Uma nova espécie de roedor que viveu na Amazônia há, aproximadamente, 10 milhões de anos foi descoberta por pesquisadores da UFSM. A coleta do material foi realizada no Rio Envira (Formação Solimões), cidade de Feijó, estado do Acre, no ano de 2010 e 2019. Foram analisadas uma mandíbula fragmentada com todos os molariformes preservados e 11 dentes inferiores isolados, com tamanhos máximos atingindo 1.96 mm por dente. O artigo científico contém informações morfológicas e paleobiogeográficas sobre esse roedor de pequeno porte.
Acarechimys hunikuini, nome dado em homenagem a tribo indígena Huni Kuin que vive na região em que o fóssil foi encontrado, faz parte do clado Octodontoidea, que por sua vez faz parte do clado Caviomorpha – que consiste em roedores sul-americanos do clado mais inclusivo Hystricognathi. Essa descoberta mostra que várias superfamílias de roedores caviomorfos, como octodontoideos, chinchiloideos e cavioideos, viviam juntas nessa região, refletindo, portanto, a rica diversidade da fauna na Amazônia brasileira, como já era esperado.
Essa descoberta, junto com fósseis encontrados anteriormente no Rio Envira, destaca a localidade para estudos de pequenos vertebrados que viviam na Proto-Amazônia, antes das grandes mudanças ambientais que ocorreram na América do Sul após o Grande Intercâmbio Biótico Americano (GIBA). Essas mudanças podem ter causado a extinção de várias linhagens de roedores.
O gênero Acarechimys provavelmente surgiu no final do Oligoceno e se diversificou na Patagônia durante o início do Mioceno. Durante o Mioceno Médio, esse gênero se espalhou para outras regiões da América do Sul, mas no final do Mioceno, sua presença ficou restrita a áreas fora da Patagônia. Este novo fóssil é o último registro conhecido do gênero, corroborando a ideia de que algumas linhagens de roedores sobreviveram por mais tempo nos trópicos.
A rápida diversificação de Acarechimys, junto com a escassez de dados e divergências entre os estudos da área, torna o estudo desse gênero desafiador. São necessários mais estudos para entender melhor a diversificação e a variação temporal dessa linhagem. Além disso, esse estudo utilizou a técnica de reconstrução virtual, a partir da tomografia computadorizada, para auxiliar na identificação morfológica dos espécimes. Essa pode ser uma ferramenta útil para estudar o desgaste dentário dos fósseis, especialmente quando não se tem espécimes completos de todas as fases de vida. Essa tecnologia pode ajudar na identificação e comparação de fósseis em estágios semelhantes de desgaste dentário, tanto em dentes hipsodontes quanto em braquidontes, como os relatados neste estudo.
. Esse artigo científico faz parte da tese de doutorado da aluna Emmanuelle Fontoura, do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Animal, sob orientação de Leonardo Kerber (CAPPA/UFSM) e coorientação de Ana Maria Ribeiro (Museu de Ciências Naturais, SEMA/RS). O trabalho conta com a colaboração de Francisco Ricardo Negri (Universidade Federal do Acre), Myriam Boivin (Instituto de Ecorregiones Andinas e Instituto de Geología y Minería da Universidad Nacional de Jujuy), Laurent Marivaux, Pierre-Olivier Antoine e Narla Stutz (Institut des Sciences de l’Évolution de Montpellier, Université de Montpellier).
Reprodução: Agência de Notícias da UFSM
Com informações e foto CAPPA UFSM