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VIII Escola de Inverno de Educação Matemática reúne profissionais da educação e da pesquisa pedagógica da disciplina em eventos nacionais na UFSM



No período da pandemia, uma das áreas mais afetadas foi a educação, sendo o ensino remoto adotado em todas as escolas do Brasil, sendo elas com ou sem estrutura para isso. Esse período foi de extremo aprendizado para as instituições privadas e públicas, mas para as escolas, consequências e abordagens diferentes relacionadas a este período são revisitadas diariamente até hoje. A disciplina de matemática é estereotipada como uma das mais difíceis de serem aprendidas por muitos estudantes e os seus pais. Então, algumas perguntas surgem: como foi o aprendizado destes em suas casas durante o ensino remoto? Como está o retorno dos estudantes após esse lapso temporal? E a metodologia de ensino dos professores e professoras foi modificada? A estrutura escolar física e de pessoal foi reconsiderada?

Pensando nisso, este tema não poderia deixar de ser discutido e pesquisado pelo ambiente acadêmico e, neste intuito, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) foi sede de três importantes eventos nacionais relacionados ao ensino da matemática: a VIII Escola de Inverno de Educação Matemática, V Encontro Nacional Pibid Matemática e I Encontro Nacional Residência Pedagógica Matemática. Realizados na última semana, de 2 a 4 de agosto, estes foram organizados pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e Ensino de Física (PPGEMEF) do Centro de Ciências Naturais e Exatas (CCNE) e pelo Programa de Pós-Graduação em Educação do Centro de Educação. Os eventos possuíram como tema central a “Educação Matemática: desafios no contexto pós-pandêmico”, visando proporcionar um espaço de diálogo e reflexões no meio acadêmico sobre o período pós pandemia causada pela Covid-19.

Durante os três dias de atividades, os participantes puderam presenciar palestras com professores renomados de diversas Instituições de Ensino Superior brasileiras, mesas redondas para debates, apresentações de comunicações científicas, relatos de experiências, mostras didático-científicas, e ainda, minicursos e oficinas que abordaram temas relacionados à matemática. Com uma programação repleta de eventos simultâneos, destacamos algumas das atividades que a equipe da Subdivisão de Comunicação do CCNE acompanhou, abaixo descritas.

 

Mesas Redondas

A mediadora da mesa redonda Prof. Dra. Carmen Vieira Mathias, apresentando os palestrantes Dr. José Carlos Pinto Leivas (UFN) e o Prof. Dr. Maurício Ramos Lutz (IFF, Campus Alegrete, RS).

“Bate-papo geométrico: possibilidades e reflexões sobre geometria”, com a participação dos professores: Dr. José Carlos Pinto Leivas, da Universidade Franciscana (UFN), e também Presidente da Sociedade Brasileira de Educação Matemática (SBEM-RS), e o Prof. Dr. Maurício Ramos Lutz, do Instituto Federal Farroupilha. (IFF, Campus Alegrete, RS). 

Em entrevista, a Prof. Dra. Carmen Vieira Mathias, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), mediadora do bate-papo, destacou a relevância do tema para os graduandos de Licenciatura em Matemática. Ela ressalta que, apesar de estudarem geometria na UFSM, eles não fazem a conexão com a prática na educação básica. Portanto, o objetivo desta fala foi expor aos futuros professores a importância da geometria, reconhecendo o seu valor nos currículos da educação básica para cumprir o papel de aplicar o conteúdo de maneira eficaz nas escolas.

 

 

Em pé, a Prof. Dra. Maria Cecilia Bueno Fischer (UFRGS) palestrando sobre o tema História da Matemática

“História da Educação em Matemática”, com as palestrantes: Prof. Dra. Andreia Dalcin e Prof. Dra. Maria Cecilia Bueno Fischer, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mediado pela Prof. Dra. Lígia Arantes Sad, do Instituto Federal de Educação do Espírito Santo (IFES).

A Prof. Dra. Andreia Dalcin destacou a importância dos professores, graduandos e de qualquer pessoa dedicada a estudar e a ensinar Matemática, a conhecerem a história da disciplina para compreender melhor os processos de ensino e aprendizagem. Segundo Andreia, “isso permite tomar decisões mais adequadas no presente, sem influências externas, como questões políticas e econômicas.’’ Ela ressalta que a falta de conhecimento da nossa própria história, além da educação matemática, é uma negligência que precisa ser corrigida.

Além das mesas redondas mencionadas, aconteceram outras palestras e mesas redondas exclusivas para o formato híbrido. As discussões abordaram tópicos importantes na área da educação matemática e estão disponíveis no canal do Youtube “Escola de Inverno UFSM”, disponível neste link.

