Por Patrícia Brito Teixeira (Jornalista, board da WePlanBefore, autora do livro “Caiu na Rede. E agora? Gestão de Crise nas Redes Sociais”)
Nem é uma novidade falar que a crise climática representa um dos maiores desafios enfrentados pela humanidade atualmente. Não se trata somente de um risco distante e que não tem hora para chegar. Esta é uma crise silenciosa que vem acontecendo aos poucos.
É uma chuva mais forte, um ciclone fora da região habitual, um calor fora do normal, uma espécie animal que antes vivia em uma determinada região e aparece em outra. Sem falar também do aumento das emissões de gases de efeito estufa, a perda acelerada de biodiversidade e os eventos climáticos extremos que estão causando impactos significativos em ecossistemas, comunidades e economias em todo o mundo.
Não é um problema somente dos governantes, ou organizações públicas ou sem fins lucrativos. Todos os atores da sociedade estão convocados a debater este cenário hoje e de forma urgente.
Além de debater as crises iminentes, o convite também deve ser feito em relação aos riscos atuais, que estão sendo produzidos hoje, que terão impacto no futuro. Segundo Ulrich Beck, criador da teoria da Sociedade do Risco, crises atuais foram produzidas no passado, e o que está sendo feito terão consequências futuras no qual desconhecemos os impactos. Exatamente neste contexto, Gestão de Risco, ESG e Gestão de Crise trabalham de mãos dadas.
Nesse contexto, as disciplinas que englobam a gestão de crise desempenham um papel fundamental na resposta efetiva a essa situação emergencial. Por que disciplinas “no plural”? Precisamos chamar para a roda a gestão de risco, gestão de continuidade de negócio, gestão de emergências, gestão de comunicação de risco e crise, além claro, das outras áreas do negócio.
A complexidade dos riscos climáticos
Quando se avalia a crise climática há uma série de desafios complexos que exigem uma abordagem estratégica. A grande convergência é que os dois temas trazem uma intersecção de conceitos que podem ser usados juntos.
O primeiro deles é a incerteza e a complexidade. A natureza complexa e interconectada dos sistemas climáticos dificulta a previsão dos impactos futuros. E por outro lado, a incerteza científica e política em relação às mudanças climáticas pode dificultar a tomada de decisões efetivas.
Também se faz necessário considerar as consequências multidimensionais: A crise climática afeta vários aspectos da sociedade, incluindo saúde, segurança alimentar, abastecimento de água, economia e biodiversidade. Gerenciar essas consequências multidimensionais requer uma abordagem integrada e abrangente. Mais uma vez, vale frisar que esta é uma ação multidisciplinar dentro da esfera pública, onde a escuta e o diálogo devem ser exercitados.
Dentro dos aspectos dos riscos, o aumento das vulnerabilidades precisa ser considerado, como o aumento das populações marginalizadas e comunidades de baixa renda, que estão mais vulneráveis aos impactos da crise climática. E com isso, a gestão de crise integrada deve levar em conta estes aspectos.
E, como dito anteriormente, há uma necessidade urgente de mitigação e ação do hoje, como mitigar as emissões de gases de efeito estufa com estratégias de adaptação para lidar com os efeitos já em andamento.
O Plano de Gestão de Crise para tudo isso.
Num fluxo simples de Gestão de Crise, as etapas são Governança, Mapeamento dos Riscos, Análise e Avaliação, Mitigação e Prevenção dos Riscos conhecidos, entendimento das ameaças, definição dos monitoramentos e planos de acordo com cada cenário caso eles venham a acontecer.
Tudo começa com o fortalecimento da governança. Sem liderança engajada, sensibilizada e mobilizada pela causa, nada vai para frente. A gestão de crise requer uma governança sólida em todos os níveis, estabelecendo políticas claras, incentivos e regulamentações que promovam a sustentabilidade e a resiliência climática.
A partir daí, mãos à obra para levantar os riscos oriundos das questões climáticas, e claro, também considere as sociais nesse mapeamento, no qual a organização está envolvida direta e indiretamente. Diretamente pela sua linha de produção, cadeia de suprimentos e onde está inserida. A cada risco levantado, pode haver um plano de ação para mitigação, prevenção ou contenção. Tudo alinhado com a missão, os propósitos e os objetivos da empresa.
A gestão de crise desempenha um papel crucial na resposta à crise climática. Enfrentar os desafios apresentados requer uma abordagem abrangente, integrada e colaborativa. Fortalecer a governança, promover a colaboração e o engajamento, investir em pesquisa e inovação, e educar e conscientizar são elementos fundamentais para uma gestão efetiva. Somente por meio de uma ação coordenada e urgente podemos enfrentar os desafios da crise climática e garantir um futuro sustentável para as gerações presentes e futuras.
Artigos assinados expressam a opinião de seus autores.