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Monitoramento meteorológico em resposta a desastres no Rio Grande do Sul é realizado pelo curso de Meteorologia UFSM



Através da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o município de Santa Maria está na linha de frente de uma batalha fundamental contra a desinformação sobre os desastres naturais causados pelas chuvas excessivas que ocorreram no final de abril e em maio deste ano. Segundo o Dr. Vagner Anabor, docente do curso de Meteorologia do Centro de Ciências Naturais e Exatas (CCNE), instrumentos meteorológicos instalados no campus universitário detectaram algo alarmante, no dia 29 de abril de 2024: volumes de chuva que ultrapassaram os 80 milímetros em poucas horas, uma quantidade que já representava um quinto da precipitação esperada para o mês inteiro. Esse cenário desencadeou uma resposta rápida e coordenada, envolvendo uma força-tarefa interdisciplinar, entre os pesquisadores do curso de Meteorologia da UFSM junto à Defesa Civil e o apoio de organizações humanitárias para ajudar a reduzir os impactos causados pelos eventos climáticos.

Docentes e acadêmicos de Meteorologia da UFSM / Foto: Vagner Anabor

Previsões do curso

O professor Vagner conta que o curso de Meteorologia da UFSM, dentro de suas atividades rotineiras de previsão do tempo, vinha identificando um padrão de frente estacionária¹ que os preocupava. Todos os modelos mostravam volumes acumulados de chuva acima de 100 milímetros, chegando a mais de 200 milímetros em algumas localidades, em apenas 24 horas. No dia 29, os instrumentos instalados no sítio do radar meteorológico da universidade permitiram identificar chuvas extremamente intensas, com mais de 30 milímetros acumulados nas primeiras horas do dia, sendo que a média anual de chuva na região é em torno de 120 a 150 milímetros mensais. Esse padrão anômalo de precipitação levou os pesquisadores a alertar a administração da universidade sobre os perigos, resultando no contato imediato com a Defesa Civil.  

Montagem de uma força-tarefa: parcerias e ações humanitárias

Imediatamente, uma força-tarefa para a previsão de eventos meteorológicos extremos foi montada, contando com uma equipe interdisciplinar da área da meteorologia. A equipe incluiu o grupo de climatologia para avaliações de grande escala, um grupo de modelagem atmosférica para produtos de previsão do tempo, A Rede Voluntária de Observadores de Tempestades (REVOT), além de graduandos e pós graduandos vinculados a outros laboratórios do CCNE. Esta rede também teve a colaboração do grupo Prevotes, sob coordenação do Prof. Ernani de Lima Nascimento, igualmente docente do curso de Meteorologia da UFSM. O grupo organiza e realiza a previsão do tempo severo para toda a Região Sul do Brasil. Todos estes colaboradores, voluntariamente, “se dedicaram a muitas horas de trabalho; mantendo uma previsão operacional em regime de 24 horas por dia, 7 dias por semana”, conta o professor.

Esta equipe elaborou boletins meteorológicos diários  contendo informações objetivas sobre os dados acumulados de chuva, previsões detalhadas focadas na quantidade de chuva, local de ocorrência, intensidade, ventos e temperaturas. A previsão é realizada diariamente, com um horizonte de informações para cinco dias, sendo três de previsão e os próximos dois dias de tendências meteorológicas. Estes boletins permitem  uma orientação mais precisa para as operações da Defesa Civil, auxiliando nos sistemas de busca, salvamento e socorro, otimizando o uso dos recursos e maximizando a proteção da vida. 

Avião de ajuda humanitária onde os pesquisadores do curso de Meteorologia da UFSM ajudam na elaboração de rotas para o Rio Grande do Sul

O grupo de Apoio Aéreo em Situações Especiais (ASES Brasil), igualmente, solicitou apoio ao grupo de pesquisadores desta rede de especialistas. A  ASES realiza ações aéreas humanitárias, sendo já enumeradas mais de 60 missões de auxílio aos desastres no Rio Grande do Sul (RS), somando mais de 120 horas de voos. Transportaram, em pequenas aeronaves, mais de 3,5 toneladas de medicamentos e equipes da área de saúde para áreas remotas atingidas pelo desastre. Esses voos partiram de diversas regiões do Brasil, incluindo São Paulo, Goiás e Belém, trazendo recursos médicos essenciais para locais isolados do RS.

