Você já teve aquela sensação de acordar cansado, como se não tivesse dormido nada, mesmo depois de uma noite inteira de sono? Pode ser que você esteja enfrentando um problema comum, como a insônia, porém, muitas vezes subestimado: a apneia obstrutiva do sono (AOS).
A AOS é o distúrbio respiratório mais comum relacionado ao sono, afetando cerca de 30% da população adulta no Brasil. Mas o que exatamente é isso? Imagine que, enquanto você está dormindo alguma parte da sua garganta fica bloqueada, impedindo o ar de passar para os seus pulmões. Essas interrupções podem ser breves, durando alguns segundos, ou mais prolongadas, chegando a minutos, e podem ocorrer várias vezes durante a noite.
Fatores como excesso de peso (aproximadamente 40 a 60% dos casos de AOS são atribuíveis a isso), histórico familiar da condição, ser do sexo masculino, idade avançada, dormir de barriga para cima e certas características faciais, como um queixo pequeno ou uma mandíbula retraída, podem aumentar o risco de desenvolver apneia do sono.
Um dos sinais mais comuns da AOS é o ronco alto. Muitas pessoas também experimentam pausas na respiração. Essas pausas são muitas vezes seguidas por um despertar parcial, muitas vezes imperceptível, que quebra o ciclo de sono e faz com que a pessoa se sinta sonolenta e fadigada, ou seja, com pouca energia durante o dia. Além disso, os despertares ao final da apneia podem causar dificuldades para manter o sono.
Os problemas não param por aí. Os sintomas podem afetar a capacidade de se concentrar no trabalho ou na escola e até mesmo aumentar o risco de acidentes de trânsito e de trabalho. As pessoas acometidas pela AOS também podem sofrer de dores de cabeça matinais, irritabilidade e depressão. Além disso, as consequências desta condição não são apenas relacionadas ao sono, podendo também estar associada a um maior risco de desenvolver uma série de problemas de saúde graves, incluindo pressão alta, acidente vascular cerebral, diabetes tipo 2 e doenças cardíacas, aumentando significativamente as chances de ter doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca e arritmias.
Para diagnosticar a AOS, o padrão-ouro é a polissonografia, um exame que geralmente realizado em um laboratório do sono, onde o paciente passa a noite. O exame registra várias funções corporais durante o sono, incluindo atividade cerebral, movimentos dos olhos, atividade muscular, ritmo cardíaco, níveis de oxigênio no corpo, fluxo respiratório, esforço respiratório e roncos. Além disso, há também um teste de sono domiciliar, mais prático, em que o paciente leva para casa dispositivos portáteis que se concentram nas medidas respiratórias (por exemplo: frequência respiratória, esforço respiratório, saturação de oxigênio) e é útil em pacientes com probabilidade moderada a alta de ter apneia obstrutiva do sono. Paralelo a isso, há o teste de manutenção da vigília, usado para medir a capacidade do paciente para sustentar a vigília, ou seja, ficar acordado durante o dia, e pode fornecer evidências importantes para a avaliação da eficácia de terapias para a melhora da sonolência.
Felizmente, existem opções de tratamento disponíveis para a AOS. Dentre as terapias para melhora da sonolência, temos o tratamento padrão é o CPAP (Continuous Positive Airway Pressure), que envolve o uso de um dispositivo que fornece uma pressão de ar contínua através de uma máscara facial durante o sono, mantendo as vias aéreas abertas e pode ser adquirido em lojas especializadas. Além disso, fazer algumas mudanças no estilo de vida, como perder peso, evitar dormir de barriga para cima e reduzir o consumo de álcool e tabaco, também podem ajudar.
Se você suspeita que pode estar sofrendo de apneia do sono, é importante procurar a orientação de um médico. Eles podem ajudá-lo a obter um diagnóstico adequado e recomendar o tratamento mais adequado para você. Com o tratamento adequado, é possível melhorar a qualidade do seu sono e se sentir mais descansado durante o dia.
Referências Bibliográficas:
1. JAMESON, J. L.; FAUCI, A. S.; KASPER, D. L.; HAUSER, S. L.; LONGO, D. L.; LOSCALZO, J. Medicina interna de Harrison. 20. ed. São Paulo: McGraw-Hill, 2022. Cap. 297.
2. GOLDMAN, L.; SCHAFER, A. I. Goldman-Cecil Medicina. 26. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2020. Cap. 108.
3. PORTO, C. C.; PORTO, A. L. Semiologia médica. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021. Cap. 38.
Autor:
Luciano Araldi
Acadêmico do curso de graduação em Medicina, aluno de Iniciação Científica no Laboratório de Biogenômica – Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3413142507576457