Ir para o conteúdo Observatório da Comunicação de Crise Ir para o menu Observatório da Comunicação de Crise Ir para a busca no site Observatório da Comunicação de Crise Ir para o rodapé Observatório da Comunicação de Crise
  • International
  • Acessibilidade
  • Sítios da UFSM
  • Área restrita

Aviso de Conectividade Saber Mais

Início do conteúdo

Retrospectiva | As 10 crises que marcaram o ano de 2024 no Brasil



O ano de 2024 no Brasil foi marcado por vários eventos críticos que culminaram em crises. Algumas delas desencadearam processos importantes, outras foram esquecidas ou gerenciadas de modo com que os efeitos fossem mitigados de forma bem-sucedida. Cada uma teve repercussão distinta, seja pela dimensão seja pelos prejuízos de toda ordem. Enfim, todas elas impactaram a sociedade de alguma forma. Nessa direção, para que fiquem registradas e sejam didáticas, separamos dez casos de crise emblemáticos de 2024 para relembrarmos.

 

  1. Enchentes no Rio Grande do Sul deixam rastro de mortes e destruição evidenciando os impactos da crise climática

Durante o fim de abril e o começo de maio de 2024, o Estado do Rio Grande do Sul foi atingido por enchentes, resultantes de fortes chuvas na região. Esse acontecimento fez com que as bacias dos rios Caí, Gravataí, Jacuí, Pardo, Sinos e Taquari, além do Lago Guaíba e da Lagoa dos Patos, transbordassem e a água invadisse os municípios e áreas no entorno. De acordo com a última atualização da Defesa Civil, 478 cidades foram afetadas (o que representa mais de 90% dos municípios gaúchos), 183 pessoas morreram, 27 ainda estão desaparecidas e mais de 2 bilhões foram atingidas. Milhares de pessoas tiveram que sair de suas casas, estradas foram bloqueadas e diversas atividades foram suspensas, como as do Aeroporto Internacional Salgado Filho, de Porto Alegre. Esse episódio foi considerado o maior desastre climático da história do RS e seus impactos são sentidos até hoje na economia, infraestrutura, meio ambiente, logística e saúde mental. A partir deste caso ficaram explícitas várias falhas, a exemplo de comunicação de risco precária, reduzida percepção de risco e gestão pública ineficiente. No período, cabe destacar ainda os efeitos do negacionismo científico e do fenômeno da desinformação orquestrada que acabou atrapalhando os resgates, a ajuda humanitária e a ação por parte da população afetada.

 

  1. Queimadas pelo Brasil ameaçam biodiversidade e tornam crítica a qualidade do ar em mais de 10 Estados

Entre janeiro e setembro de 2024, 22,38 milhões de hectares foram queimados no Brasil, 150% a mais do que em 2023. Cerca de três a cada quatro hectares incendiados nos nove primeiros meses do ano correspondem a vegetações nativas, e os estados que mais tiveram áreas queimadas foram Mato Grosso, Pará e Tocantins. Setembro é o mês que possui o pico dos incêndios, revelando 10,65 milhões de hectares queimados, que atingiram principalmente a Amazônia e o Cerrado. Segundo o delegado da Polícia Federal (PF), Humberto Freire de Barros, uma parcela das queimadas pode ter sido realizada mediante ações coordenadas, pois uma investigação preliminar da Polícia indica a execução simultânea de incêndios. A PF já instaurou 101 inquéritos para investigar queimadas criminosas. Vários estados ficaram dias sob efeito da fumaça que se alastrou pelo país. No Rio Grande do Sul, cenário das enchentes em maio, além da fumaça, também registrou a ocorrência da “chuva preta” em setembro, composta por partículas sólidas decorrentes da fuligem, fenômeno que pode ocasionar impactos na saúde de pessoas e animais, além de contaminar as águas dos rios e a biodiversidade.

 

  1. Bloqueio da rede social X (antes Twitter) no país deixa milhões de usuários sem acesso e reabre discussão sobre regulação das redes

No dia 30 de agosto de 2024, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, determinou o bloqueio da rede social X. Isso aconteceu porque o STF havia intimado o dono da plataforma, Elon Musk, para que apontasse um representante legal da companhia no Brasil, o que não ocorreu dentro do prazo estipulado. O escritório brasileiro da plataforma havia sido fechado em 17 de agosto, após Moraes determinar a prisão da representante legal da empresa, caso não fossem respeitadas ordens de suspensão de perfis na rede social. No dia 20 de setembro, a companhia nomeou um novo representante legal e, em 4 de outubro, comunicou que havia pago multas que foram estipuladas. 39 dias depois do bloqueio, em 8 de outubro, Moraes autorizou a volta das atividades da rede social no país. Durante o período de bloqueio, voltou à tona a discussão sobre a regulação das redes no sentido de evitar a proliferação de desinformação, discurso de ódio, ataques a instituições e violação de direitos, o que põe em risco a vida de pessoas, a segurança pública, o meio ambiente e a Democracia. Além disso, o episódio desafiou as agências de publicidade e de relações públicas assim como outras empresas que tinham como foco de seus esforços comunicacionais o X, sinalizando que as organizações precisam se planejar também para crises “improváveis”, com planos de continuidade de negócios aptos para transpor os desafios apresentados.

