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Comunicação efetiva como marca da cultura do cuidado na gestão das crises



Por Rosângela Florczak de Oliveira (Professora e pesquisadora da PUCRS)

O mundo convulsionado que a sociedade enfrenta nesta segunda década do século 21 já foi nomeado por pensadores como sociedade de risco e como mundo em metamorfose. Um dos sintomas mais fortes dessa transformação generalizada é a ocorrência de crises, sejam elas circunstanciais ou estruturais. Esses eventos alteram o cotidiano de figuras públicas, marcas e organizações em geral. Ninguém está imune. Desde grandes empresas globais até prefeitos de pequenas cidades do interior, todos vivenciam tempos de dissenso, vigilância e eventos surpreendentes. Um toque de caos ameaça diariamente todas as dimensões da vida. 

Mas como viver em uma realidade na qual se sente claramente que a maior crise é, justamente, a incapacidade de gerenciar a incerteza dos acontecimentos e eventos que contradizem a previsibilidade e o controle? Não faltam sociólogos, filósofos, psicólogos e comunicadores pesquisando e pensando em apontar caminhos viáveis para viver e conviver em um cenário para o qual não temos referência anterior. Os antigos mapas já não são suficientes. 

Entre os tênues sinais que podem apontar direções, surge um campo de conhecimento anteriormente negligenciado nas ciências. A comunicação parece ser uma estratégia eficaz para compreender o cenário de caos e preparar as pessoas e organizações para agir antes, durante e após os eventos perturbadores que chamamos de crises. Algo como: se dialogarmos, se conversarmos, poderemos entender e agir de maneira eficaz como uma verdadeira comunidade humana que precisa sobreviver. 

Mas não se trata de qualquer comunicação. A diferença está em uma dimensão bastante nova no tecido social: o cuidado. Uma palavra simples e cotidiana, porém revolucionária quando aplicada no contexto social. A ética do cuidado, que surgiu como contraponto à destruição produtiva da sociedade neoliberal nos anos 1980 nos EUA, pode ser uma abordagem viável e possível para diminuir a corrida frenética em direção à barbárie provocada pelas crises, que se tornaram o novo comum. 

Entretanto, esse sinal de esperança exige que ressignifiquemos nossa compreensão sobre comunicação, que é uma das manifestações concretas e diárias do cuidado. É hora de interromper nossa compulsão por inundar pessoas, grupos, comunidades e toda a sociedade com informações. Tecnologias digitais e a circulação de mensagens não garantem a relação comunicativa. É hora de abandonar verbos que nos acostumamos a conjugar, pensando que estávamos comunicando: divulgar e transmitir não são formas de comunicação. É hora de abandonar o termo frequentemente usado: canal, como uma via contínua e de mão única para a distribuição excessiva de comunicação. Soluções que funcionavam na era analógica perderam seu significado na era em que vivemos. 

Antes, era fácil garantir o compartilhamento, que muitas vezes utilizamos como sinônimo de comunicação. Hoje, competimos por um fragmento de atenção, um espaço na mente, um significado em uma sociedade marcada pela infodemia. Se quisermos cuidar como forma de construir uma cultura de segurança, prestando atenção de qualidade ao outro, precisamos comunicar com intenção clara de cuidar. 

Compreender necessidades, ouvir além das palavras, estar atento aos cenários e comportamentos, respeitar profundamente as diferenças, garantir direitos básicos e, acima de tudo, abandonar o narcisismo corporativo e a vaidade pública são fundamentais. Trata-se de entender que comunicar não é uma escolha, não é investimento em espetáculos, não é um exercício de seguidores e seguidos, mas sim uma obrigação para aqueles que dependem e precisam das pessoas, públicos, interlocutores, comunidades e trabalhadores. 

Comunicar, na perspectiva do cuidado, é manter um diálogo contínuo que investe na autonomia do ser humano, na corresponsabilidade e na capacidade de enfrentar e sobreviver às adversidades do tempo e da história, ou seja, às crises de todos os tipos e tamanhos. Comunicar deve se tornar, cada vez mais, sinônimo de cuidado. 

Artigos assinados expressam a opinião de seus autores.

 

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