Por Lana D’Ávila Campanella (Doutora em Comunicação Social, Professora da UFSM, Líder do Grupo de Pesquisa CNPq: Comunicação Internacional e suas Interfaces com a Cultura e o Poder nas Organizações)
Embora a pauta da vez nos eventos corporativos seja Inteligência Artificial (AI), é nítida a preocupação dos painelistas – em sua grande maioria gestores de comunicação – com questões atinentes à cultura organizacional no que se refere a relação intergeracional[1]. A discussão sobre a convivência de diferentes gerações no mesmo espaço sócio organizacional não é novidade em pesquisa social. Em 1928, Mannheim[2] já promovia estudos que tangenciavam essa dimensão das relações no tecido social.
No Brasil, o olhar laborativo sempre teve como fio condutor os dados censitários do IBGE[3], que em 1950 apontavam uma taxa de urbanização de (36,1%); na década de 70 (55,9%) e nos anos 2000 (81,2%). A preocupação em datar a força de trabalho em urbana e rural prevaleceu aos estudos referentes ao choque geracional por algumas décadas. Contudo, esse cenário começou a se modificar nos últimos anos visto a coexistência cada vez maior entre gerações dentro das organizações.
Em tempos hodiernos é comum a convivência entre Baby-boomers, as Gerações X, Y e Z, somada a Geração Alpha. No último século, a expectativa de vida aumentou três anos a cada década, ou seja, aumentou em 30 anos: de 70 para 100 anos[4]. Estamos mais longevos e os planos de aposentadoria também se alongaram, havendo uma projeção para 2030, de 56% da população brasileira economicamente ativa composta por indivíduos com mais de 45 anos.
O impacto dessa mistura geracional é o etarismo[5], ainda pouco trabalhado nas organizações, que insistem em “apagar fogo” ao invés de trabalharem na prevenção. No Brasil, o etarismo começa até mesmo antes das pessoas chegarem à terceira idade. De acordo com um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), 16,8% dos brasileiros com mais de 50 anos já se sentiram vítima de algum tipo de discriminação ligado à idade e as consequências dessa realidade podem ser a piora na saúde mental, a saúde física mais precária, o isolamento social e até morte prematura. Em 2023, a Robert Half e Labora[6] fez um levantamento sobre o tema com 258 empresas (56,76% porte pequenas e médias e 43,24% porte grandes empresas) a fim de compreender como as organizações estão percebendo as problemáticas e como estão lidando para prevenir problemas geracionais. A seguir, singularizo algumas constatações desse estudo:
– Do ponto de vista organizacional o desafio é rever e se adaptar a tendências sobre carreira, tecnologia, raciocínio e aprendizado;
– O acesso à tecnologia não é para todo mundo (desigualdade social) e isso impacta no comportamento e habilidade em usar os recursos;
– Quando olhamos para as grandes empresas, apenas 2 em cada 10 possuem um pilar de diversidade geracional em suas estratégias de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI). Mais notável ainda, 52% dessas grandes empresas ainda não adotaram qualquer iniciativa de conscientização relacionada à diversidade geracional;
– Entender as características geracionais e evitar o etarismo nas organizações, buscando estratégias de um melhor convívio, gera vantagem competitiva nos negócios com a criação de times intergeracionais;
– No mundo empresarial, a diversidade é a chave para a inovação e o crescimento sustentável, devendo primar por respeitar e cuidar de seus talentos (colaboradores) através de: Treinamentos, Palestras e Programas de Conscientização.
De tudo dito, importante é entender que não há como colocar indivíduos em “caixinhas geracionais”, já que muitas vezes na prática, os comportamentos se fundem seja por estímulos, pelo meio ou personalidade. Logo, vamos fazer o que melhor sabemos fazer: cuidar uns dos outros como ensina a Malu Weber.[7] “Deixar os humanos serem humanos.”
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[1] Relacionado com o que se estabelece entre duas ou mais gerações.
[2] MANNHEIM, Karl. (1993) [1928], “El Problema de las Generaciones”. Revista Española de Investigaciones Sociológicas, no 62. Disponível em http://www.reis.cis.es/REIS/PDF/REIS_062_12.PDF. Acesso: 27 out. 2023.
[3] IBGE. Disponível em: https://brasil500anos.ibge.gov.br. Acesso: 27 out. 2023.
[4] Population Pyramid.net. Disponível em: https://www.populationpyramid.net. Acesso: 27 out. 2023.
[5] Conforme descrito no Relatório Mundial sobre Idadismo, da OMS, o etarismo se refere a estereótipos (como pensamos), preconceitos (como nos sentimos) e discriminação (como agimos) direcionadas às pessoas com base na idade que têm.
[6] Robert Half. Etarismo e inclusão da diversidade geracional nas organizações. Disponível em: https://www.roberthalf.com.br/etarismo Acesso: 27 out. 2023.
[7] Vice-Presidente de Comunicação da Bayer.