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Cuidado: o Agro é tóxico

Você com certeza já deve ter ouvido falar em agrotóxico, pois o Brasil é o país que mais usa agrotóxico no mundo. Há que defenda e há quem seja contra o uso destas substâncias químicas para controlar as famosas “pragas” que ocorrem nas plantações, na agricultura.



Charge de Gilmar Fraga.

Você com certeza já deve ter ouvido falar em agrotóxico, pois o Brasil é o país que mais usa agrotóxico no mundo. Há que defenda e há quem seja contra o uso destas substâncias químicas para controlar as famosas “pragas” que ocorrem nas plantações, na agricultura. Ultimamente, esse assunto tem sido bastante comentado na mídia devido ao Projeto de Lei 6299/02, também chamado de “PL do Veneno”. Esse projeto visa atualizar uma lei já existente e propor novas mudanças, incluindo o nome agrotóxico para “defensivo fitossanitário”. A mudança de nome apenas mascara a nocividade dessas substâncias. Mas, é importante entender o que são os agrotóxicos e quais danos eles podem causar.

O termo agrotóxico é utilizado para definir uma grande quantidade de substâncias químicas que são utilizadas na agricultura para matar diversos organismos que podem danificar as plantações, como insetos (inseticidas), ácaros (acaricidas), fungos (fungicidas), ervas daninhas (herbicidas), entre outros. Esses compostos apresentam alta mobilidade no ambiente, ou seja, eles não ficam restritos ao local de aplicação. Através do solo, esses compostos conseguem alcançar os corpos d’água e contaminar o ambiente aquático gerando grandes danos aos animais e plantas aquáticas. A intensidade da contaminação depende de diversos fatores como a distância entre o local de aplicação e o corpo d’água, o tipo de solo e o clima. As chuvas que ocorrem após a aplicação destes agrotóxicos também ajudam para que eles cheguem com maior facilidade até o ambiente aquático.

Além dos humanos, vários outros organismos são extremamente prejudicados pelos agrotóxicos, principalmente os que dependem do ambiente aquático para se desenvolverem e completarem seu ciclo de vida. Um exemplo são os girinos (forma larval dos sapos, rãs e pererecas), isto porque a maioria das espécies tem o seu desenvolvimento larval no meio aquático. Diversos estudos mostram os danos que os agrotóxicos podem causar nesses animais, principalmente danos morfológicos como: malformações no crânio, olhos, boca e na cauda. Como são muitos os tipos de compostos utilizados, ainda não temos o conhecimento dos danos que cada um deles pode causar nos diferentes organismos. Por isso, pesquisadores tem juntado esforços para desenvolver experimentos em laboratório, com o objetivo de verificar a toxicidade dos compostos e os danos causados aos organismos.

As pesquisas que são realizadas abordando esta temática, de maneira geral, tem como metodologia a exposição destes organismos a determinadas concentrações de agrotóxicos para que possamos verificar se houve ou não danos após a exposição.  No caso dos girinos, para verificar os danos, pode-se analisar a morfologia, a fim de encontrar alguma malformação ou também recolher amostras de tecido para análises bioquímicas, genéticas, moleculares, etc. Essas pesquisas são de extrema importância para que possamos obter uma variedade de respostas de diferentes organismos para determinado composto. Avaliando a toxicidade dessas substâncias pode-se desenvolver medidas para preservação dos ambientes nativos, que ainda restam, já que com o aumento da conversão das paisagens para agricultura, há também o aumento do uso de agrotóxicos e consequentemente maior contaminação ambiental.

No Brasil, os agrotóxicos são a segunda principal fonte de contaminação do ambiente aquático. Com estas informações em mãos, é possível também exigir dos órgãos governamentais medidas mais restritivas quanto ao uso destes “venenos” que podem acabar com diversas espécies, gerando um desequilíbrio ambiental irreversível.

 

Texto: Guilherme Azambuja,  Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Animal da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

Revisão: Sônia Zanini Cechin, coordenadora do Laboratório de Herpetologia e diretora do CCNE.

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