Por Joyce Mendes de Andrade Schramm (Médica, Doutora em Saúde Coletiva, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), Secretária Executiva da RSU/FIOCRUZ) e Sarah Caterina Schramm (Médica Veterinária, Colaboratório de Ciência, Tecnologia, Inovação e Sociedade (CTIS/FIOCRUZ).
O conceito de Saúde Única (One-Health) propõe uma abordagem interdisciplinar e integrada para questões complexas, considerando a interação entre as esferas da saúde humana, animal e ambiental. Essa abordagem é cada vez mais essencial em um mundo que enfrenta rápidas transformações e novos desafios, exigindo parcerias inclusivas e sustentáveis. A Saúde Única busca promover pesquisas interdisciplinares e intervenções que reconheçam a interdependência entre diferentes áreas da saúde. A Rede Saúde Humana, Animal e Ambiental (RSU/FIOCRUZ) foi criada em 2014, através de uma cooperação entre a FIOCRUZ e o Governo do Rio Grande do Sul. Seu objetivo é promover o conhecimento científico, tecnológico e a inovação em saúde.
A Rede se tornou uma referência em saúde pública, veterinária e ambiental, reunindo diversas instituições gaúchas como a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMA), a Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (SEAPI), a Secretaria de Saúde (SES), a Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia (SICT), universidades federais e não federais, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS), o Conselho de Secretários Municipais de Saúde (COSEMS) e a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (FAMURS). A gestão da Rede Saúde Única (RSU/FIOCRUZ) é coordenada por uma Secretaria Executiva, liderada pela FIOCRUZ, e um Comitê Gestor com representantes das instituições envolvidas. As redes cooperativas são fundamentais para enfrentar emergências de saúde pública, pois promovem a colaboração entre diferentes entidades – governos, ONGs, instituições acadêmicas e comunitárias. Esta cooperação facilita uma resposta rápida, eficiente e solidária diante de crises complexas, permitindo a concentração de esforços e recursos.
O recente desastre climático no Rio Grande do Sul demonstrou a eficácia da atuação conjunta entre entidades governamentais, não governamentais, sociedade civil, movimentos sociais e forças armadas. As universidades desempenharam um papel crucial, potencializando ações para mitigar os efeitos da crise. É importante destacar que o impacto das emergências pode acentuar desigualdades existentes, tornando a recuperação e a reconstrução mais desafiadoras. Portanto, é fundamental garantir governança eficaz, estruturar e institucionalizar ações, levando em conta fatores como fadiga por compaixão e migração, que complicam a realocação e a construção de moradias adequadas.
Desde 2014, a Rede Saúde Única do Rio Grande do Sul (RSU/FIOCRUZ) vem evidenciando a necessidade de abordagens que promovam a saúde coletiva e previnam surtos sanitários e epidemias. Contudo, a Rede Saúde Única enfrenta desafios significativos para consolidar medidas eficazes, especialmente durante a recuperação e reconstrução. É crucial estabelecer uma capacidade de resposta integrada, com canais de comunicação transparentes e eficazes. Elementos estratégicos para essa integração incluem a definição clara de responsabilidades, planejamento conjunto e integrado, metas e objetivos bem delineados, integração e alocação de recursos, monitoramento e avaliação contínuos, treinamento e capacitação, compartilhamento de informações, mobilização comunitária e cooperação internacional, especialmente em áreas transfronteiriças.
A Rede Saúde Única no Rio Grande do Sul (RSU/FIOCRUZ), em colaboração com parceiros internacionais, tem o potencial de reforçar a prevenção, preparação, resposta oportuna e recuperação em emergências e desastres. Essa abordagem permite a participação ativa das comunidades afetadas, garantindo que suas necessidades e perspectivas sejam consideradas na formulação de respostas e soluções. A eficácia dessas ações depende de um esforço coordenado para superar desafios logísticos e administrativos, promovendo uma recuperação equitativa e sustentada.
A criação da RSU/FIOCRUZ exemplifica a necessidade de abordagens que integrem saúde humana, animal e ambiental, promovendo ações preventivas e colaborativas. A interligação das diferentes esferas da saúde é fundamental para responder a crises sanitárias complexas, como pandemias e desastres naturais, que têm impacto significativo na sociedade. Essa integração deve ser orientada por políticas que favoreçam a cooperação interinstitucional e a inclusão de todos os setores envolvidos, garantindo uma resposta eficiente e adaptativa às emergências de saúde pública. A Rede se configura como um modelo promissor para a gestão de emergências, destacando-se pelo seu potencial de adaptação e resposta rápida, assegurando uma abordagem holística e integrada na promoção da saúde pública.
Assim, a Rede Saúde Única do Rio Grande do Sul (RSU/FIOCRUZ) consolida-se como um exemplo de cooperação e inovação no enfrentamento de emergências, reforçando a importância de redes cooperativas para a promoção de um sistema de saúde resiliente e sustentável, capaz de responder efetivamente aos desafios contemporâneos de saúde pública.