Na UFSM, em 2015, teve início o projeto “Flora do Brasil on-line 2020 – Pooideae/Poaceae”. Nessa ocasião, um grupo de especialistas em gramíneas de Santa Maria participou do Edital de proposta de monografias para a Flora do Brasil Online, iniciativa que em âmbito nacional está sendo coordenada pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro e é uma forma de contribuir para o cumprimento dos objetivos do País na primeira meta da Global Strategy for Plant Conservation (GSPC) para 2020. Por meio de descrições botânicas, fotos das espécies, dados de distribuição geográfica no Brasil e instrumentos para identificação das espécies (chaves), irá ser consolidada uma rede de divulgação da flora nacional, incluindo algas, fungos e plantas, em uma plataforma que possa ser integrada com a Flora do Mundo Online (World Flora Online – WFO).
De acordo com a coordenadora do projeto, prof. Dr. Liliana Essi, “a principal contribuição do subprojeto da UFSM é a disponibilização de informações confiáveis sobre as espécies de gramíneas que estão sendo monografadas”. É através da internet que informações básicas sobre as espécies de gramíneas brasileiras e as monografias estão sendo disponibilizadas em tempo real através do site. O projeto deverá ser finalizado em 2020 e essa será a primeira obra completa sobre a flora brasileira após o trabalho de Carl Friedrich Philipp von Martius, produzido entre 1840 e 1906. Todo esse conteúdo irá auxiliar diretamente pesquisadores e estudantes de diferentes áreas: zootecnia, agronomia, biologia, além de fornecer informações e levar o conhecimento da flora brasileira aos mais variados públicos. Em Santa Maria, estão sendo analisadas e serão monografadas todas as espécies de 14 gêneros selecionados de gramíneas, pertencentes à subfamília Pooideae com ocorrência na região sul.
Liliana conta, que a nível nacional o projeto é descentralizado e os participantes são professores, pesquisadores ou pós-graduandos do Brasil e do exterior com experiência em taxonomia de gramíneas. Na UFSM, fazem parte do projeto a professora Liliana Essi, Leonardo Nogueira da Silva, egresso do curso de Ciências Biológicas de Palmeira das Missões e doutorando do Programa de Pós-graduação em Botânica da UFRGS e a Dra. Thais Scotti do Canto Dorow, docente aposentada da UFSM e ex-curadora do Herbário (SMDB) do Departamento de Biologia da Universidade.
No que se trata de dificuldades, a coordenadora explica que todo o projeto está sendo feito de forma voluntária e sem financiamento específico para as monografias, e os departamentos que abrigam os professores participantes contribuem de forma decisiva com infraestrutura e custos básicos. Na UFSM, além dos materiais que chegam de outras partes do Brasil, o Herbário contribui emprestando materiais e recebendo pesquisadores visitantes. Os recursos aprovados para o projeto no nível nacional são escassos e precisam ser direcionados para a manutenção do sistema de inclusão de dados e interface de busca para o usuário na internet. Além disso, há muita burocracia no intercâmbio de material botânico: pacotes de plantas retidos, taxações exorbitantes, atrasos no envio e a própria falta de compromisso dos representantes políticos com os tratados internacionais. “Estamos fazendo tudo por amor à camiseta, da melhor forma que podemos, mas sem apoio governamental tudo fica muito complicado e às vezes inviável”, destaca Liliana.
Os frutos do projeto já estão sendo colhidos, pois a apresentação das monografias está de acordo com as metas semestrais, a plataforma está sendo acessada no mundo inteiro e os dados disponibilizados estão fomentando inúmeros tipos de trabalho. A experiência brasileira está sendo muito elogiada pela comunidade científica internacional durante os congressos e pode-se dizer que, agora, há um panorama mais claro da nova biodiversidade: quantas espécies, onde ocorrem e como reconhecê-las. Na visão da coordenadora, “tínhamos poucos sítes com informações confiáveis sobre plantas brasileiras e agora temos uma base de dados oficial de informações conferidas por especialistas nos grupos, o que é um tremendo avanço”.
Para o futuro, o esperado é cumprir a meta de disponibilizar a flora completa em 2020 para a população brasileira e mundial: um feito histórico. Mas o trabalho não para por aí. Há muitos grupos em que se evidenciou a necessidade de mais estudos taxonômicos e ainda há um grande número de possíveis novas espécies a serem descritas. Ainda há a deficiência de especialistas em algas, fungos e alguns outros grupos de plantas e o esperado é que esse trabalho inspire mais jovens a se dedicar à taxonomia. “Não existe trabalho científico de qualidade sem uma identificação anterior correta das espécies. Esse grande trabalho também deixará de herança uma belíssima rede de trabalho colaborativo em botânica”, finaliza Liliana.
Texto por: Lucas Zimmermann, acadêmico de Comunicação Social – Relações Públicas e bolsista do Núcleo de Divulgação Institucional do CCNE
Edição: Wellington Gonçalves, relações públicas do Núcleo de Divulgação Institucional do CCNE