Grupo de pesquisa analisa a viabilidade técnica-comercial de vacina desenvolvida para o combate do parasita
Atualmente, o Brasil se destaca como o segundo maior produtor de carne bovina do mundo, contabilizando um rebanho estimado em 193,4 milhões de cabeças. Além disso, possui capacidade para exportar cerca de 1,45 milhão de toneladas de carne e ocupa o sexto lugar na produção mundial de leite (ANUALPEC, 2022). Esses números evidenciam a relevância do país na produção de proteína animal em escala internacional. No entanto, o aumento do rebanho ocasiona uma maior incidência de parasitas que afetam esses animais, como os carrapatos.
Conforme o Médico veterinário e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Itabajara da Silva Vaz Junior, o carrapato bovino (Rhipicephalus. microplus) traz prejuízos à bovinocultura, através da transmissão de agentes de doenças, despesas com excesso de produtos e queda na produção pecuária. O parasita é presente em regiões tropicais e subtropicais, sendo uma das espécies de maior distribuição mundial.
O carrapato bovino é um ectoparasita hematófago, isto é, se alimenta de sangue. Além disso, também é um vetor de patógenos que causam algumas doenças, como a babesiose e a anaplasmose. Essas enfermidades são responsáveis por índices elevados de mortalidade, cujas medidas de prevenção e ocorrência de surtos impactam economicamente a atividade da pecuária.
O controle imunológico desta espécie não é comum, como informa o professor. Isso porque ainda não há vacinas comerciais com nível de proteção suficiente para proteger os bovinos. O controle mais utilizado, é o uso de acaricidas sintéticos, frequentemente criticados pelo custo e necessidades específicas. “Outra desvantagem dessa forma de controle é a crescente seleção de populações resistentes aos princípios ativos que compõem as formulações desses acaricidas. Portanto, o uso de uma vacina evitaria, ou diminuiria, o uso de acaricidas”, explica Itabajara Junior.
Ao considerar esse cenário, um grupo de pesquisa utilizou resultados prévios que caracterizaram proteínas de diferentes espécies de carrapatos com potencial para serem utilizadas em uma vacina. O objetivo seria aumentar o conhecimento da biologia dos carrapatos e propor alternativas eficazes de controle. Com base nestes dados, a equipe do professor Itabajara realizou a formulação de 20 patentes depositadas junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), além de um registro no Uruguai e um no Paquistão.
O projeto é desenvolvido, atualmente, em parceria com uma empresa brasileira de produtos veterinários. Com isso, é possível analisar a viabilidade técnica-comercial da vacina desenvolvida pelo grupo. A equipe usa diferentes metodologias de bioquímica, imunologia e biologia molecular para identificar e selecionar componentes importantes para a fisiologia do parasito. Como exemplo, o professor cita os avanços nas tecnologias “ômicas” (como genômica, transcriptômica e proteômica), as quais abriram oportunidades para ampliar a capacidade de identificação de novos antígenos vacinais.
Referências:
Rodríguez-Mallon, A. 2023. The Bm86 discovery: a revolution in the development of anti-tick vaccines. Pathogens 12:231. doi: 10.3390/pathogens12020231
Abbas, M. N., Jmel, M. A., Mekki, I., Dijkgraaf, I., and Kotsyfakis, M. 2023. Recent advances in tick antigen discovery and anti-tick vaccine development. Int. J. Mol. Sci. 24:4969. doi: 10.3390/ijms24054969
Parizi, L.F.; Githaka, N.W.; Logullo, C.; Zhou, J.; Onuma, M.; Termignoni, C.; da Silva Vaz, I., Jr. Universal Tick Vaccines: Candidates and Remaining Challenges. Animals 2023, 13, 2031. https://doi.org/10.3390/ani13122031
Tayline Alves
Bolsista de comunicação da Ciência Rural