Ir para o conteúdo CIÊNCIA E CONSCIÊNCIA Ir para o menu CIÊNCIA E CONSCIÊNCIA Ir para a busca no site CIÊNCIA E CONSCIÊNCIA Ir para o rodapé CIÊNCIA E CONSCIÊNCIA
  • International
  • Acessibilidade
  • Sítios da UFSM
  • Área restrita

Aviso de Conectividade Saber Mais

Início do conteúdo

Quando a genética manda no coração: Por que a atração vai além da aparência?



Se você já foi rejeitado por alguém e nunca entendeu o motivo, a explicação pode estar relacionada aos seus próprios genes, especificamente no Complexo Principal de Histocompatibilidade (MHC) – uma parte do genoma que controla o sistema imunológico. Lembrando que genoma é a sequência completa de DNA de um ser vivo, ou seja, o conjunto de todos os seus genes. Essa intrigante região do genoma desempenha um papel surpreendente na escolha dos nossos parceiros.

 

O MHC é um conjunto de genes encontrado em todos os vertebrados e compreende o centro do sistema imunológico adaptativo, relacionado aos processos evolutivos ao longo dos anos, que favoreceram a variabilidade genética como uma estratégia de sobrevivência. Esses genes são responsáveis pela codificação de proteínas que apresentam antígenos (substâncias que podem induzir uma resposta imune) aos linfócitos T, que são fundamentais para a defesa do organismo contra patógenos, como vírus e bactérias. 

O MHC é altamente polimórfico, o que significa que existem muitas variantes (alelos) desses genes em uma população, permitindo uma ampla diversidade na resposta imune, pois quando uma célula apresenta um antígeno estranho, os linfócitos T identificam e iniciam uma resposta imunológica para eliminá-lo. É importante mencionar que o MHC interage com várias células do sistema imunológico, além dos linfócitos T, como as células dendríticas e os macrófagos. Isso demonstra o papel essencial do MHC no centro de uma complexa rede de defesa do organismo contra ameaças externas.

Mas como isso se conecta com a atração? A teoria é que a associação do MHC com a escolha de parceiros sexuais surge da hipótese de que a diferença de MHC entre parceiros pode ser benéfica para a prole. Essa teoria é apoiada por estudos guiados pelo olfato, que testaram preferências por parceiros de MHC-diferentes, em camundongos, e revelaram que as preferências são mediadas por sinais de odor, influência de hormônios, levando a uma seleção de parceiros que potencialmente melhora a aptidão reprodutiva.

Além disso, as preferências de parceiros associadas ao MHC também foram testadas em humanos. Um estudo conhecido por “experimentos de camiseta suada” fez com que mulheres cheirassem as camisetas com as quais os homens – sem terem usado perfume ou desodorante – dormiram por duas noites seguidas. Foram relatadas preferências por odores masculinos (com influência de proteínas do MHC que se manifestam na pele e em secreções corporais, como o suor) de indivíduos com MHC diferente do seu – a menos que estejam usando contraceptivos hormonais, que podem inverter essa preferência. O odor corporal, influenciado por proteínas do MHC, transmite informações importantes sobre a saúde, a fertilidade e a compatibilidade genética. Assim, o odor corporal se torna uma forma de comunicação não verbal que pode transmitir informações fundamentais para entender como as pessoas se conectam em um nível biológico.

Além de influenciar o desejo, a compatibilidade genética pode ter implicações na satisfação e na qualidade dos relacionamentos. Pesquisas indicam que casais com maior similaridade no MHC tendem a relatar menor satisfação sexual, enquanto aqueles com maior diferença genética no HLA (como é chamado o MHC em humanos – Antígeno Leucocitário Humano) geralmente têm maior satisfação. Isso sugere que a dissimilaridade genética pode ser um fator positivo na atração e na formação de relacionamentos saudáveis.

 

Dessa forma, a interseção entre genética e a atração revela que o que nos atrai em alguém vai além da aparência. A diversidade genética no MHC pode ser um fator importante para a compatibilidade, desafiando a visão superficial do que nos aproxima uns dos outros. Compreender o papel do MHC e outros fatores biológicos pode ajudar a entender melhor a complexidade das conexões humanas. Afinal, o coração pode ser influenciado por muito mais do que aquilo que os olhos podem ver.

Referências Bibliográficas:

SCALISE, R. et al. A retrospective longitudinal study in a cohort of children with dyskinetic cerebral palsy treated with tetrabenazine. Frontiers in Neurology, v. 12, 2021. DOI: 10.3389/fneur.2021.612429.

WINTERNITZ, J. et al. MHC-dependent mate selection patterns in humans and non-human primates: a meta-analysis. Molecular Ecology, v. 26, n. 2, p. 668-688, 2017.

HAVLÍČEK, J.; ROBERTS, S. C. Odor preferences associated with MHC and choice of human partners: near and far horizons. Philosophical Transactions of the Royal Society B, v. 374, 2019. DOI: 10.1098/rstb.2019.0260.

Autora:

Gabriela Achunha Razzera

Acadêmica do curso de Farmácia da Universidade Federal de Santa Maria e colaboradora do Portal Ciência e Consciência.

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7312380567761561

Divulgue este conteúdo:
https://ufsm.br/r-910-431

Publicações Relacionadas

Publicações Recentes