A meteorologia é uma ciência que estuda a atmosfera e seus fenômenos, com o intuito de realizar uma previsão com a maior precisão possível. Essas informações climáticas são essenciais para todos, afinal é preciso se preparar para receber o que a natureza reserva. Por isso, os grupos acadêmicos da meteorologia trabalham para desenvolver modelos aprimorados de detecção dos fenômenos, analisar acontecimentos, discutí-los e entendê-los para poder prevê-los no futuro.
Grupo de Pesquisas Climáticas (GPC)
Voltado para pesquisas climáticas em geral, o Grupo de Pesquisas Climáticas estuda fenômenos como o conhecido El Niño, além de debruçar-se um pouco sobre mudanças climáticas e previsão do clima. Coordenado pelas professoras Simone Erotildes Teleginski Ferraz e Nathalie Boiaski – ambas docentes do CCNE – conta também com a participação da professora Angelica Durigon, do Centro de Ciências Rurais da UFSM, na orientação de alunos – principalmente da pós-graduação, que se interessam em saber como as variabilidades climáticas afetam a agricultura.
O grupo inclui discentes de todos os níveis acadêmicos, desde a graduação até o pós-doutorado, bem como alunos de fora do país. Atualmente, dois estrangeiros fazem parte do projeto, um doutorando da África do Sul e um pós-doutorando do Equador. A professora Simone conta que também recebem constantemente estudantes de diversos lugares do Brasil, justamente pela falta de pesquisadores especificamente da área climática no país. Ainda assim, é referência em pesquisas da meteorologia, o que o torna destino de estudos para acadêmicos de outras nações.
Uma vez que o clima é muito amplo para ser estudado de forma geral e possui muitos fatores de influência, foram sendo definidas linhas de pesquisa direcionadas. Muitas vezes um aluno de determinada região deseja estudar sobre sua localidade e necessita de informações mais precisas, o que pode se tornar um ponto inicial para um grande projeto que desenvolva outros trabalhos. Na maioria das vezes os projetos nascem por uma demanda de dados sobre o tema – como é o caso do último, que estava sendo desenvolvido até o início deste ano.
O estudo visava determinar como se dá o funcionamento do regime de chuvas no sudeste. No sul chove durante todo o ano e com as frentes frias, ficam mais evidentes as causas. Já no sudeste, o período de chuva é concentrado no verão, o que dificulta a previsão e, consequentemente, causa alagamentos. Alunos de todos os níveis presentes no grupo estudaram diversos aspectos – como a relação com a zona de convergência do atlântico sul, o funcionamento dos ventos, a existência ou não de influência do El Niño, entre outras – afinal, até mesmo influências na Antártida podem afetar no regime de chuvas.
São dois laboratórios à disposição dos membros, que contam com o auxílio do doutor em meteorologia, Daniel Caetano Santos, que desempenha há 12 anos a função de Técnico Administrativo em Educação na UFSM. A prática em laboratórios, o apoio dos profissionais e o contato com estudantes de outros níveis acadêmicos, de acordo com Simone, são primordiais para manter os alunos de graduação no curso. Ela ressalta que quando um acadêmico começa a fazer iniciação científica a partir do segundo semestre, as chances de desistência são menores.
Isso porque os estudantes, principalmente de áreas das exatas, se deparam com conteúdos muito difíceis, para os quais, na maioria das vezes, não tiveram uma base adequada durante o ensino médio e acabam desestimulados. A troca com outros que já passaram pela mesma situação e conseguiram superar, bem como o acesso mais direto ao conhecimento produzido de forma prática, mostram o outro lado, além dos cálculos puros, e geram estímulos aos discentes.
A professora Simone relata que a relação de amizade estabelecida com seus alunos, muitas vezes, mantém o contato mesmo após a formatura, como é o caso da primeira turma do grupo. Para ela é gratificante vê-los desempenharem suas funções com excelência – tanto no mercado de trabalho quanto na docência – pois o objetivo final da universidade é formar profissionais. E o GPC também tem essa missão, preparar especialistas, promovendo e integrando-se com o lado humano e social dos estudantes. .
Dito isso, destaca-se uma das atividades desenvolvidas pelo grupo: seminários internos sobre os acontecimentos da última estação, inclusive desastres ou eventos extremos. Simone afirma que tais atribuições são muito importantes para os alunos desenvolverem suas habilidades de oratória e apresentação em público. Habilidades como essa ressaltam a importância dos grupos acadêmicos e as experiências geradas por eles para a construção do conhecimento e o desenvolvimento pessoal e profissional.
