Atualmente, vivenciamos uma pandemia de hipovitaminose D, devido à alta prevalência de deficiência e/ou insuficiência de vitamina D nas pessoas, o que se configura como um problema de saúde pública, que afeta quase 50% da população mundial. A vitamina D, também conhecida como “vitamina do sol”, é a única vitamina que pode ser produzida na pele a partir da exposição à luz solar (raios ultravioleta B – UVB), sendo a vitamina D3 (ou colecalciferol) a forma produzida pelo organismo. Essa é a principal forma de obter a vitamina, mas ela também pode ser adquirida através da dieta, pelo consumo de ovos, cogumelos, sardinha, óleo de fígado de bacalhau e peixes gordurosos, como salmão, atum e cavala. No entanto, na maioria dos casos essas fontes alimentares naturais (não enriquecidas) são escassas e incapazes de fornecer a quantidade diária recomendada.
A insuficiência/deficiência de vitamina D é atribuída principalmente a fatores ambientais, genéticos e relacionados ao estilo de vida que afetam de alguma maneira a exposição à luz solar, a capacidade da pele de sintetizar a vitamina D3 e o estoque desta no organismo, tais como: idade, estação do ano, hora do dia, tempo de exposição ao sol, quantidade de pele exposta, pigmentação da pele, uso de certos medicamentos, síndromes de má absorção intestinal, obesidade, problema nos rins e uso de filtros solares com um fator de proteção solar maior do que 8. Estudos apontam que pelo menos 20% da superfície do corpo precisa ser exposta aos raios UVB para efetivar a síntese.
A “vitamina do sol” possui ação importante nos ossos, intestino, pâncreas, cérebro, sistema imunológico, sistema cardiovascular e nos ciclos celulares. Ela adquire um importante papel no desenvolvimento cerebral e na manutenção da função mental, medeia a mineralização óssea, estimula a secreção de insulina, controla a absorção de cálcio no intestino delgado, mantém o equilíbrio do cálcio no sangue e, durante a infância e adolescência, possui importante papel no crescimento ósseo. Além disso, é uma potente imunomoduladora, protetora do coração, anti-inflamatória e reguladora de mais de duzentos genes responsáveis pela formação de novos vasos sanguíneos e pela proliferação, diferenciação e morte celular.
A deficiência e/ou insuficiência de vitamina D (hipovitaminose D) tem sido associada a uma variedade de adversidades que incluem doenças autoimunes como o diabetes mellitus tipo 1, doenças cardiovasculares como hipertensão arterial e aterosclerose, surtos de gripe, depressão, ansiedade, diabetes mellitus tipo 2, neoplasias, entre outras. Além disso, resulta em anormalidades no metabolismo do cálcio, do fósforo e dos ossos, ocasionando fraqueza muscular, fraqueza óssea e diminuição na densidade mineral óssea, levando a osteopenia, osteomalácia e osteoporose. Essa condição, em crianças pequenas, é conhecida como raquitismo e resulta em uma série de deformidades esqueléticas.
Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM, 2017), as concentrações séricas de vitamina D são classificadas em quatro categorias: deficiência [< 10 ng/mL], insuficiência [10-20 ng/mL], suficiência para pessoas saudáveis [> 20 ng/mL] e suficiência para grupos de risco [30 e 60 ng/mL]. Níveis acima de 100 ng/mL são considerados tóxicos, por isso, o desejável é entre 20 e 100 ng/mL.
Endocrinologistas recomendam que seja feita uma exposição solar diária nos braços e pernas de 15 a 20 minutos entre as 10 horas da manhã e 16 horas da tarde, que é quando ocorre maior incidência dos raios UV. Mesmo que seja comprovado que o uso de protetor solar pode reduzir a produção de vitamina D no organismo em mais de 98%, dependendo do seu fator de proteção, o seu uso é sempre indicado, pois a síntese ainda ocorre, mesmo que em menor escala. Em pessoas com o tom de pele mais escuro, por possuírem mais melanina, a qual funciona como uma proteção natural aos raios solares, é necessário de três a cinco vezes mais exposição à luz solar para que seja produzido o mesmo nível de vitamina D.
Quando a exposição ao sol não pode ser realizada, seja por alguma limitação ou restrição, por exemplo, o ideal é apostar na suplementação. A SBEM, no entanto, não recomenda a suplementação generalizada para toda a população, apenas para indivíduos que apresentam risco comprovado de desenvolver hipovitaminose D e com contraindicação clínica para exposição, tendo em vista que quando suplementada em excesso, a vitamina D se torna tóxica.
Sendo assim, é necessário atentar-se, por meio da realização de exames de sangue e avaliações médicas periódicas, acerca do nível de vitamina D presente no corpo, visto a sua importância, lembrando, é claro, de sempre que possível realizar uma exposição solar sensata para maximizar o estado de vitamina D, promovendo uma boa saúde.
Mas e você, já tomou sol hoje?
Bibliografia:
HOLICK, M. F. The influence of vitamin D on bone health across the life cycle. The Journal of Nutrition, v. 135, n. 11, 2005. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/16251638/.
LIPS, P. Vitamin D physiology. Progress in Biophysics and Molecular Biology, v.92, n. 1, p.4-8, 2006. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.pbiomolbio.2006.02.016.
MAEDA, S. S. et al. Recomendações da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) para o diagnóstico e tratamento da hipovitaminose D. Arq Bras Endocrinol Metab., v.58, n.5, 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/abem/a/fddSYzjLXGxMnNHVbj68rYr/?format=pdf&lang=pt
NAIR, R.; MASEEH, A. Vitamin D: The “sunshine” vitamin. Journal of Pharmacology and Pharmacotherapeutics, v.3,2, p.118-126, 2012. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22629085/.
SBEM – Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Vitamina D: novos valores de referência. 2017. Disponível em: https://www.endocrino.org.br/vitamina-d-novos-valores-de-referencia/vitamina.
WENNA M. Como e a que horas pegar sol para sintetizar vitamina D no verão? EU Atleta, Rio de Janeiro, 2022. Disponível em: https://ge.globo.com/eu-atleta/saude/noticia/como-e-a-que-horas-tomar-sol-para-sintetizar-vitamina-d-no-verao.ghtml
Autora:
Jackeline de Miranda Schmidt, acadêmica do 4° semestre do curso de Farmácia da UFSM e colaboradora do Portal Ciência e Consciência.
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