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Grupo de pesquisa quantifica impactos das inundações em Cachoeira do Sul

Estima-se que 1.533 pessoas tenham sido atingidas na cidade, em uma área equivalente a 222,5 campos de futebol



A fim de dimensionar o desastre de maio de 2024 e qual foi o impacto das águas que transbordaram do leito do Rio Jacuí no distrito-sede de Cachoeira do Sul, o Grupo de Pesquisa “Planejamento e Projeto da Paisagem”, vinculado ao projeto de pesquisa “Ecologia da Paisagem: o uso de métricas da paisagem aplicado à análise e planejamento da paisagem urbana e rural da Região Geográfica Imediata de Cachoeira do Sul-RS”, modelou e mapeou a abrangência da mancha de inundação.

As professoras do curso de Arquitetura e Urbanismo do campus de Cachoeira do Sul, Raquel Weiss, Letícia de Castro Gabriel e Débora Gregoletto, acompanhadas por Carolina Salzano Rocha, aluna de graduação CAU-UFSM/CS, Ariel Felipe Geraldo Zaghetti, aluno de graduação CAU-UFSM/CS, Lorena Costa Colares, aluna de graduação CAU-UFSM/CS, e Maicon Pinto de Moraes, pós-graduado PPGAUP-UFSM, trabalham na ação vinculada ao Programa “UFSM Solidária e Cidadão”.
Os dados apresentados visaram quantificar a área alcançada pelas águas nos bairros adjacentes à beira do Rio Jacuí na cidade, bem como o número de edificações e pessoas atingidas. E a partir de comparações, buscou-se, primeiramente, dimensionar a ordem do que materialmente sofreu prejuízos, mas sobretudo identificar quais os locais habitados e a caracterização da comunidade então desalojada e desabrigada. Num segundo momento, o estudo busca contribuir para as ações dos entes públicos, tanto para estimar cenários de reconstrução das moradias ou de realocação das famílias, quanto para a gestão dessas áreas suscetíveis ao risco e desastres naturais.

Figura 01: Mancha de inundação do Rio Jacuí nos bairros do distrito-sede de Cachoeira do Sul/RS. Em azul, o leito normal, em marrom, a área da inundação e em vermelho, as edificações atingidas.
Fonte: elaborado por GP “Planejamento e Projeto da Paisagem”, 2024.

Os primeiros resultados podem ser acompanhados em publicações no Grupo de Pesquisa: Planejamento e Projeto da Paisagem em seu Instagram, a partir de vídeos, os quais contribuem, visualmente, para informar a população bem como sensibilizá-la sobre a dimensão e a localização dos impactos e estragos.
Em condições normais, o nível do Rio Jacuí (monitorado por Jacuhy Ambiental), à jusante da barragem do Fandango, é de 16,50 m. Em 01.05, a medição foi de 23,28 m, já ultrapassando a cota de alerta para inundação de 21,50 m. Em 04.05, foi atingido o nível mais elevado de 28,48 m, passando a decair desde então. Mas em 17.05, ainda encontrava-se elevado, em 23,46 m.

Os bairros afetados foram 7 – Fátima, Marques Ribeiro, Aldeia, Carvalho, Cristo Rei, Augusta e Mauá – e estima-se que 1.533 pessoas tenham sido atingidas, representando 2,13% da população total do município. Quanto à renda das pessoas diretamente envolvidas, a média mensal seria de 2 salários mínimos por responsável do domicílio, este possuindo ou não rendimento.

Verificou-se 613 edificações inundadas, ou seja, 9% do total de 6.809 edificações da área urbana dos 7 bairros, 36.970,60 m² de área total edificada inundada, sendo 60,30 m² de área média edificada inundada.

Figura 02: Bairro Cristo Rei
Fonte: Francisca Petrucci, 2024.