Laboratório de Hidrometeorologia (LHMET)
A meteorologia possui diversas aplicações, e uma delas é a Hidrometeorologia, que foca no papel da água, suas diferentes fases, sua determinação no clima de uma região, etc. Comandado pelo professor Jônatan Tatsch, que também é coordenador do curso de Meteorologia, o Laboratório de Hidrometeorologia trabalha com a previsão e todos os componentes do ciclo hidrológico, para medir suas etapas – a quantidade de água no solo, de evaporação na atmosfera, de chuva, a quantidade que será transportada para outras regiões, e consequentemente, qual será a sobra e a evasão que escoará para o rio, pela superfície e por baixo dela.
O trabalho envolve desenvolver a ciência para que se faça o uso sustentável dos recursos hídricos e para aumentar a previsibilidade hidrológica. Ou seja, são utilizadas informações climáticas disponíveis na atualidade, para meses à frente, pelos centros de previsão – como o europeu e o americano, os mais usados – e aprimorá-las. Afinal, todas as previsões climáticas disponibilizadas têm erros inerentes, por questões advindas da dificuldade de se fazer a previsibilidade numérica do tempo.
Há vários mecanismos para usar a previsão que existe para todo o globo – apesar da impossibilidade de medição de chuva e de temperatura em todos os pontos específicos do mundo. Para a zona do Brasil, por exemplo, a informação de chuva média é dada em uma área de 100 por 100 km – uma grande área. Dentro dela existe muita variabilidade, pois os modelos dão a informação somente média para um espaço substancial. Então, o grupo tenta precisá-las para regiões menores. É necessário também, ter uma amostragem adequada do quanto choveu hoje ou dias atrás, para que se possa prever o quanto vai chover no futuro e não correr o risco de extrapolação. Com isso, busca-se identificar os volumes hídricos que estarão disponíveis com maior exatidão.
Dessa forma, consegue-se prever e aplicar, por exemplo, a capacidade de água disponível nas represas, qual é a quantidade de energia que poderá ser gerada numa dada usina hidrelétrica – de um até nove meses à frente com uma boa margem de erro. Gera-se assim, dados relevantes para a produção, distribuição e comercialização de energia – uma grande área no setor privado da meteorologia. Além das usinas, a agricultura também pode se beneficiar das informações geradas pelo LHMET, para saber qual será a produtividade da próxima safra, se haverá risco de enchente, risco de seca, dentre outras prospecções.
Para isso, são utilizadas diversas ferramentas computacionais, que tem como principal meio o computador e o uso de linguagens de programação. Através dos algoritmos de pós-processamento de previsões atmosféricas, é possível remover um pouco dos ruídos que vão ocorrer e gerar a chamada previsão corrigida, que capta melhor o sinal da variabilidade do tempo.
O professor Jônatan ressalta que hoje a inserção no campo profissional fica mais fácil se o aluno já tiver experiência em gerar produtos que o mercado demanda atualmente. A participação em grupos, como o da hidrometeorologia, proporcionam a oportunidade de acompanhar toda a cadeia de produção meteorológica – que vai desde o processamento de uma grande quantidade de dados, a adaptação dessa informação a ser utilizada em um dado modelo, entre outros. Segundo ele, “[os alunos] têm a oportunidade de acompanhar todas as etapas que existem pra gente pegar a informação meteorológica bruta e transformá-la em um produto que seja útil para algum setor da sociedade”.
Destaca ainda, a integração entre estudantes de iniciação científica e pós-graduandos, que compartilham experiências e se auxiliam. Além disso, há a interação com os demais laboratórios. O professor ressalta o Grupo de Previsões Climáticas, das professoras Simone e Nathalie, como um dos principais aliados na troca de informações. Por trabalhar ou gerar previsões climáticas para meses à frente, o material desenvolvido pelo GPC é útil para a hidrometeorologia. Estes aplicados aos modelos hidrológicos e algoritmos utilizados pelo LHMET podem gerar uma previsão hidrológica aperfeiçoada.
A interação e relação do LHMET com o laboratório de micrometeorologia do Grupo Interações Superfície Atmosfera na Rede Sulflux e com o Grupo de Modelagem Atmosférica (GruMA), grupos acadêmicos da meteorologia que serão apresentados na próxima reportagem, – é estreita. O Sulflux, por exemplo, estuda aspectos relacionados ao desenvolvimento de formas de prever quanto uma dada cultura agrícola vai evapotranspirar e como funcionam esses ecossistemas. Com essa informação, é possível integrar os modelos hidrológicos desenvolvidos pelo LHMET, para prever melhor a vazão.
O intercâmbio de informações e a colaboração entre estes grupos acadêmicos é essencial no processo de pesquisa, pois vários os fenômenos estudados por cada se entrelaçam e, de certa maneira, se complementam. Afinal, um fenômeno não acontece de maneira isolada, sendo necessário unir forças para desvendá-los e encontrar formas mais eficientes de prevê-los. Na segunda parte da reportagem, os novos grupos supracitados e suas áreas de estudo serão abordados e continuarão a contar um pouco mais dos grupos acadêmicos da meteorologia.