 

  1. Queda do avião da Voepass em São Paulo faz 62 vítimas fatais

No dia 9 de agosto de 2024, uma aeronave ATR-72 da companhia aérea Voepass, com 62 pessoas a bordo, caiu e não deixou sobreviventes. O avião saiu com 58 passageiros e quatro tripulantes, às 11:58, do município de Cascavel, no Paraná, com destino a Guarulhos, São Paulo, mas caiu em uma área residencial na cidade paulista de Vinhedo. De acordo com a Força Aérea Brasileira (FAB), até as 13:20, o voo acontecia normalmente, mas após as 13:21, o avião não retornou às chamadas da torre de São Paulo, e não informou estar sob circunstâncias meteorológicas adversas ou sob uma emergência. Segundo a Voepass, a aeronave não possuía restrições e estava apta para voar. O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) e a Polícia Federal estão investigando o acidente. No que se refere à gestão da crise, a empresa geriu o evento de forma discreta, oferecendo as informações necessárias às famílias das vítimas e à imprensa a cada etapa do processo. No contexto deste caso, vale relembrar que ainda carece à mídia exercer seu papel com mais responsabilidade, aprofundando a cobertura de forma a levantar causas, ouvir especialistas e relacionar com as consequências, além de evitar a exploração de familiares em situação de vulnerabilidade emocional com o indevido intuito de transformar a tragédia em espetáculo.

 

  1. Clientes da Enel ficam quase uma semana sem energia elétrica em São Paulo

Os moradores de São Paulo ficaram em torno de 6 dias sem luz depois de um temporal, que começou no dia 11 de outubro de 2024. A Enel, empresa responsável pela distribuição de energia, comunicou, somente no dia 17 de outubro, que o serviço havia sido restabelecido em quase todas as residências. Segundo a Enel, 3,1 milhões de clientes foram impactados na primeira noite do ocorrido. No dia 8 de novembro, a Advocacia-Geral da União (AGU) abriu uma ação judicial contra a Enel, solicitando o pagamento de R$ 260 milhões pelas falhas na distribuição de energia, além de indenizações aos consumidores afetados. De acordo com a AGU, o apagão poderia ter sido impedido. A empresa foi multada em R$ 13,3 milhões pelo Procon-SP e intimada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Em 2023, um outro temporal deixou mais de 2 milhões de pessoas sem luz por quase 5 dias na Grande São Paulo. O Presidente da Enel Brasil naquele momento, Nicola Cotugno, pediu demissão do cargo 20 dias depois.

 

  1. CEO da G4 Educação, Tallis Gomes, renuncia após declaração machista

No dia 18 de setembro de 2024, o então CEO e presidente do conselho da G4 Educação, Tallis Gomes, publicou uma fala machista em seu perfil na rede social Instagram, dizendo “Deus me livre de mulher CEO”, e que as mulheres CEOs não realizam “melhor uso da energia feminina”. Após repercussões negativas, Gomes se retratou no dia seguinte, afirmando que não pretendia questionar a capacidade de uma mulher como CEO, e que utilizou o tom e os termos errados para relatar quem ele desejaria como mulher. No dia 21 de setembro, a G4 Educação comunicou que Gomes havia renunciado seus cargos na empresa. Após a renúncia, foi definida uma nova liderança: a nova CEO seria uma mulher, a sócia e diretora financeira da companhia, Maria Isabel Antonini. Gomes também foi expulso do conselho consultivo da marca de moda feminina Hope.

 

  1. Bullying na escola leva a suicídio de estudante a caminho do Colégio Bandeirantes

No dia 12 de agosto de 2024, um aluno de 14 anos, bolsista do Colégio Bandeirantes, de São Paulo, cometeu suicídio a caminho da escola. O menino estava no último ano do ensino fundamental, e havia conquistado uma bolsa integral na escola pelo Instituto Social para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos (Ismart). Antes do ocorrido, o garoto havia relatado que estava sofrendo bullying por parte dos colegas, incluindo agressões físicas e verbais. Segundo um familiar, isso ocorria pelo fato de o menino ser negro, homossexual e de origem humilde. O aluno chegou a comunicar o caso ao Ismart, que disse que notificou o Colégio Bandeirantes sobre o bullying, mas a escola contestou a versão e afirmou que não foi informada. O 23ª Distrito Policial de São Paulo, em Perdizes, investiga o ocorrido. Apesar de ser um assunto historicamente recorrente nas escolas, o bullying continua sendo um tema ainda menosprezado e, por isso, ainda causa situações críticas evitáveis, a exemplo de suicídios, atos de violência contra escolas e prejuízos à saúde mental da comunidade escolar.

