Nesta última sexta, dia 10, a Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Naturais e Exatas (CCNE) abriu o seu espaço e convidou a comunidade acadêmica para vir refletir sobre os impactos da maternidade no meio acadêmico em alusão ao dia das mães. O encontro levantou questões de uma realidade que é bastante romantizada e que se perde em meio a flores e presentes pelo fato de ser uma data muito explorada pelo mercado. Assim, para a organização, a data comemorativa encontra-se esvaziada de sentido e de discussões sobre o que é ser mãe.
O evento veio discutir que ser mãe não é algo impresso no gene e sim uma construção social, a responsabilidade do cuidado dos filhos nem sempre foi responsabilidade materna, mas foi desenvolvida e naturalizada através de processos históricos, discutir sobre o tema é romper com uma ideia que adoece e oprime mulheres e impacta diretamente a vida das mães que decidem seguir carreira acadêmica, não conseguindo recuperar a produtividade exigida da universidade e se encontram em posições desiguais de competição perante seus colegas do sexo masculino. A academia foi durante muito tempo ocupada por homens que estavam no centro do conhecimento epistemológico, vozes de mulheres dificilmente foram ouvidas, hoje se tem mais abertura para essas vozes, porém, a universidade ainda é hostil com determinados assuntos como maternidade.
O número de participantes foi em torno de 30 pessoas, estavam presentes uma comissão, formada por diversos profissionais da UFSM e que pretende criar mecanismos que comportem a vivência das mães que estudam na Universidade que moram na casa do estudante, diferentes tipos de mães que carregam suas próprias pautas e se veem desamparadas pela UFSM, no que diz respeito a editais, fraldário, a creches etc.
Daniel Stack, acadêmico de Ciências Sociais e bolsista na biblioteca, e que esteve à frente da organização do evento relata que “Discutir sobre maternidade é fundamental para compreender a construção histórica em cima da ideia de maternidade como algo instintivo, aprendi durante a conversa, que a maternidade tem um impacto muito grande sobre a mulher, é um trabalho extremamente desgastante, e em diversos casos falta uma rede de apoio efetiva que acolha e torne esse processo menos exaustivo. Falta uma rede de acolhimento, aqui dentro da UFSM há professores que não aceitam crianças e mães em suas aulas e não compreendem que cuidar de uma vida e permanecer no espaço acadêmico é difícil. Nesse período de dias mães tiramos um domingo para agradecer as mamães pelo sacrifício que fazem, romantizamos e disseminamos a ideia de que ser mãe é se doar o tempo todo e esquecer de si mesma, algo cruel para ser imposto a qualquer indivíduo. Também devemos pensar que a sociedade não cobra as mesmas atitudes do pai, é importante lutar para uma socialização do cuidado, pois enquanto 28% das mães desistem do emprego após o nascimento dos filhos, o inverso acontece com percentual 5% para os pais.”
O encontro foi conduzido e mediado pela mestre e doutora em filosofia, Prof. Letícia Machado Spinelli, que coordenou um grupo de teoria política feminista onde temas como maternidade apareciam de modos transversais com o feminismo e pela turismóloga, acadêmica de ciências sociais e mãe, Carol Farneze.
Texto por: Daniel Stack, acadêmico de Ciências Sociais e bolsista da Biblioteca Setorial do CCNE.
Revisão: Wellington Gonçalves, relações públicas do Núcleo de Divulgação Institucional do CCNE