A título de comparação, o total de área edificada inundada corresponderia a 31,5 igrejas matrizes Nsa Sra da Conceição (que possui área de 1.175,00 m²) atingidas pelas águas ou como se 92 Châteauxs d’Eau (que possui área de 402,30 m²) tivessem sido afetados. Em termos de elementos urbanos, é como se 102,7 lotes de 12 m x 30 m (área de 360,00 m²) estivessem em contato com as águas. E, ainda, cerca de 14 quadras do bairro Rio Branco ou 20 quadras do bairro Noêmia, as quais ocupadas pelo mesmo quantitativo de edificações, cujas casas e negócios não estivessem com seus moradores nem comercializando ou prestando serviços, muito menos oferecendo aulas ou com serviços de água e energia normalizados, e cujos e pertences em geral, perdidos/inutilizados.
O bairro Cristo Rei mostrou-se, majoritariamente, o mais afetado. Das 809 edificações, 443 estão ou estiveram no caminho das águas. Isto representa 54,75%
do total de edificações do bairro e 72,3% do total de edificações pertencentes a todos os bairros que foram inundados. Portanto, apenas 27,7% do bairro ficou fora da mancha de inundação e cerca de 1.105 pessoas precisaram ir a abrigos/casas de amigos ou familiares.

Dado que a área média edificada inundada do bairro Cristo Rei foi de 40,70m², equivale dizer que uma vida de trabalho, conquistas e afetos, aproximadamente, cabia em 4 ambientes de 3m x 3 m e 1 banheiro de 2,5 m². E justamente a tragédia recaiu em famílias cuja renda média mensal seria de 1 salário mínimo, posto que a média de habitantes/domicílio é 2,5 (IBGE, 2022), perfaria 40% do salário mínimo por morador. Considerar o valor máximo do rendimento mensal para o município de Cachoeira do Sul (IBGE, 2010) atingindo 9 salários mínimos e o valor mínimo, menos de 1 salário mínimo. Ou seja, evidencia-se espacialmente a desigualdade social, a qual está exposta ao risco e ao desastre por localizar-se em uma área sensível ambientalmente.

Figura 03: Estragos no bairro Cristo Rei
Fonte: Francisca Petrucci, 2024.

Já o segundo bairro mais atingido foi o Augusta, que das 743 edificações, 99 foram inundadas e cerca de 248 pessoas acometidas. Isto representa 13,32% do total de edificações do bairro e 16,15% do total de edificações dos bairros impactados.

Sobre a extensão das áreas inundadas, constatou-se que 2.402.606,90 m² ou 240,26 ha foi a área total inundada, ou seja, 215,24% em relação ao nível normal do Rio Jacuí. A título de comparação, o total de área inundada corresponderia a 222,5 campos de futebol oficiais (que possui área de 10.800,00 m²) atingidos pelas águas. Em termos de elementos urbanos, é como se 240 quadras quadrangulares (de, aproximadamente, 100 metros de lado) estivessem com a presença de água. Ou, ainda, um montante, em termos quantitativos, de 73 quadras no bairro Noêmia, 63 no bairro Centro, 51 no bairro Soares, 38 no bairro Rio Branco e 15 no bairro Virgilino Jayme Zinn. Dentre os 7 bairros atingidos, novamente, o bairro Cristo Rei foi o significativamente mais afetado, pois teve a maior porcentagem de área inundada, 77,65%, representando 350.714,90 m² e 14,6% da área total integrante de todos os bairros inundados.

Como continuidade da ação, simulações serão produzidas para exemplificar a necessidade de preservação e proteção dos recursos naturais, especialmente das APPs, e de que áreas sensíveis precisam ser consideradas para amortecer os efeitos das águas bem como ocupações humanas em áreas de risco e de desastres naturais necessitam ser reconsideradas. Assim cenários serão estimados para a realocação das famílias, informando qual a quantidade e a melhor localização de lotes ou, ainda, sobre o parcelamento de gleba(s) na mancha urbana consolidada. A médio e longo prazo, constituem-se como discussão de possíveis alternativas à ocupação residencial em áreas suscetíveis ao risco e desastres naturais.

 

Com informações e imagens do Grupo de Pesquisa Planejamento e Projeto da Paisagem.

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