 

Trabalhos de Comunicação Científica

Nesta categoria, foram apresentados  projetos de pesquisa em andamento ou já finalizados. Os trabalhos foram apresentados de forma simultânea em diversas salas no prédio 16-B do Centro de Educação (CE) porém, na sala 04, dois trabalhos foram destacados:

Trabalho apresentado pela doutoranda em Educação Carla Coradini, participante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Matemática (GEPEMAT) da UFSM.
  • O estudo “O ensino de matemática e os desafios dos professores no período pós-pandemia”, apresentado  pelas autoras Carla Coradini, Andressa Kaspary Zwirtes e Anemari Vieira Lopes, examina os obstáculos que os professores de matemática enfrentam no Ensino Fundamental após a pandemia, em Santa Maria, RS.

Carla Coradini, doutoranda em Educação e membro do grupo de estudos e pesquisas em Educação Matemática (GEPEMAT) da UFSM, expôs que o estudo teve como objetivo identificar os desafios enfrentados por professores de matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental em Santa Maria após a pandemia e seus reflexos, como os baixos índices de desempenho dos estudantes.

O estudo se enquadra em um projeto de rede colaborativo que aborda a formação de professores de matemática, com base em elementos presentes em seus cotidianos (Teoria Histórico-Cultural). A pesquisa utilizou questionários  respondidos por professores da rede de ensino básica de Santa Maria, através de Formulários Google.

Como resultados desta pesquisa, destacaram-se  três categorias principais de desafios: os psicológicos (ansiedade e insegurança), os de aprendizagem (conhecimentos matemáticos e tecnologia restrita na pandemia) e os estruturais (problemas pré-existentes em sala de aula). De acordo com Carla, ‘’é importante ressaltar que esses desafios já existiam antes da pandemia, mas com o ensino remoto e o estado psicológico dos alunos durante esse período contribuíram para o aumento e agravamento dessas dificuldades no cenário pós-pandemia.”

 

Trabalho apresentado pela estudante Tainá Schafer.
  • O trabalho intitulado ”Clube de Matemática: Uma experiência nos anos iniciais do ensino fundamental com o conceito de divisão” foi uma colaboração das autoras Tainá Caroline Schafer, Maiara Luisa Klein e Carine Daiana Binsfeld, desenvolvido no Projeto “Clube de Matemática” da UFSM, coordenado pelas Prof. Dr Simone Pozebon e Prof. Dr. Anemari Lopes

Segundo Tainá, o foco foi levar o conceito da operação matemática de“divisão” aos alunos do terceiro ano dos anos iniciais do Ensino Fundamental. O objetivo principal foi incentivar a reflexão sobre a divisão mental em partes iguais. Com o contexto da Copa do Mundo como pano de fundo, os estudantes foram desafiados a organizar um álbum de figurinhas, que serviu de base para explorar este conceito. Durante as interações e testes de hipóteses, os alunos resolveram a situação inicialmente usando multiplicação e a orientação dos professores foi fundamental para ajudar os alunos a compreenderem o conceito de divisão. Essa abordagem foi enriquecida pela compreensão histórica da divisão e pela aplicação dos princípios da Atividade Orientadora de Ensino como estratégia pedagógica por parte dos professores. Deste modo, esse trabalho ilustrou como a criatividade e a pedagogia podem se unir para tornar conceitos matemáticos complexos mais acessíveis e significativos para os alunos dos anos iniciais.

 

Apresentação de pôsteres na UFSM destaca pesquisas em geometria e relatos de experiência 

No contexto de uma série de apresentações de estudantes e professores vindos de diversas universidades do Brasil, representantes da UFSM apresentaram pôsteres, com o objetivo de expor relatos de pesquisas e experiências no campo da Matemática. Três das notáveis apresentações foram realizadas por estudantes da própria instituição:

 

Brenda Barichello Landim, bolsista do grupo PET Matemática da UFSM apresentando o recorte de sua pesquisa de iniciação científica.
  • Brenda Barichello Landim, estudante de Matemática – Bacharelado e bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET) Matemática, apresentou um recorte de sua pesquisa de iniciação científica intitulada ”Origami e Sistema Articulado de Três Barras: A Trissecção de Ângulos por meio do Software GeoGebra”.

O projeto aborda a Trissecção de Ângulos, um desafio da Geometria que busca dividir um ângulo em três partes iguais. Brenda e sua orientadora, a professora Carmen Vieira Mathias, exploram a resolução desse problema por meio de artefatos como: Origami e o Sistema Articulado, adaptados para o software GeoGebra. O objetivo é criar materiais didáticos úteis para professores de Matemática abordarem esse tema em sala de aula e tornar o aprendizado mais envolvente para os estudantes. No contexto pós-pandêmico, a utilização de aplicativos e softwares, mesmo para estudantes do nível básico, tem se tornado cada vez mais comum e instiga mais o interesse dos estudantes devido uma diferente interação com a matemática.

