Você sabia que suas fezes podem ser um alerta importante para sua saúde? Isso mesmo! Embora muita gente não goste de falar sobre esse assunto, a aparência, a cor e até a consistência das fezes podem indicar problemas no intestino, como o câncer colorretal. Muitas vezes, esse câncer se desenvolve de maneira silenciosa, sem sintomas visíveis no começo, mas suas fezes podem ser um sinal de que algo não está bem.
Mas o que é e como ocorre esse câncer?
O câncer colorretal é um tipo de câncer que afeta o cólon (parte do intestino grosso) ou o reto (parte final do intestino). Atualmente, é o terceiro tipo de tumor mais prevalente em homens e mulheres, principalmente depois dos 50 anos, mas os casos em pessoas jovens têm aumentado significativamente.
A formação do câncer ocorre quando células normais no cólon ou reto começam a crescer de maneira descontrolada, formando tumores. Geralmente, surgem os pólipos (pequenas protuberâncias ou crescimento anormal de células) nas paredes do cólon e do reto, que podem ser benignos (não cancerígenos) no início, mas, com o tempo, alguns podem se transformar em câncer, se não forem removidos.
Se o pólipo se torna canceroso, as células cancerígenas podem crescer e se espalhar para as camadas mais profundas do intestino e, eventualmente, podem se disseminar para outros órgãos do corpo, como fígado e pulmões. Portanto, a principal forma de prevenção do câncer colorretal é o seu rastreamento por meio da colonoscopia, visando a detecção e retirada dos pólipos antes de evoluírem para câncer.
E existem fatores de risco relacionados? A resposta é sim. A idade é um dos mais significativos, com o risco aumentando após os 50 anos. Ter um histórico familiar de câncer colorretal ou pólipos também eleva as chances. Além disso, doenças inflamatórias intestinais, como doença de Crohn e colite ulcerativa, aumentam o risco devido à inflamação crônica no intestino. Hábitos de vida, como dieta rica em carnes processadas, sedentarismo, tabagismo e álcool em excesso também contribuem para o desenvolvimento da doença. A obesidade e condições genéticas raras, como a síndrome de Lynch, também estão associadas ao aumento do risco.
E como as fezes sinalizam essa doença? Os sintomas do câncer colorretal podem variar conforme o estágio da doença e sua localização no cólon ou reto, e muitas vezes não são percebidos logo no início. No entanto, à medida que o tumor cresce, alguns sinais começam a aparecer, como alterações no padrão das evacuações, mudança na cor das fezes ou mesmo uma sensação de evacuação incompleta.
A presença de sangue nas fezes é um dos sintomas mais comuns e deve ser observada com atenção. O sangue pode aparecer de maneira visível, com as fezes ficando vermelhas, ou pode ser oculto, ou seja, imperceptível a olho nu, mas ainda assim detectável por exames laboratoriais, como a pesquisa de sangue oculto nas fezes. O tipo de sangue também pode indicar a localização do tumor: o sangue mais escuro sugere sangramentos no cólon superior, enquanto o sangue vermelho brilhante pode estar relacionado a tumores no reto ou cólon inferior.
Além disso, uma ferramenta chamada Escala de Bristol ajuda a entender melhor a consistência das fezes. Essa escala classifica as fezes em sete tipos e mudanças significativas, como fezes muito duras ou muito líquidas, podem ser sinais de que algo não está funcionando direito no seu sistema digestivo.
Atenção! É importante destacar que nem toda alteração nas fezes significa câncer, mas quando essas mudanças persistem por mais de alguns dias, é fundamental procurar um médico. Devemos evacuar fezes macias e pastosas, bem formadas (tipo 3 e 4 da Escala de Bristol), sem a presença de sangue ou muco, com ausência de dor ou de necessidade de esforço.
Com isso, o que concluímos é que a prevenção do câncer colorretal começa com a atenção aos sinais que o nosso corpo nos envia. Realizar exames de rastreamento, como a colonoscopia, e adotar um estilo de vida saudável, com alimentação balanceada, prática regular de exercícios, controle de peso, e evitar o consumo excessivo de álcool e tabaco, podem reduzir significativamente o risco de desenvolver a doença. Por fim, estar atento ao que suas fezes podem estar dizendo é um passo importante para a prevenção, e, ao perceber qualquer alteração persistente, buscar orientação médica é fundamental para a sua saúde e bem-estar.
Referências Bibliográficas:
1. “Câncer de intestino.” Instituto Nacional de Câncer – INCA, 2022. Disponível em: www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/tipos/intestino.
2. “Câncer de cólon e reto.” Instituto Nacional de Câncer – INCA, 2023. Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/numeros/estimativa/sintese-de-resultados-e-comentarios/cancer-de-colon-e-reto
3. Disner, Elton. “Câncer colorretal é o segundo que mais mata no mundo” Sociedade Brasileira Cirurgia Oncológica, 2024. Disponível em: https://sbco.org.br/atualizacoes-cientificas/cancer-colorretal-e-o-segundo-que-mais-mata-no-mundo
4. Norman, Abby. “An Overview of the Bristol Stool Chart.” Verywell Health, 2018. Disponível em: https://www.verywellhealth.com/bristol-stool-chart-4174964
5. Sociedade Brasileira de Coloproctologia. “Journal of Coloproctology”, 2023. Disponível em: https://sbcp.org.br/noticias/journal-of-coloproctology/
Autora:
Julia Piton
Aacadêmica do Curso de Medicina da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e colaboradora do Portal Ciência e Consciência.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7318426348944373