Por Elizabeth Obino Cirne Lima (Subsecretária do Parque Estadual de Exposições Assis Brasil)
A Expointer é uma feira rural realizada no Parque Estadual de Exposições Assis Brasil, em Esteio, RS. Considerada a maior feira de agro, à céu aberto da América Latina, suas raízes são antigas, tendo sua primeira edição sido realizada no ano de 1901, ainda no formato de exposição estadual. A Royal Agricultural Show, do Reino Unido, foi a feira do ramo que serviu de inspiração para a Expointer. Os produtores rurais que visitaram a exposição sempre trouxeram referências de como o evento gaúcho podia ser aprimorado e modernizado. Assim, os organizadores da Expointer passaram a trabalhar no conceito de multifeira rural, uma abordagem que busca unir comércio, de utensílios, de vestimentas típicas rurais, ferramentas, máquinas e implementos agrícolas, inovações, cultura, tradição e gastronomia. O contato com animais de diferentes raças, tecnologias do campo diversas e outros elementos presentes no evento fez com que a Expointer se consolidasse como um local onde não só existe um grande volume de negócios, mas também se realiza a transferência de tecnologias, fazendo com que o conhecimento seja disseminado entre os profissionais do setor. Ainda, a Expointer é um dos principais eventos que permite a aproximação entre o campo a cidade, visto que o meio rural vive temporariamente dentro da feira, que se localiza na região metropolitana de Porto Alegre, onde residem cerca de 3 milhões de pessoas, que podem tocar o campo, e as pessoas do campo se conectam com as pessoas e coisas das cidades grandes.
Um Parque para servir
Em um primeiro momento, o desafio recebido era de ressignificar o parque como um local que recebesse eventos o ano inteiro e não só a Expointer. Ali, encontrei a oportunidade para trazer as associações de criadores de animais e parceiros para realizarem seus eventos, atividades culturais e comércio, mas também trazer educação, ciência e tecnologia para dentro do PEEAB. Atualmente, estão sendo articuladas parcerias com o Sistema S para trazer cursos de formação, além de espaços de inovação para dentro do parque. Tudo isso com essa visão mais integrativa do agro com outros campos do conhecimento. Este movimento se dá no campo da saúde também. Da pandemia para cá, o espaço da Expointer serviu de centro de vacinação e até hoje são mantidas ações de saúde com a população moradora de bairro Novo Esteio por lá.
Pós-pandemia
No entanto, além desse trabalho com a agenda de ações ao longo do ano havia uma Expointer para ser organizada. E a edição de 2022 era de máxima importância, pois seria a primeira edição sem restrição de público após a Pandemia da COVID-19. O evento foi marcado por esse reencontro. Conhecida informalmente como a Expointer dos recordes, a edição de 2022 trouxe mais de 700 mil pessoas para dentro do parque (quase que o dobro da média pré-pandemia) e mais de 7 bilhões de reais em negócios realizados. Os ganhos da feira daquele ano foram investidos para melhorar a infraestrutura do parque, deixá-lo mais seguro, acessível e inclusivo – uma forma de deixar um legado para além dos números. O objetivo não era entregar um parque maior, mas sim um parque melhor. Em 2023, conseguimos alcançar novos resultados com o evento, que mais uma vez teve acréscimo de público e atingiu o número de 7,9 bilhões de reais em negócios realizados. É uma felicidade muito grande ver como o cuidado com o parque gera estes recordes e está criando uma mudança de cultura entre nossos parceiros, que passam a ver o Parque Estadual de Exposições Assis Brasil como uma casa parceira do setor agrícola do Rio Grande do Sul.
A Expointer da retomada
Esta capacidade de cuidar do parque e das pessoas foi posta à prova neste ano de 2024, quando o Rio Grande do Sul foi afetado pela maior catástrofe de sua história. As enchentes que vivemos foi uma crise em nível humanitário, ambiental, econômico e também no âmbito da saúde pública. O bairro de Novo Esteio, ao lado do parque, foi a região do município mais afetada, com muitas casas sendo severamente alagadas e famílias ficando desabrigadas. O parque de exposições da Expointer também foi duramente atingido, com pontos de alagamento, que duraram cerca de 30 dias, onde a água chegou a 3 metros de altura. Em meio à esta situação, o Governador Eduardo Leite tomou a decisão de confirmar que a Expointer aconteceria. Este anúncio nos ajudou para que tivéssemos um norte para a reconstrução do parque, que teria que acontecer de qualquer forma. Foram montados diversos grupos de trabalho, para administração, questões jurídicas, comunicação e outras áreas, que fizeram com que a Subsecretaria do Parque de Exposições Assis Brasil tivesse pela primeira vez uma conexão íntima com o Governo do Estado, uma vez que até então estávamos fisicamente mais separados, visto que o Palácio fica localizado em Porto Alegre. Estes grupos de trabalho aceleraram muito o processo para esta reconstrução. Os nossos parceiros do setor privado receberam muito bem também o meu contato e abraçaram a causa. A desafiadora reforma andou muito rápido e provou como o povo gaúcho é unido, forte e resiliente.
