O Fundo de Incentivo à Extensão (FIEX), é uma iniciativa da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que tem como objetivo fomentar projetos de extensão. A seleção dos projetos é feita a partir da inscrição em um edital, aberto anualmente. Os que são contemplados, recebem verba para bolsas estudantis, materiais de consumo, transporte ou terceiros. Com isso, a universidade se aproxima da comunidade em geral, colaborando com o desenvolvimento do ensino articulado à pesquisa amparada por recursos institucionais.
Nas próximas semanas serão trazidas três reportagens com projetos de extensão desenvolvidos por servidores e servidoras do CCNE. Estes, já foram contemplados outras vezes com este recurso e tem muitos resultados a divulgar. Nesta primeira reportagem, conheça o projeto “Oficinas Matemáticas”, que utiliza a impressão 3D para facilitar o ensino da geometria nas escolas.
Oficinas Matemáticas: Desenvolvendo habilidades espaciais por meio de modelagem e impressão 3D
Coordenado pela professora Dra. Carmen Mathias, o projeto “Oficinas Matemáticas: Desenvolvendo habilidades espaciais por meio de modelagem e impressão 3D”, produz materiais 3D para levar às escolas da região. Este tem o objetivo de tornar o ensino da matemática mais palpável e dinâmico. A proposta é desenvolver modelos com formas geométricas, para facilitar o ensino do conteúdo de geometria e noções espaciais a estudantes de diferentes anos do ensino básico para facilitar a visualização espacial da matemática.
O projeto atende escolas públicas de ensino fundamental e médio de Santa Maria, apesar de já ter feito impressões para escolas de outros municípios – como Tenente Portela e Formigueiro – não realizou a visita presencial em função dos custos de deslocamento.
Normalmente, o atendimento é solicitado por ex-alunos do Mestrado Profissional em Matemática (PROFMAT) e do Programa de Pós-graduação em Matemática (PPGMAT), que atuam na escola e já conhecem o projeto. Porém, alguns interessados também entram em contato a partir de lives, em que o grupo apresenta o trabalho, bem como a partir da divulgação das ações realizadas nas escolas, feita pelo CCNE. Dessa forma, os atendimentos funcionam sob demanda e não é feito um processo de seleção das instituições contempladas. Para solicitar o atendimento do projeto, basta entrar em contato pelo e-mail carmen@ufsm.br.
A ideia do projeto surgiu durante a pandemia, diante de um problema de geometria encontrado por Carmen, que buscava a possibilidade de que um mesmo objeto encaixasse tanto em um círculo, quanto em um quadrado e em um triângulo. Com uma impressora 3D à disposição em casa, a docente resolveu testar a confecção deste objeto geométrico de uma forma que ela pudesse tocar e medir. Com a surpreendente eficácia do resultado, Carmen decidiu propor um projeto que trabalhasse com a confecção e uso das impressões geométricas para facilitar o entendimento dos seus alunos.
O método já vinha sendo testado e pesquisado desde essa época, porém o projeto de extensão nasceu de forma prática apenas no ano passado (2022), com a volta das atividades presenciais. Para isso, contou com a aquisição de uma impressora 3D para o Laboratório de Ensino e Pesquisa em Educação Matemática – onde o grupo se reúne. O equipamento foi adquirido com muitas colaborações e recursos da Direção do Centro de Ciências Naturais e Exatas (CCNE), do Curso de Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (PROFMAT) e da Coordenação do Curso de Matemática.
A iniciativa do projeto de extensão se deu em parceria com o professor Fernando Bayer, do curso de “Fabricação Mecânica” do Colégio Técnico Industrial de Santa Maria (CTISM). A parceria é fundamental, pois no CTISM são projetados alguns sólidos, por meio do software de Desenho Assistido por Computador (CAD) – usado para projetar e fabricar protótipos, dentre outras funções. A colaboração com este curso foi benéfica, até mesmo para reposição do PLA (ácido polilático) – um filamento composto de um polímero termoplástico, usado como matéria-prima para imprimir – já que o CTISM possui o material.
A profª. Carmen comenta sobre as dificuldades enfrentadas para custear os projetos de extensão, já que, neste ano, o FIEX somente conseguiu custear bolsistas e não os outros custos:
“O professor universitário precisa obrigatoriamente fazer ensino. A maioria também faz pesquisa, principalmente os que estão envolvidos em programas de pós-graduação – que têm fomento mais fácil. Mas, aquele professor que faz extensão não tem fomento nenhum. Muitas vezes não tem nem material. Por exemplo, se não fosse o CTISM, a gente teria que tirar do bolso por não ter custeio. Essas coisas dificultam o trabalho, mas nem por isso vamos deixar de fazer“
Mesmo com as dificuldades para manter o projeto, o valor de cada sólido produzido fica em torno de cinco centavos e se torna barato para distribuir nas escolas.
Assim, o grupo de extensão, composto pela professora e mais quatro bolsistas – sendo um deles bolsista FIEX – visita escolas de Santa Maria, ouve as demandas e constrói o que é necessário para atendê-las, junto ao professor. O auxílio se dá desde o projeto e impressão de sólidos para o ensino, até ajuda com a parte técnica, em caso de escolas que possuem impressora própria
No primeiro ano do projeto, também foram produzidos jogos matemáticos para o laboratório, que auxiliam no ensino a estudantes do ensino superior. Agora, no segundo ano, o foco está voltado para as escolas de nível básico, com a promoção de minicursos e oficinas. Os professores envolvidos utilizam a impressora pessoal, que é de mais fácil portabilidade, para demonstrar como é realizada a fabricação dentro das próprias escolas.
Em uma das iniciativas realizadas, o grupo atendeu a demanda da escola municipal Castro Alves, em Santa Maria, e imprimiu os objetos criados pelos próprios estudantes em aula anterior. Eles tiveram o auxílio do professor e utilizaram o software GeoGebra, conhecido na área da matemática. Com isso, a turma recebeu em mãos o trabalho realizado por eles mesmos, através da impressão 3D, tecnologia a qual não possuíam acesso.
Além disso, representantes do projeto participarão do “VII Encontro de Matemática Pura e Aplicada”, em Campina Grande, na Paraíba, para ministrar uma oficina. Segundo a professora, o principal intuito é divulgar a matemática e auxiliar outros profissionais a promoverem esse método de ensino, que leva algo mais eficaz para a visualização espacial da geometria.
Com isso, a intenção não é apenas mostrar os objetos impressos e apresentar os recursos matemáticos presentes na impressão 3D, mas também instigar olhares distintos para a matemática. “Precisamos de alguma forma cativar as pessoas e mostrar que a matemática pode ser divertida. A matemática não é feita apenas de um amontoado de contas, que muitas vezes não fazem nenhum sentido para o aluno. Não precisa ser complicado, pode ser algo legal e concreto. E é o que estamos tentando fazer”, conclui Carmen.
Projetos como este, nos mostram que são essenciais para promover e facilitar o ensino de disciplinas básicas através da extensão. Acompanhe as próximas reportagens e conheça mais projetos que contribuem para expandir a universidade para além do arco.
Texto: Júlia Weber, acadêmica de jornalismo e bolsista da Subdivisão de Comunicação do CCNE.
Revisão e edição: Natália Huber, Chefe da Subdivisão de Comunicação do CCNE.