 

  1. Cachorro Joca morre durante transporte em voo da Gol

No dia 22 de abril de 2024, o cachorro Joca, de 5 anos, morreu enquanto era transportado pela GOLLOG, pertencente à companhia aérea Gol. O cão saiu de Guarulhos, São Paulo, e deveria ter sido transportado até Sinop, Mato Grosso, onde encontraria seu tutor, mas foi posto em um voo para Fortaleza, Ceará. Por isso, teve que ser levado novamente até Guarulhos, mas já estava morto quando seu tutor o recebeu. Joca fez quase 8 horas de voo e, de acordo com o tutor, o veterinário atestou que o cão suportaria uma viagem de duas horas e meia. Segundo inquérito da Polícia Civil de Guarulhos, Joca morreu dentro do avião que ia para São Paulo, por conta de desidratação e estresse, que resultaram em problemas cardíacos. Em outubro, a Justiça arquivou o inquérito que investigava o caso.

 

  1. Sílvio Almeida, Ministro dos Direitos Humanos, é demitido após denúncias de assédio sexual

No dia 5 de setembro de 2024, vieram à tona denúncias de assédio sexual contra o então Ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, que foram reportadas por mulheres à ONG Me Too Brasil. Almeida negou as acusações, declarando que eram mentiras sem provas e que iria solicitar à Justiça a responsabilização das pessoas que efetuaram os relatos. Uma das vítimas seria Anielle Franco, Ministra da Igualdade Racial. Quatro ex-alunas de Almeida, uma advogada e Franco relataram seus casos publicamente. De forma ágil, no dia 6 de setembro, o presidente Lula demitiu Almeida, alegando que, diante das denúncias, a condição dele como ministro era insustentável. A Comissão de Ética da Presidência da República, a Polícia Federal e o Ministério Público do Trabalho estão investigando o caso.

 

  1. Erros em exames de HIV realizados pelo Laboratório PCS Saleme resulta na contaminação de transplantados no Rio de Janeiro

No dia 11 de outubro de 2024, foi divulgada a informação de que seis pessoas testaram positivo para HIV após receberem órgãos infectados de dois doadores, na Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ). De acordo com o Governo do Estado, o erro está em 2 exames realizados pelo laboratório PCS Saleme, que resultaram em não reagentes para HIV. O caso foi percebido após um transplantado, que não possuía o vírus, positivar para HIV após receber o coração de um doador. Depois, outro paciente também positivou, e foi percebida a existência de outra doadora. Com isso, as autoridades chegaram aos exames com falso negativo. A Secretaria de Saúde, Polícia Civil, o Conselho Regional de Medicina (Cremerj), Ministério da Saúde e Ministério Público do RJ estão investigando o caso.

 

A partir das crises selecionadas, identificamos características a serem destacadas tendo em vista que elas contribuíram para a configuração crítica dos acontecimentos, prejudicaram a mitigação dos impactos causados, ou ainda, não contribuem para evitar casos futuros:

– comunicação de risco inexistente ou precária;

– reduzida percepção de risco pela população;

– falta de plano de contingência;

– gestão pública ineficiente;

– cultura de prevenção não desenvolvida;

– gestão de riscos insuficiente;

– disseminação orquestrada de desinformação;

– negacionismo científico;

– cobertura midiática superficial ou espetaculosa;

– gestão da situação quando a crise já está em andamento;

– esquecimento do ocorrido com o passar do tempo;

– desconsideração dos legados e aprendizados a partir de crises anteriores.

 

De outro lado, também elencamos aspectos positivos observados em alguns casos de crises de 2024:

– atendimento ágil à imprensa;

– atendimento humanizado a familiares de vítimas;

– mobilização popular e de instituições para ajudar pessoas atingidas;

– papel essencial da Defesa Civil;

– agilidade na tomada e na divulgação de providências e medidas;

– ação contundente de algumas instituições do Estado.

 

MAIS:

Conheça as orientações emitidas pelo OBCC à sociedade para eventos climáticos extremos

Relembre as 10 crises que marcaram o ano de 2023 

 

Confira mais sobre algumas crises por meio das notícias e dos artigos publicados no portal durante o ano de 2024:

Vale, Samarco, BHP e Fundação Renova são condenadas por veiculação de campanha publicitária autopromocional após rompimento de barragem em Mariana

Seca e queimadas reafirmam emergência e intensificam os impactos da crise climática no Brasil

Orientações de comunicação para resposta em situações de desastres ligados à crise climática

O que as 50 maiores empresas do Brasil estão fazendo (ou não) para o enfrentamento às enchentes no RS

10 textos para pensar sobre gestão de crise a partir das enchentes no RS

15 textos para pensar o desastre climático no RS sob a perspectiva comunicacional

Laboratório de crises expõe os deslizes da saúde no Rio

Queda do ATR 72: acidentes aéreos não acontecem por acaso

Gelo na asa e comunicação em chamas. O voo forçado da mídia impede que o brasileiro durma e VOE em PAZ!

Divulgue este conteúdo:
https://ufsm.br/r-880-384

Publicações Relacionadas

Publicações Recentes