por Pedro Brum Santos
A pianista e professora Glória Chagas (Glória de Lourdes Izaguirre Chagas) faleceu na quarta-feira, 29 de julho, após complicações de enfermidade e cuidados especiais prolongados. Destacada por sua dedicação e competência, fez parte do grupo docente inicial do Curso de Música da UFSM, fundado em 1963. Geraldo Maissiat, convidado pelo reitor fundador Mariano da Rocha Filho para os trabalhos de montagem da área, convocou-a para auxiliar no primeiro vestibular e atuar como professora de piano por ocasião da turma inaugural. Bacharel pela UFRGS (na época URGS), Glória fora contemporânea de formação do próprio Maissiat, bem como de Anna Maria Kliemann e Ellen Rolim, músicos que, em momento subsequente, tornaram-se seus colegas de universidade. Na década de 1960, participou ativamente do ambiente musical santa-mariense, coordenando e promovendo revistas e concertos. Atuou na condição de integrante da Associação Rio-grandense de Música (que funcionava no Centro Cultural, sede do Theatro 13 de Maio), e, também, na condição de promotora de recitais de piano ou duos de Câmara. Na Faculdade de Belas Artes organizou vários eventos junto com o professor Geraldo Maissiat. Mais tarde, cursou seu mestrado nos Estados Unidos, fato que, no retorno, incrementou sua atuação acadêmica. Costumava contar que a Música, na UFSM, começou com o piano em decorrência de uma espécie de cultura da cidade, que contava, na época, com bacharéis no instrumento, como ela e Ellen Rolim, e, também, pela existência de conservatórios e professores particulares dedicados à música de piano. Mesmo trabalhando desde a fundação do Curso, Glória somente se tornou professora exclusiva a partir da criação do Bacharelado em Piano, já no âmbito da Faculdade de Belas Artes (antes disso, dedicava 12 horas à instituição e o restante do tempo ocupava-se com o ensino para crianças no Instituto de Educação Olavo Bilac). Na Faculdade, participou do primeiro concurso docente da Licenciatura em Música. Além de atuar nas disciplinas piano, Glória Chagas ministrou a docência de História da Música. Como professora de piano, incentivava a apresentação pública de seus alunos em diferentes recitais. Fruto de seu envolvimento com a área passou a acompanhar obras do grupo de flautas e, posteriormente, destacou-se como clarinetista no projeto de orquestra possível do professor Frederico Richter. Tornou-se, por esse caminho, professora fundadora do Curso de Bacharelado em Clarinete na década de 1980. Tanto na sua atividade docente como na de intérprete, reiteradamente, apresentava as características do repertório contextualizando o compositor em seu período e dando destaque ao gênero e estilo musical de cada peça. Numa entrevista balanço, concedida à colega Maria del Carmen, em 2014, afirmou que nunca se interessou pelas questões políticas ou pela disputa de cargos na universidade: “sou de estudo, eu sou de trabalho, eu sou de serviço, para tudo eu sirvo”. E do trabalho com seus diferentes colegas, lembrando as precárias condições de infraestrutura da época, destacou o quanto eram movidos pelo ideal da música e da arte: “nós éramos um grupo que trabalhava e se organizava, um grupo de sonhadores”.
Maria del Carmen, hoje docente aposentada e pesquisadora da história do Curso de Música na UFSM, destaca o papel decisivo de Glória Chagas junto a colegas que foram se somando ao ideal de sedimentar o ensino da música na universidade e por meio da atuação de diferentes grupos vocais, instrumentais e vocais-instrumentais: “acompanharam e participaram da fundação, desenvolvimento e crescimento da atual Universidade de Santa Maria que continua firme e forte na busca do aprimoramento, atualização do conhecimento e sua divulgação, estabelecendo um constante intercâmbio entre o ensino acadêmico e sua repercussão e interação com a sociedade de Santa Maria e região”. A professora Lise Bulcão está entre as dezenas de ex-alunos e ex-colegas que se manifestaram nas redes sociais por ocasião do falecimento de Glória Chagas: “minha querida professora de História da Arte e de vida descansou. Todos seus alunos que tiveram, como eu, o privilégio de absorver o conhecimento, a grandeza, o profissionalismo e o amor com que sempre compartilhou seus conhecimentos, nunca a esquecerão. Seu otimismo, sua disponibilidade em ajudar os outros, sua facilidade em minimizar e resolver os problemas são lições que nunca vou esquecer. Amiga da minha mãe, minha professora , minha amiga. Vai em paz, Glorinha, vais nos fazer muita falta!”
Da esquerda para a direita: Rose Braunstein, Geraldo Maissiat, Vera Soares, Glória de Lourdes Izaguirre Chagas, Lise Bulcão. Foto de agosto de 1996, casa da professora Lise Bulcão. (acervo Lise Bulcão).