Uma iniciativa um tanto diferente tem chamado a atenção do público que vem visitar a UFSM: as Oficinas de Microalgas. De acordo com a coordenadora do projeto, a docente do Departamento de Biologia Dra. Maria Angélica Linton, , a oficina Microalgas e o mundo microscópico teve seu início após seu colega, Prof. Renato Zacchia, relatar sobre a curiosidade que os estudantes do ensino fundamental têm sobre as microalgas após visitarem o Jardim Botânico de Santa Maria (JBSM). Essa informação despertou o interesse da equipe do Laboratório de Ficologia da UFSM, responsável pela execução das oficinas.
O projeto, iniciado em 2020, visa oferecer um amplo conhecimento sobre as microalgas para estudantes do Ensino Fundamental do município de Santa Maria. As atividades inclusas envolvem uma breve exposição sobre o tema, a coleta e observação dos habitats¹ ocupados pelas microalgas, além da identificação de diferentes grupos taxonômicos. Um dos objetivos principais é conscientizar para que os estudantes reconheçam esses organismos e compreendam seus habitats ecológicos, despertando interesse pelo mundo microscópico promovendo a conscientização sobre a importância dos microrganismos em diversos aspectos. “Com esta sensibilização, o aluno tende a despertar para a importância de ver os corpos d’água não somente pela própria água, mas como um ecossistema com suas funções e provedor de serviços ecológicos”, conta Maria Angelica.
¹ Habitat: Ambiente onde o organismo, animal ou vegetal, vive. Lugar onde seu desenvolvimento é favorável à alimentação, descanso, abrigo e reprodução.
O estudo sobre as algas no ambiente escolar
O principal desafio deste projeto consiste em demonstrar aos estudantes e visitantes a relevância ecológica das algas. Devido ao tamanho microscópico, muitas vezes esses organismos são subestimados quanto à sua importância, ignorando o impacto que a falta ou excesso de algas pode causar nos ecossistemas.
A Ficologia, ciência que estuda as algas e microalgas, objetiva transformar essa perspectiva, demonstrando como esses seres desempenham um papel crucial na natureza. A abordagem central envolve fornecer informações para que todos participantes das oficinas compreendam o valor e a influência que as algas exercem em nossas vidas e, igualmente, na manutenção do equilíbrio dos ambientes aquáticos, terrestres e atmosféricos, como será explicado a seguir.
Mas afinal, o que são as microalgas e qual sua importância ao planeta?
As Microalgas são organismos muito pequenos que vivem na água doce, salgada ou salobra (misturada). Apesar de serem pequenas, elas têm um papel gigantesco na natureza.
Esses organismos vegetais são verdadeiras fábricas de produção de oxigênio. Assim como as plantas, eles realizam a fotossíntese, transformando a luz do sol e o dióxido de carbono (CO2) em oxigênio (O2). É surpreendente a informação de que cerca de metade do oxigênio que respiramos vem justamente desses pequenos seres!
Além disso, as microalgas são a base da cadeia alimentar em muitos ambientes aquáticos. Peixes, crustáceos, aves e outros animais aquáticos se alimentam delas, então as microalgas são como o “arroz e feijão” dos ecossistemas aquáticos. Não somente importante para a alimentação das formas de vida aquáticas, as microalgas podem ser consumidas de diversas formas na vida humana. Elas estão presentes na produção de suplementos alimentares, de cosméticos e até na fabricação de biocombustíveis. Assim, por mais que as microalgas sejam essenciais para manter a vida na Terra funcionando em equilíbrio, a falta de entendimento sobre elas pode afetar de maneira negativa os ecossistemas a nível mundial. A Profa. Maria Angélica nos dá dois exemplos: Eutrofismo (acumulação excessiva de matéria orgânica provinda dos esgotos) e a Floração, a seguir explicados pela docente.
O Eutrofismo (ou eutrofização) é geralmente presente em açudes ou reservatórios e que pode alterar comunidades de microalgas, afetando a cadeia alimentar.
“É fundamental que os sistemas aquáticos não sejam receptores de efluentes ou esgotos. As microalgas são as produtoras primárias nos ambientes aquáticos e que também provêm alimentação. Se houver algum problema com elas, pode afetar todo o ecossistema”, cita Maria Angélica.
O segundo é a Floração. As microalgas, como as cianobactérias ou euglenofíceas, podem se multiplicar de maneira exagerada, causando uma coloração verde intensa na água, isto se chama floração. Deste modo, esse fenômeno também pode ser perigoso: animais que bebem água esverdeadas podem sofrer intoxicação, podendo adoecer e até vir a óbito. Embora raro, a professora diz que até mesmo seres humanos podem ser intoxicados se entrarem em contato com essas águas contaminadas. Então é importante ficar atento a sinais como a coloração verde da água e a formação de espumas.
Conheça o Laboratório de Ficologia da UFSM
O LabFic tem como missão principal investigar a variedade e o comportamento das microalgas em diferentes ambientes aquáticos. O foco está nas algas diatomáceas, que vivem nas rochas dos rios e têm um papel especial na avaliação da qualidade da água. Além de estudarem a diversidade na região, os pesquisadores de algas expandem suas pesquisas para os sistemas aquáticos da Amazônia e até mesmo para a Antártica. Além disso, o laboratório mantém uma coleção de microalgas em cultivo, e sempre busca adicionar novas espécies que são nativas dos sistemas aquáticos locais.
O projeto Microalgas e o mundo microscópico, além de beneficiar os estudantes visitantes, também proporciona aos acadêmicos uma experiência docente, o que permite aos graduandos da UFSM tornar público o conhecimento que adquiriram na universidade. Essa interação com diferentes fragmentos sociais têm proporcionado novas abordagens na explicação sobre as microalgas, contribuindo para o desenvolvimento da didática e a difusão do conhecimento científico.
O LabFic, além de seus projetos, realiza um trabalho incrível educativo em suas redes sociais. Para acompanhá-los, basta acessar no Facebook e no Instagram.
Texto: Maria Eduarda Silva da Silva, acadêmica de jornalismo e bolsista da Subdivisão de Comunicação do CCNE.
Revisão e edição: Natália Huber da Silva, Chefe da Subdivisão de Comunicação do CCNE