Todo dia 27 de janeiro marca mais um ano da maior tragédia da cidade de Santa Maria (RS) e uma das maiores do Brasil: 242 jovens morreram durante uma festa universitária na Boate Kiss, quase metade deles estudantes da UFSM. Um incêndio de grandes proporções causado pelo uso de fogos de artifício pela banda que se apresentava na casa noturna destruiu o local, que estava superlotado e não contava com saídas de emergência. Em 2024, faz onze anos do ocorrido que deixou mais de 600 feridos os quais convivem até hoje com as marcas da tragédia em seus corpos e suas memórias. Sem contar com os impactos na vida de centenas de familiares que perderam seus entes queridos.
Do ponto de vista da gestão de riscos e de crises, foram inúmeras as falhas e omissões: do mapeamento de riscos e da (ausência de) prevenção até os legados pós-crise. Faltou fiscalização por parte do Poder Público e inexistiu prevenção e cuidado por parte dos sócios-proprietários da casa noturna. Das 10 causas que contribuíram para o incêndio, a exemplo de irregularidades em alvarás, extintores que não funcionaram, superlotação e uso de isolamento acústico irregular, todas poderiam ter sido eliminadas com gestão de riscos e evitado a crise. Eram itens de segurança objetivos, não outros fatores externos advindos da natureza que não se consegue dimensionar com exatidão. A comunicação dos riscos destes locais só começou a ser efetiva após o ocorrido, por força de fiscalização, passando a fazer parte do cotidiano da população a conferência da capacidade máxima e a localização de saídas de emergência.
Durante o período de gerenciamento da crise, o Corpo de Bombeiros não deu conta da dimensão do episódio, assim como a Prefeitura Municipal que convocou uma coletiva de imprensa a qual se transformou em um pronunciamento. Notou-se falta de planejamento e improviso, sobrou despreparo e política no momento mais difícil pelo qual a cidade passou em sua história.
Em relação aos aprendizados, destaca-se negativamente a flexibilização da “Lei Kiss” , criada após a tragédia como forma de modernizar a prevenção contra incêndios. Porém, após pouco tempo de sua vigência sofreu alterações que geraram retrocessos legais e administrativos. De outro lado, salienta-se a iniciativa da Prefeitura Municipal de Santa Maria, em 2023, da criação do Programa Santa Maria Resiliente, que envolve órgãos e instituições de diversas áreas e trata-se da atualização do plano de contingência, realização de simulados, criação e validação de protocolos de comunicação, elaboração de protocolos e oficinas para voluntários em desastres e educação comunitária para a rede de ensino. Além disso, espera-se que ainda em 2024 seja anunciado o início das obras do memorial às vítimas.
A fim de ampliar a discussão e a reflexão sobre uma das maiores crises ocorridas no Brasil, selecionamos alguns documentários, e-books e artigos da área da Comunicação. Tais materiais suscitam debates sobre visibilidade, comunicação de crise, ética, opinião pública, crise de imagem, gestão de riscos, cobertura midiática, entre outros tópicos. Nessa direção, cumprem o papel de relatar o acontecimento, analisar a gestão de risco e de crise, além de elencar os aprendizados e documentar o ocorrido a fim de que eventos como este não se repitam.
Confira abaixo:
Ebooks
Midiatização da tragédia de Santa Maria: a catástrofe biopolítica (Vol. I)
Midiatização da tragédia de Santa Maria: a construção de relatos em meio ao caos (Vol. II)
Documentários
SAÚDE no Limite da Dor – Os aprendizados do SUS na emergência da Boate Kiss.
Boate Kiss: a tragédia de Santa Maria
Artigos
Crise de Imagem: O que devemos aprender com a tragédia da boate Kiss, em Santa Maria/RS
Tragédia Kiss: acontecimento público e armadilhas da imagem
Boate Kiss: prevenção a incêndio é cultural, dizem especialistas.
Boate Kiss, 7 anos; Brumadinho, 1 ano: memórias e aprendizados sobre prevenção e gestão de crise
10 anos depois, incêndio da Boate Kiss ainda não tem culpados