A teoria da sincronização menstrual ficou muito conhecida na década de 70 e é presente em rodas de amigas até hoje, mas será que existem provas científicas?
A teoria de Martha McClintock foi publicada em 1971 em uma grande revista científica, a Nature, e sugeriu que o dia de início da menstruação era mais parecido entre amigas quando comparado a de mulheres que não conviviam. A tese defendia que o fato das mulheres terem costumes alimentares, hábitos e períodos de estresse semelhantes, já que conviviam, influencia na sincronização dos ciclos.
Uma possível explicação era a hipótese de que as mulheres que passavam muito tempo juntas conseguiam trocar feromônios entre si. Os feromônios são ecto-hormônios, ou seja, hormônios secretados no meio externo, que atuam sobre outros organismos da mesma espécie para que eles se reconheçam e se comuniquem (é assim que os animais conversam entre si!).
Para a pesquisadora Martha McClintock, a duração dos ciclos estava relacionada aos feromônios de base ovariana que aceleram ou retardam o aumento do hormônio luteinizante (que atua na regulação do ciclo menstrual) e, portanto, encurtavam ou aumentavam os períodos menstruais.
Entretanto, em humanos a comunicação com feromônios ainda não foi comprovada cientificamente, e por essa razão, não foi possível concluir que a teoria da sincronização do ciclo menstrual entre as mulheres está relacionada a este mecanismo hormonal.
Mas então porque percebemos que essa sincronia acontece entre nossas amigas e colegas de trabalho? Não há mesmo algum fundo de verdade nas observações de sincronia de Martha? Os estudiosos dizem, o que acontece é uma sobreposição de ciclos, não uma sincronia, por exemplo, se um ciclo tem 28 dias de duração, o máximo que duas mulheres podem estar fora da fase menstrual são 14 dias (já que em média, os inícios dos ciclos ocorrerem com 7 dias de intervalo). E tendo em vista que a menstruação geralmente dura 5 dias, não é surpreendente que amigas tenham seus ciclos sobrepostos. Ou seja, eventualmente, mulheres de um mesmo grupo irão menstruar num mesmo período, mas isso tem a ver com as chances matemáticas de uma sobreposição dos ciclos e não por uma sincronia menstrual.
Ainda não está convencida?
Num estudo de 2017, na tentativa de resolver a controvérsia, cientistas da Universidade de Oxford conduziram uma pesquisa com mulheres que utilizavam um aplicativo específico, que permitia às usuárias monitorar e compartilhar informações relacionadas ao seu ciclo menstrual.
Foram analisadas 360 duplas de mulheres, todas as quais mantinham um relacionamento próximo durante um extenso período de tempo. Os pesquisadores examinaram os três ciclos menstruais mais recentes entre as parceiras, buscando identificar qualquer tipo de sincronização. Os resultados revelaram que, ao invés de ocorrer sincronia, 273 das duplas demonstraram padrões discrepantes. Em contraste, somente 79 duplas pareciam apresentar algum grau de coincidência. Além disso, mulheres que compartilhavam um espaço de convivência não relataram uma incidência maior de alinhamento quando comparadas a outras duplas. A pesquisadora concluiu que isso sustentava a perspectiva de que a noção de sincronização menstrual era infundada, apesar de muitas mulheres ainda continuarem crendo nessa ideia.
Referências Bibliográficas:
1. H.Clyde Wilson,A critical review of menstrual synchrony research, Psychoneuroendocrinology, Volume 17, Issue 6, 1992, Pages 565-591.
Disponível em: A critical review of menstrual synchrony research – ScienceDirect
2. McClintock M. Menstrual Synchrony and Suppression. Nature 229, 244–245 (1971).
Disponível em: Menstrual Synchrony and Suppression | Nature
3. Strassmann BI. Menstrual synchrony pheromones: cause for doubt. Hum Reprod. 1999 Mar;14(3):579-80.
Disponível em: Menstrual synchrony pheromones: cause for doubt – PubMed (nih.gov)
4. Ziomkiewicz A. Sincronia Menstrual: Fato ou artefato? Hum Nat. 2006 Dec;17(4):419-32. doi: 10.1007/s12110-006-1004-0. PMID: 26181611.
Disponível em: Menstrual synchrony: Fact or artifact? – PubMed (nih.gov)
5. Period syncing myth debunked. (2017).
Disponível em: https://www.figo.org/news/period-syncing-myth-debunked-0015541
Autora:
Isabella Amaral Breidenbach
Acadêmica do curso de graduação em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), aluna de Iniciação Científica no Laboratório de Biogenômica e colaboradora do Portal Ciência e Consciência
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1282264904376572