Elegemos algumas produções de Clarice Lispector (1920-1977) para serem trabalhadas no transcorrer deste ano. Marcante escritora que surge no cenário literário brasileiro nos anos 40, a mulher e escritora C.L. resiste às tentativas de enquadramentos e definições. Sua escrita marca a configuração de uma linguagem fragmentária, descontínua e que rompe com a forma narrativa de narrar de seu tempo. A experimentação linguística da escritora extrapola o campo semântico dicionarizado, construindo seus próprios referentes, atraindo muitas pessoas na tentativa de decifrar o indecifrável. Para muitos provoca fascínio, para outros, mal-estar e perplexidade.
Clarice Lispector nos apresenta produções que são um convite para renovar os votos do enlace entre psicanálise e literatura. Desde Freud, referência a obras literárias é constante, como fonte de conhecimento privilegiado do inconsciente. A psicanálise pode exercer uma função crítica em relação à literatura, produzindo possibilidades de leituras. Por sua vez, a literatura que também constituiu e constitui a psicanálise, pode suscitar ressonâncias, relançando questões importantes no terreno psicanalítico.