No cenário urbano de Santa Maria, a descoberta de espécies botânicas raras e ameaçadas vem à tona, destacando a conexão entre as áreas urbanas e a importância do reconhecimento da riqueza da biodiversidade local. Nesse contexto, foi descoberta uma espécie rara e ameaçada de extinção na UFSM, por Lucas Gonçalves da Cunha. Lucas é estudante do curso de Bacharelado em Engenharia Florestal e participante do projeto de pesquisa “Flora de Santa Maria Revisitada: angiospermas”, coordenado pelos professores do Departamento de Biologia do Centro de Ciências Naturais e Exatas (CCNE), Liliana Essi e Renato Záchia.
Identificada como Hypericum mutilum L., pertencente à família Hypericaceae, a espécie foi descoberta em 17 de março deste ano na rua atrás do prédio 16, entre a biblioteca setorial do Centro de Educação e o Almoxarifado Central da UFSM. A confirmação veio pela professora e pesquisadora do projeto, Cleusa Vogel Ely. Esta espécie, classificada como ameaçada e na categoria Vulnerável, demonstra a fragilidade de sua existência, de acordo com a lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
Além destes lugares, a planta ainda conseguiu ser vista na área de campo nativo vinculado ao Laboratório de Ecologia de Pastagens Naturais (LEPAN) da UFSM durante uma saída de campo dos graduandos de Biologia na disciplina Flora dos Campos Sulinos do CCNE.
Conheça um pouco da pequena Hypericum mutilum L.
Hypericum mutilum L. é uma espécie de planta pertencente à família Hypericaceae . É conhecida popularmente como erva-de-são-joão-miúda ou erva-de-são-joão-anã.
Trata-se de uma planta herbácea anual (caracterizada por ter uma estrutura de caule macio e maleável), natural de algumas regiões da América do Norte, Ásia e América do Sul. Essa espécie costuma crescer em ambientes úmidos.
Olhando para o futuro, a iniciativa inclui o transplante de alguns exemplares da planta para o Jardim Botânico da UFSM (JBSM). Essa iniciativa objetiva preservar e dar continuidade a espécie encontrada no campus da UFSM, alinhando-se ao propósito de conservação do espaço.
Conheça também a pequena Clara ophiopogonoides Kunth
Além desse achado, o JBSM revelou mais uma surpresa botânica no campus da UFSM: um indivíduo da espécie Clara ophiopogonoides Kunth., da família Asparagaceae, classificado como “Em Perigo” na Lista Vermelha do RS. Identificada pela professora Cleusa Vogel Ely, essa espécie herbácea de pequeno porte, com aproximadamente 15 cm de altura, passa a maior parte do ano abaixo do solo, emergindo para reprodução em um curto período. Originária do estado de Rio Grande do Sul, essa planta é pouco estudada, carecendo de pesquisas sobre sua biologia e ecologia, sendo peculiar por sua especificidade em habitats secos ou pedregosos. De acordo com a professora, a Clara ophiopogonoides foi encontrada no campo nativo do Jardim Botânico, e foi avistada apenas uma vez em Santa Maria, em abril de 2023.
Essas descobertas, tanto em áreas urbanas quanto em espaços menos urbanizados que visam a conservação com uso sustentável, como o Jardim Botânico, realçam a importância de catalogar e compreender a riqueza botânica de Santa Maria. Nenhuma das espécies mencionadas havia sido registrada na região, ressaltando a relevância de projetos como o da “Flora de Santa Maria Revisitada”.
Conheça o projeto “Flora de Santa Maria Revisitada: angiospermas”
Este é uma iniciativa dedicada à investigação e catalogação da diversidade botânica no município de Santa Maria, RS, uma área de transição (ecótono) entre os biomas Pampa e Mata Atlântica. O projeto original, datado da década de 1960 por Romeu Beltrão, foi revisado para atualizar informações, incluir novas espécies e oferecer recursos visuais como fotos e chaves de identificação.
Organizado por famílias botânicas, a iniciativa envolve expedições de coleta, revisão de herbários locais, identificação de espécies e registro de novos exemplares nos herbários. A fim de divulgar os resultados deste importante trabalho, igualmente, é prevista a organização de um livro detalhado sobre a flora de Santa Maria focado nas angiospermas, que são as plantas que possuem como características principais a presença de flores e frutos.
Os participantes do projeto esperam contribuir para o fornecimento de material científico útil para a identificação das espécies. Assim, anseiam que esse resultado sirva como um guia para futuras pesquisas em botânica, educação ambiental e conservação da flora nativa, tanto para a comunidade acadêmica quanto para o público em geral.
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Descobertas preciosas como esta ressaltam a necessidade contínua de estudos e esforços de preservação, não apenas para a proteção das espécies em risco, mas também para a manutenção da biodiversidade da zona urbana de Santa Maria.
Texto: Lucas Gonçalves Da Cunha, acadêmico de Engenharia Florestal, Cleusa Vogel Ely, Liliana Essi, professoras do Depto. de Biologia da UFSM e Maria Eduarda Silva Da Silva, acadêmica de Jornalismo e bolsista da Subdivisão de Comunicação do CCNE.
Revisão e edição: Natália Huber da Silva, Chefe da Subdivisão de Comunicação do CCNE.