Por Helena Bornhorst (Psicóloga Clínica – UFSM. Pós Graduanda em Terapia Cognitivo Comportamental – PUCRS. CRP 07/39306)
A situação do Rio Grande do Sul é de crise, de proporções inesperadas e emergenciais, onde perdas múltiplas, físicas e simbólicas vão se somando. Perdas de pessoas queridas, de conhecidos, de animais, das casas e móveis, mas também da história familiar, das memórias, do acesso às necessidades básicas, de planos futuros…
É um momento que nos sensibiliza e nos afeta, direta ou indiretamente, em diferentes camadas, e por isso nos pegamos em uma situação que tem nome: luto coletivo. Luto coletivo justamente por ser uma dor coletiva, uma dor compartilhada e que perpassa uma sensação de pertencimento à situação que está ocorrendo. É como se a dor do outro se tornasse nossa também.
Nesse momento é esperado que apareçam sentimentos muito diversos, como raiva, culpa, tristeza, desânimo, impotência, medo. É esperado que haja mudanças no sono, no apetite, na concentração e no funcionamento habitual, nosso e da nossa rotina. Podem ocorrer também questionamentos sobre a vida, a finitude, a fé, os valores pessoais e algumas pessoas podem querer ficar muito próximas uma das outras ou mais isoladas.
O que se recomenda nesses momentos?
Acolher e validar os nossos próprios sentimentos e os do outro. O luto, por mais que coletivo, segue sendo uma experiência sentida e vivida de formas diferentes para cada um. Precisamos ser compreensivos e acolhedores com o sofrimento que vier, ele é esperado e natural em uma situação como essa. Se fazer presente e disponível é o mais importante.
Ajudar dentro dos nossos próprios recursos e condições. Auxiliar de alguma forma pode ser uma maneira de lidar com as emoções, mas é importante entender como conseguimos e nos sentimos capazes de ajudar. Qualquer auxílio é bem vindo, válido e necessário dentro das possibilidades de cada pessoa e, nesse momento, cada um vai conseguir ajudar de uma forma diferente.
Restringir informações e aceitar nossos limites. Muitas vezes o acesso contínuo e intenso às informações, vídeos, notícias pode desencadear emoções muito intensas, como medo e ansiedade. Portanto, nesse momento é importante percebermos o nosso limite e como estamos sendo afetados por tudo isso. Restringir alguns perfis, desconectar notificações e fazer atividades fora do celular, pelo menos por algum tempo, pode ser benéfico.
Pedir ajuda quando necessário. Não é preciso lidar com esse processo todo sozinho, existem profissionais que podem e devem auxiliar, seja no acolhimento emocional, no direcionamento de informações e serviços disponíveis, na busca de atender necessidades básicas.
O que não se recomenda nesses momentos?
Comparar ou julgar a dor do outro. Quem está passando por um luto não precisa e não deve ter sua dor medida ou invalidada. Frases como “mas a outra pessoa está em uma situação pior”, “tudo acontece por um motivo”, “logo vai passar” apenas atrapalham.
Ser invasivo. No momento não precisamos ficar perguntando detalhes sobre a situação para as pessoas envolvidas, deixem que elas falem apenas aquilo que quiserem e se sentirem seguras. Dar espaço e conforto é imprescindível.
Compartilhar notícias falsas e sensacionalistas. Divulgar e compartilhar sobre o evento é importante, porém precisamos nos responsabilizar por aquilo que está sendo passado. Verificar as informações e fontes, assim como evitar repassar conteúdos de cunho sensível e expositivo às vítimas é primordial e pode evitar aumentar o risco do trauma.
Por fim, estamos aprendendo a lidar, como sociedade e coletivo, com esse momento.
Entender a dimensão do que estamos vivendo requer tempo, paciência e apoio mútuo. Seguimos, um dia de cada vez.