Por Filipe Barrado Ferreira (Profissional de Gerenciamento de Crises e Emergências e Especialista em Plano de Ação de Emergência para Barragens de Mineração)
O ano de 2024 está sendo marcado por grandes tragédias, como as enchentes no Rio Grande do Sul em maio e a queda do avião da Voepass em agosto. Embora esses eventos sejam distintos em suas naturezas — um ligado a fenômenos climáticos, outro a aviação — ambos compartilham um elemento comum: a maneira como o sofrimento humano em larga escala é coberto pela mídia.
É uma fórmula repetitiva que acompanha desastres de todo tipo, sejam guerras, pandemias ou acidentes, gerando uma compaixão inicial na audiência que, com o tempo, transforma-se em fadiga. A superexposição das vítimas, além de intensificar um sofrimento já existente, muitas vezes leva a um esgotamento do público. Grandes eventos saturam a cobertura midiática para, logo depois, caírem no esquecimento.
Na área de desastres, fala-se que “o sofrimento para as comunidades atingidas toma um corpo, um peso, quando a última emissora se retira da cena”. A cobertura do sofrimento humano é necessária, mas é crucial refletir sobre os limites dessa exposição.
Até que ponto essas notícias mantêm seu valor agregador dentro da perspectiva do jornalismo de desastres?
O que desejamos realmente compartilhar com nossas audiências?
É preciso ponderar o papel que todos, especialmente as mídias, desempenham na captação e no compartilhamento da informação. Ultrapassar esse limite pode, inadvertidamente, aumentar a dor daqueles que já foram profundamente atingidos.
Por fim, sugiro o livro da estudiosa Susan Moeller, “A fadiga da compaixão: Como a mídia vende doenças, fome, guerra e morte”. Esta obra reflete esses pontos de forma assertiva, abordando como a mídia, ao longo da história, reporta informações em eventos traumáticos de grande escala.
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