Conseguimos cumprir todos os prazos e entregar uma Expointer muito simbólica em 2024, a Expointer da retomada. Mesmo sem funcionamento completo do Trensurb, o público estava muito animado com a volta dos eventos e compareceu em peso na feira, mais de 600 mil pessoas. Em negócios fechados, batemos um novo recorde, atingindo R$ 8,1 bilhões em comercializações. Mesmo com os impactos das enchentes, o pavilhão da agricultura familiar bateu recordes históricos ao longo da feira. Esse crescimento representa a força do agro gaúcho, que recebe produtores rurais do Brasil inteiro. Hoje, o Rio Grande do Sul está consolidado como o maior parque fabril de máquinas e implementos agrícolas do país, trazendo produtores de todo o Brasil, para durante a Expointer ter acesso aos lançamentos e linhas de crédito especiais.
O episódio das enchentes foi algo sem precedentes em termos de crise a ser combatida pela gestão do Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Nunca houve tamanho dano ambiental, patrimonial, de infraestrutura e perdas de vidas, numa extensão tão expressiva, como foi provocado pelas enchentes de 2024. O desafio é gigante. Penso que a administração pública agiu muito rápido, ao se organizar na estruturação do gabinete de crise, que tinha escritórios nas regiões afetadas pelas chuvas. Os desafios iam se apresentando dia a dia e este grupo agia coordenadamente encontrando soluções para estes desafios. Eu fiquei dentro do parque com cerca de 15 pessoas do nosso time e não houve dia em que ficamos sem trabalhar, as situações que surgiam eram muito diferentes umas das outras e necessitavam de tomadas de decisão individuais. O PEEAB ofereceu apoio ao Município de Esteio, fomos alojamento, Centro de Distribuição de doações, fornecedores de água potável para Esteio e região e também recebemos carretas de doações e grupos que cruzavam o Brasil de norte a sul, para apoiar os gaúchos.
Referência em Saúde Única
Estes grupos de trabalho apresentaram grandes avanços no combate à crise. O trabalho com informação e a estruturação de canais de contato estão servindo até hoje para o melhoramento da administração pública, de modo a auxiliar grupos da Secretaria de Agricultura que hoje trabalham na recuperação do solo, medidas sanitárias para evitar o surgimento de novas doenças, sistema para emissão de notas de compra e vendas de animais que permitem a rastreabilidade destes e o controle sanitário apropriado, entre outras questões. Isso tudo ressalta como essa postura integrativa que temos no Rio Grande do Sul é que nos dá respaldo para trabalhar na reconstrução do Estado.
No âmbito da saúde, a Expointer também atua no apoio às políticas públicas e fomenta a abordagem de saúde única. Como parte da Secretaria de Agricultura, recebemos ministros da agricultura do Cone Sul e secretários de agricultura de todo o Brasil para encontros técnicos que debatem os desafios sanitários e definem os rumos a serem tomados, tanto para a parte animal como para a ambiental. Em 2023, a grande discussão foi a gripe aviária, por exemplo. Hoje, o Brasil é referência no controle da saúde animal, com um controle maior do que de muitos países que são considerados globalmente como grandes exportadores. Aqui no Parque de Exposições Assis Brasil, nós trabalhamos dentro desse rigor das legislações praticando e difundindo a importância do cuidado com a saúde animal, uma vez que ela também está integrada com a saúde humana. Este cuidado com a saúde também está gerando bons resultados econômicos, uma vez que estamos conquistando novos mercados e um aumento no número de exportações dos produtos do agro.
O Parque é uma referência na implementação da abordagem de saúde única, porque aplicamos todas as normas sanitárias vigentes no Rio Grande do Sul. Os animais só podem entrar no PEAAB se estiverem 100% de acordo com as normas sanitárias, o que garante um controle de doenças e pragas entre os animais, mas também dos riscos que eles podem causar aos seres humanos. Nós somos uma vitrine de negócios bem como queremos propor este debate sobre saúde e provocar o melhoramento nos cuidados com a saúde animal, humana e do meio-ambiente. Estes resultados que estamos obtendo servem de inspiração para olhar ao horizonte e almejar mais.
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