Na última semana, o auditório Marie Curie, anexo ao prédio 17 do Centro de Ciências Naturais e Exatas da Universidade Federal de Santa Maria, abriu as portas para receber os estudantes de Geografia para a VI Mostra de Vivências Pedagógicas e Planejamento e Ordenamento Territorial Integrado (POTI) e I Encontro de Socialização de Estágio Curricular de Geografia Licenciatura. O evento, organizado pelos docentes Nathalia Batista, Sandra Bolfe e Cleder Fontana teve duração de três dias, com o objetivo trazer momentos de palestras, diálogos sobre projetos voltados ao ensino e extensão, apresentações de trabalhos didáticos realizados por estudantes e momentos de debates sobre as experiências de estágios dos futuros professores de Geografia em escolas públicas da região.
Antes de dar início aos debates e palestras, aconteceram momentos culturais onde graduandos e estudantes de escolas bases – como aconteceu no segundo dia – fizeram uma breve apresentação musical. Gabriel Medeiros, no primeiro dia, apresentou músicas de sua própria autoria e Natiele Andriele Ramires, estudante do ensino fundamental, que fez uma apresentação com músicas sertanejas de grupos do gênero.
Após o momento cultural, foi dado início a palestra intitulada “Ser educador(a) e fazer escola: A construção da professoralidade e os saberes da educação” que teve como convidadas a Diretora Profª. Claudia Bassoaldo e a Profª Laura Moreira, ambas da Escola Municipal de Ensino Fundamental José Paim de Oliveira, localizada no Distrito de São Valentim (Santa Maria, RS).
O objetivo da palestra foi apresentar como é o trabalho realizado em uma escola intitulada de “escola do campo” e que seus pilares envolvem a Alternância Formativa, a Redes de Escolas “PEA Unesco”, ou seja, além de possuir uma matriz curricular convencional, os professores utilizam metodologias que criam a conexão entre o ambiente rural em que estão inseridos e a escola, o que auxilia no aprendizado dos estudante.
“Por exemplo, em conteúdos de matemática, porque eles não podem ir ao jardim para estudar sobre a circunferência da árvore?”, relata a diretora durante a conversa. De acordo com as convidadas, o objetivo principal da escola é implementar uma proposta pedagógica que valorize o contexto rural, incentivando os estudantes que moram pela região optem por permanecer no campo com qualidade de vida.
Perspectivas do campo educacional: os desafios do ensino fundamental e médio de crianças, jovens e adultos
Para finalizar o segundo dia de evento, os participantes foram direcionados a uma sala de aula no prédio 17 onde os estudantes, que estão entre os últimos semestres (7º e 8º) de Licenciatura em Geografia, compartilharam suas experiências em estágios nas escolas de ensino médio e na Educação de Jovens e Adultos (EJA) em Santa Maria. A roda de conversa foi mediada pela doutoranda Vanessa Oliveira e a mestranda Caroline Zimmermann, ambas da área de Geografia. Ao todo foram cinco graduandos que relataram suas experiências, entre eles Felipe, Emanuelle e Maurício Severo.
Durante seu estágio no Colégio Estadual Professor Edna May Cardoso, Felipe Romansin compartilhou suas experiências como docente, evidenciando as diferenças entre o ensino fundamental (6º ano) e o ensino médio (1º ano). Ele destacou três aspectos principais: a absorção de conteúdo e a dinâmica de aprendizado, notando a rápida assimilação no ensino médio, resultando em aulas que às vezes terminavam mais cedo; a atenção e interação em sala, observando uma maior dispersão no 6º ano em comparação com o silêncio e atenção relativos no ensino médio, embora o uso de celulares tenha sido uma preocupação constante; e os desafios enfrentados com os dispositivos móveis, levando-o a adaptar o conteúdo para integrar o uso dos celulares e, durante avaliações, recolher os aparelhos para evitar distrações.
Emannuelli de Oliveira compartilhou suas vivências no Colégio Tiradentes de Santa Maria, ressaltando as diferenças entre o ensino fundamental e médio, em especial no contexto do ensino médio militar. Ela observou três pontos cruciais: as diferenças no modelo de avaliação, com destaque para a distribuição de pontos entre atividades e provas obrigatórias; os desafios impostos após a implementação do novo ensino médio e os caminhos formativos, como o ‘caminho militar’, limitando o foco e abordagens das aulas; e os obstáculos enfrentados na manutenção do aprendizado, especialmente ao equilibrar eventos extracurriculares com o fluxo de conteúdo, optando por provas com consulta para incentivar a organização dos cadernos, apesar do alto índice de xerox entre os alunos.
Maurício Severo relatou sua experiência de estágio realizado na Educação de Jovens e Adultos (EJA), onde destacou os desafios dessa modalidade de ensino, tais como dificuldade de permanência e frequência dos alunos. Por estarem inseridos no mundo do trabalho, há limitações em seus horários e, portanto, há necessidade de adaptação das aulas e avaliações, dada a característica de cada estudante.
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As observações sobre a dinâmica de aprendizado, os desafios enfrentados com o uso de tecnologia fora de hora, como meio de distração em sala de aula, e as adaptações necessárias nas estratégias pedagógicas revelaram a complexidade do ambiente educacional atual. Esses relatos fornecem percepções para repensar e adaptar metodologias de ensino, destacando a importância de compreender as particularidades de cada contexto para promover um ensino mais eficaz e inclusivo.
Texto: Maria Eduarda Silva Da Silva, acadêmica de Jornalismo e bolsista da Subdivisão de Comunicação do CCNE e Vanessa Oliveira, Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Geografia da UFSM.
Revisão e edição: Natália Huber da Silva, Chefe da Subdivisão de Comunicação do CCNE.