 

 

 

 

Maria José Sanabria Correa, bolsista do Projeto Modelagem Matemática de Impressão 3D da UFSM ao lado de seu pôster.
  • Maria José Sanabria Correa, estudante do 8º semestre de Licenciatura em Matemática e bolsista do projeto “Modelagem Matemática de Impressão 3D”, compartilhou seu trabalho intitulado ”A resolução de problemas de Geometria com o auxílio do software GeoGebra”.

Este explorou as capacidades do software GeoGebra como ferramenta de apoio na resolução de problemas que envolvem relações entre grandezas geométricas. Maria e sua orientadora, a Profª Carmen, optaram por trabalhar com questões das Olimpíadas Brasileiras de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) entre os anos de 2005 a 2022. A ideia é realizar uma oficina com estudantes do ensino médio ligando geometria básica ao cotidiano, de modo a estimular um uso mais intuitivo eficaz desse aplicativo. De acordo com a estudante, “esses problemas permitem explorar conceitos geométricos e algébricos simultaneamente, relacionando grandezas como perímetro, área e volume com o comportamento de funções’’.

 

 

 

Quendra Larangeira, acadêmica de Matemática e bolsista do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI). Os visitantes além de observarem o pôster conseguiram os materiais do jogo sobre a mesa.
  • Quendra Silva Cartier Larangeira, acadêmica do curso de Licenciatura em Matemática (Noturno) e bolsista do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI), apresenta seu projeto intitulado ”Estágio Supervisionado em Matemática: vivências e potencialidades”. Este foi um relato de experiência do Estágio Supervisionado em Matemática I: o contexto escolar e sua organização, realizado em colaboração com a Profª Drª Anemari Roesler Luersen Vieira Lopes.

No estágio, Quendra teve a oportunidade de explorar estratégias inovadoras de ensino. Em particular, ela se deparou com o desafio de apresentar o conteúdo de polinômios de uma maneira prática e envolvente, afastando-se das abordagens tradicionais. Sua pesquisa a levou a descobrir o jogo “Dara Algébrico”, uma adaptação do jogo Dara, originário da Nigéria.

Dara é tradicionalmente jogado pelo povo Dakari e envolve o alinhamento de peças e arranjos estratégicos, promovendo o desenvolvimento de raciocínio lógico-matemático. No contexto do estágio, Quendra o adaptou para trabalhar com polinômios:cada peça do jogo foi associada a um monômio, permitindo que, ao alinhar as peças, os alunos formassem polinômios.

Para a estudante, ”o Dara Algébrico é uma maneira divertida de iniciar um novo conteúdo, além de trabalhar com a base legal que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena na educação básica, desmistificando a ideia de que a Matemática é uma disciplina isolada e mostrando que se pode, sim, trabalhar com a história e cultura afro-brasileira através dela”.

Oficinas Pedagógicas 

Geodesenho:

Participantes desenhando formas geométricas enquanto seus grupos tentam adivinhar.

É um jogo educativo voltado para o ensino de Geometria Plana e Espacial que tem o propósito de ser utilizado como uma atividade pedagógica em sala de aula. O objetivo é promover o aprendizado e a prática de conceitos geométricos de forma lúdica e interativa. Este foi desenvolvido pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Geometria (GEPGEO), associado à Universidade Franciscana (UFN) e ao Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática (PPGECIMAT). 

O Prof. Dr. José Carlos Pinto Leivas, da Universidade Franciscana (UFN), que também foi um dos orientadores do jogo, enfatizou a importância do Geodesenho para os estudantes. Ele destaca que a geometria é ‘’apresentada de forma seca e árida’’ e o jogo além de trazer diversão, é uma forma de melhorar o conteúdo despertando interesse pelos conceitos geométricos. E afirma: ”É nesse sentido que eu tenho batalhado e trabalhado, ver como nós podemos conseguir melhorar esse ensino que é tão debilitado nas escolas, e nas licenciaturas”

Como jogar?

Os participantes são divididos em pelo menos dois grupos. Cada grupo nomeia um desenhista. Este desenhista é responsável por desenhar (em um papel ou lousa) diversas formas geométricas que são escolhidas aleatoriamente de fichas já previamente prontas. Enquanto os desenhistas trabalham para ilustrar a forma geométrica indicada na ficha, os outros membros dos grupos observam e tentam adivinhar qual é essa forma. O jogo continua até que um dos grupos alcance um total de 15 pontos ou mais. Os pontos são obtidos quando os participantes do grupo acertam a forma geométrica desenhada pelo desenhista.

 

Por fim, a VIII Escola de Inverno de Educação Matemática mostrou a importância de explorar mudanças na educação matemática pós-pandemia. As discussões e experiências compartilhadas durante o evento contribuem para a soluções e abordagens eficazes para um ensino de qualidade diante dos desafios do cenário atual.

 

Texto: Maria Eduarda Silva da Silva, acadêmica de jornalismo e bolsista da Subdivisão de Comunicação do CCNE.
Revisão e edição: Natália Huber da Silva, Chefe da Subdivisão de Comunicação do CCNE.

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