A ação também contou com a participação de importantes órgãos que visam a pesquisa, o fornecimento e transparência de dados, como Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE); o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC); ;o curso de Meteorologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel); e a Base Aérea de Santa Maria, representada pelo Major José Lourêdo Fontinele. De acordo com o Prof. Vagner, “a sinergia das instituições no âmbito federal e também no âmbito regional permitiram ter a máxima eficiência possível dentro dessa fase de resposta emergencial, o desastre”.

 

Centro de prevenção de desastres: iniciativas e estrutura em Santa Maria

No contexto da proteção e redução de riscos de desastres, a adoção das metodologias recomendadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) é fundamental para garantir segurança durante a fase de reconstrução. Para isso, é necessário:

Sistema de prevenção e mitigação para:

  • Preparar as comunidades para a fase de preparo em caso de desastres anunciados;
  • Reduzir e despender recursos nas fases emergenciais, de reconstrução e reabilitação.

O Instituto Nacional de Meteorologia (INPE) e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) concordam que a criação de um sistema de prevenção é vital. O foco será a efetivação do Centro Brasileiro para Previsão e Estudos de Tempestades Severas, que permitirá:

  • Transferência tecnológica entre práticas desenvolvidas na pesquisa, ensino e extensão:

As tecnologias desenvolvidas pelo Grupo de Modelagem Atmosférica da UFSM são incorporadas aos sistemas já existentes nos centros meteorológicos e da defesa civil, melhorando a precisão das previsões de tempestades severas e permitindo uma resposta mais eficiente a eventos climáticos extremos. Estas incluem a adaptação e implementação de modelos numéricos de previsão do tempo e sistemas de alerta em centros meteorológicos operacionais, bem como por meio de treinamentos e capacitações oferecidas aos meteorologistas. Esses modelos e sistemas, que incluem algoritmos de previsão imediata do tempo e plataformas de monitoramento. 

  • Condução de atividades com melhores técnicas, como:
    • Previsão do tempo de curtíssimo prazo (até três horas).
    • Previsão do tempo de curto e médio prazo (até dez dias).
    • Previsão climatológica para escalas sazonal e intrasazonal.

Por que Santa Maria?

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais / Foto: Marta Seeger

Em 1996, a cidade foi escolhida pelo INPE para abrigar a Coordenação Espacial do Sul (COESU), devido ao seu potencial em formação de recursos humanos e pesquisa, o que facilitou a escolha deste Centro ser realizado no campus da UFSM. O prédio recebeu um investimento significativo em infraestrutura, incluindo:

  • Geradores e no-breaks para operação contínua.
  • Sistemas independentes de água e comunicação.
  • Operação de equipes 24 horas por dia, 7 dias por semana.
  • Instalações de hotel e restaurante dentro da edificação.

Por ficar localizada no centro do estado do Rio Grande do Sul, Santa Maria se torna estratégica para operações de resgate e salvamento, tendo benefícios como a previsão meteorológica de alta qualidade e um grande contingente militar para operações de terra e ar, essencial em desastres regionais e nacionais, sendo um dos maiores polos militares do Brasil.

Como a UFSM é reconhecida por sua capacidade de desenvolver e implementar projetos inovadores, a COESU será de grande serventia e um grande avanço para a comunidade acadêmica e para a sociedade. De acordo com o professor Vagner, sua estrutura irá funcionar como um centro de operações contínuo, preparada para fornecer informações cruciais à população, mesmo em situações adversas. 

Apesar de o projeto inicial não ter avançado como previsto, a estrutura destinada ao Centro já foi providenciada e passou a abrigar as áreas de: ciência da alta estratosfera, clima espacial, satélites e meteorologia. Atualmente, o prédio recebe cursos de graduação e pós-graduação em Meteorologia, alinhando-se às atividades do CRS-INPE em Santa Maria.

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¹ Frente estacionária é um tipo de frente que resulta quando uma frente fria ou quente deixa de se mover. Quando volta a se mover, a frente volta a ser denominada fria ou quente. Fonte: Tempo João Pessoa, disponível em: https://tempojoaopessoa.jimdofree.com/.

Texto: Maria Eduarda Silva da Silva, acadêmica de jornalismo e bolsista da Subdivisão de Comunicação do CCNE da UFSM.

Revisão e edição: Natália Huber da Silva, Chefe da Subdivisão de Comunicação do CCNE

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