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Ozempic®, o fármaco que vem sendo utilizado para emagrecimento tem efeitos reais?



            A obesidade é uma doença crônica que afeta 650 milhões de adultos em todo o mundo. E entre as crianças, a situação também é preocupante, segundo o Ministério da Saúde 1 em cada 10 crianças brasileiras de até 5 anos está com o peso acima do ideal. A obesidade está associada a uma série de complicações físicas e mentais, incluindo fatores de risco para diversas doenças como:  diabetes mellitus tipo II, doenças cardiovasculares, hipertensão, doenças coronarianas e predispõe ao câncer etc.  

            Atualmente, as opções de tratamento para a obesidade incluem cirurgia bariátrica e tratamento não cirúrgico, como modificação da dieta e prática de exercícios físicos regulares, terapia comportamental e terapia farmacológica.

             Em relação a terapia farmacológica liberada no Brasil, os fármacos que se destacam por estarem sendo cada vez mais utilizados são a liraglutina vendida sob a marca (saxenda), a semaglutina vendida como (Ozempic, Wegovy ou Rybelsus). No entanto o mais prescrito e com melhor eficácia comprovada até o momento é o Ozempic®.

             A semaglutina já é regulamentada no Brasil desde 2018, comercializada como Ozempic®. O medicamento foi aprovado com indicação formal para o controle glicêmico para o diabetes mellitus tipo 2, com base em estudos clínicos. Nos EUA, essa aprovação aconteceu pelo FDA em 2017.

             O Ozempic® é um medicamento que inicialmente foi liberado para ser utilizado no tratamento da Diabetes Mellitus (DM) tipo 2 não satisfatoriamente tratada, cujo princípio ativo é a semaglutida, uma molécula parecida com Glucagon 1 Humano (GLP-1), um hormônio que tem como função principal aumentar os níveis de glicose no sangue, ou seja, quando ela está baixa, ele atua elevando para que possamos manter os chamados estados normais de glicose importantes para o bom funcionamento do organismo.  

             No entanto, algumas perguntas surgiram. Será que o mesmo pode ser eficaz no processo de emagrecimento? Estudos clínicos posteriores avaliaram o uso da semaglutida em pacientes obesos (mesmo sem diabetes) por longos períodos, com perda de 5 a 12% do peso corporal reportada. Frente às evidências, o fármaco foi aprovado pela FDA como tratamento para obesidade em 2021, com nome comercial Wegovy®. No Brasil, essa aprovação pela ANVISA só aconteceu em janeiro deste ano, quase 2 anos depois. Portanto, o uso da semaglutida passa a ter recomendação formal para obesidade, quando usada como Wegovy® (ainda sem registro no país). No entanto, no Brasil está sendo utilizado o Ozempic ainda de forma off-label (para usos diferentes daqueles descritos na bula).

             O Ozempic® tornou-se uma grande febre entre quem busca emagrecer de maneira mais rápida e este é o problema: o uso do fármaco de forma inadequada ou indevida. A indicação para o uso da semaglutida para obesidade inclui pacientes com índice de massa corporal ≥ 30 kg/m2 ou ≥ 27 kg/m2 associada a comorbidade (hipertensão, dislipidemia, apneia obstrutiva ou doenças cardiovasculares em geral). Fica claro na bula, contudo, que o tratamento deve ser associado a dietas hipocalóricas e atividades físicas.

             Entretanto, muitas pessoas com condições bem diferentes das citadas acima, e sem acompanhamento médico passaram a utilizaram o medicamento, a espera de milagres. E ai começam os problemas, pois tem-se o alto risco de efeitos adversos como gástricos, como diarreia, náuseas, vômitos, constipação e refluxos. Contudo, um estudo publicado na revista norte-americana JAMA em março de 2021, mostrou problemas mais graves como pancreatite, automutilação e idealização suicida em alguns pacientes que faziam o uso do medicamento.

             Precisamos lembrar que milagres não existem! O uso indiscriminado do medicamento em questão, por pessoas sem obesidade e que apenas visam o emagrecimento estético, pode resultar em efeito rebote, uma vez que a interrupção do tratamento, seguido da não mudança de hábitos, como não praticar atividade física, pode acarretar novamente em ganho de peso.

             Inclusive para o tratamento da obesidade deve-se  combinar intervenções comportamentais, nutrição, atividade física, farmacoterapia e procedimentos metabólicos/bariátricos, conforme apropriado para cada paciente.

             Por fim, o emagrecimento pode ser um processo bastante desafiador para quem passa, e necessita de muita paciência e apoio de todos que estão em volta. O uso de remédios como o Ozempic® ou demais medicamentos nunca deve ser a primeira e única opção, e quando utilizar sempre deve ser acompanhada por profissionais da saúde devidamente habilitados.

Referências Bibliográficas:

1. McLellan, Kátia Cristina Portero, et al. “Diabetes Mellitus Do Tipo 2, Síndrome Metabólica E Modificação No Estilo de Vida.” Revista de Nutrição, vol. 20, no. 5, 1 Oct. 2007, pp. 515–524, www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-52732007000500007, https://doi.org/10.1590/S1415-52732007000500007.

2. Horvatich, Guilherme. “Semaglutida Em Pauta.” Conselho Federal de Farmácia, site.cff.org.br/noticia/noticias-do cff/07/02/2023/semaglutida-em-pauta.

3. Trabulsi, Rhamid Kalil, et al. “As Consequências Clínicas Do Uso de Ozempic Para Tratamento Da Obesidade: Uma Revisão de Literatura.” Brazilian Journal of Health Review, vol. 6, no. 3, 12 June 2023, pp. 12297–12312, ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/view/60600, https://doi.org/10.34119/bjhrv6n3-305.

4. Ruder, Kate. “As Semaglutide’s Popularity Soars, Rare but Serious Adverse Effects Are Emerging.” JAMA, 15 Nov. 2023, jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2812192, https://doi.org/10.1001/jama.2023.16620.

Autora:

Débora Luísa Filipetto Pulcinelli

Acadêmica do curso de graduação em Farmácia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), aluna de Iniciação Científica no Laboratório de Biogenômica e colaboradora do Portal Ciência e Consciência.

 

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