vegetação mais conexos, cria “habitats” fixos ou temporários para diversas espécies de animais, promovendo a manutenção do fluxo gênico – pois diminui a reprodução entre parentes – e aumenta a diversidade biológica (3). Isso reduz os riscos de extinção das espécies,  não permitindo a criação de novas espécies – geneticamente mais frágeis – através deste fenômeno denominado “especiação”, aumentando a resiliência dos ecossistemas e da biodiversidade animal.

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Desafios e políticas públicas

A criação e manutenção de projetos de arborização urbana enfrentam diversos desafios. A falta de valorização do meio ambiente como investimento em saúde e qualidade de vida, aliada ao sucateamento de órgãos públicos, impede a realização eficaz de uma educação ambiental pública, fiscalização e licenciamento ambiental. Embora cada município possua um Fundo Municipal do Meio Ambiente, muitas vezes os recursos são insuficientes ou mal geridos, dificultando a execução de projetos de arborização. 

Existem algumas políticas públicas e programas que podem servir como medidas protetivas à Flora. A Política Nacional de Meio Ambiente e a Lei da Mata Atlântica são marcos regulatórios importantes, no entanto o Bioma Pampa ainda não possui legislação específica aprovada a nível nacional para a preservação das espécies dos campos sulinos. Apesar deste bioma ser considerado somente como campo, a manutenção de espaços verdes e espécies arbustivas é essencial para a garantia de todos os benefícios supracitados e, compensações, em caso de desmatamento destas espécies, deveriam ser aplicadas com igualdade para todos os biomas. O município de Santa Maria possui leis específicas de arborização urbana, como por exemplo: a Lei 3287/90, que cria o Plano de Arborização Urbana e Rural no Município e a Lei 3498/92, que discute sobre a arborização obrigatória das faixas de domínio das rodovias municipais. 

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Deste modo, a presença de espaços arborizados nas cidades gera: impacto econômico, ao produzir saúde à população local; benefícios sociais, ao disponibilizar espaços de lazer e gerar paisagens naturais nas cidades; benefícios aos animais, por possuírem mais áreas espaços naturais para sua vivência e distribuição. Assim, a arborização urbana é uma das variáveis determinantes para a manutenção de uma cidade sustentável, pois influencia diretamente no tripé da sustentabilidade, definido pelas perspectivas econômica, social e natural.

 

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Texto: Natália Huber da Silva, Bióloga, Mestra em Geografia e Maria Eduarda Silva da Silva, acadêmica de Jornalismo e bolsista da Subdivisão de Comunicação do CCNE da UFSM.

Referências:

  1. MORERA, C; PINTÓ, J.; ROMERO, M. (2007). Paisaje, procesos de fragmentación y redes ecológicas: aproximación conceptual. In: Chassot, O. y Morera, C. Corredores Biológicos: Acercamiento conceptual y experiencia en América, p. 11-47. San José, Costa Rica: Imprenta Nacional. 
  2. DUARTE, T .E. P. N. et al. Reflexões sobre arborização urbana: desafios a serem superados para o incremento da arborização urbana no Brasil. Rev Agro. Meio Amb., v.11, n.1, p.327-341, 2018. Disponível em: https://periodicos.unicesumar.edu.br/index.php/rama/article/view/5022
  3.  SILVA, Natália Huber da. Mapeamento e proposta de conexão de fragmentos florestais em Santa Maria (RS). 2015. 250 f. Dissertação (Mestrado em Geociências) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2015. Disponível em: https://repositorio.ufsm.br/handle/1/9443
  4. Yuhong Tian, C.Y. Jim, Yan Tao, Tao Shi, Landscape ecological assessment of green space fragmentation in Hong Kong. Urban Forestry & Urban Greening, v. 10, p.79-86. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.ufug.2010.11.002.
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