As varizes, caracterizadas por veias dilatadas e tortuosas, são uma condição vascular comum que afeta milhões de pessoas no mundo, especialmente nas pernas. Embora muitas vezes associadas a preocupações estéticas, as varizes podem causar sintomas desconfortáveis e até complicações sérias se não forem tratadas. De acordo com a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular, cerca de 35% da população brasileira, principalmente mulheres, sofre com esse problema. Elas ocorrem quando as válvulas nas veias, que deveriam garantir que o sangue flua de volta ao coração, deixam de funcionar corretamente. Isso faz com que o sangue se acumule nas veias, resultando em sua dilatação. A origem desse mau funcionamento é multifatorial, influenciada por fatores genéticos, hormonais e comportamentais.
A predisposição genética e os hormônios sexuais desempenham papel significativo no desenvolvimento de varizes. Indivíduos com histórico familiar têm maior probabilidade de desenvolver a condição. Nas mulheres, o estrogênio e a progesterona são conhecidos por promover o relaxamento da musculatura lisa das paredes venosas, facilitando a dilatação das veias. Isso explica por que as varizes são mais comuns em mulheres, particularmente durante a gravidez ou em uso de anticoncepcionais. Durante a gravidez, além das alterações hormonais, o volume de sangue aumenta para nutrir o feto, aumentando a pressão nas veias das pernas. Além disso, o útero pode comprimir as veias pélvicas, dificultando o retorno venoso dos membros inferiores. Nos homens, embora menos frequente, as varizes também podem ocorrer, e alguns estudos sugerem uma ligação com os níveis elevados de hormônios como a testosterona e o estradiol.
O estilo de vida é um fator importante no desenvolvimento de varizes. Pessoas que permanecem em pé ou sentadas por longos períodos têm maior risco, porque a gravidade dificulta o retorno do sangue ao coração, aumentando a pressão nas veias das pernas. A falta de movimento dos músculos da panturrilha, que auxiliam o retorno venoso, agrava esse problema. O uso de saltos altos por longos períodos é citado como fator de risco, porque o salto pode contribuir para o aumento da pressão nas veias das pernas, especialmente quando combinado com outros fatores de risco. Além disso, calçados que não permitem a flexão adequada dos pés podem dificultar a ação dos músculos das panturrilhas. A obesidade também desempenha papel importante, uma vez que o excesso de peso aumenta a pressão sobre as veias. A constipação crônica pode ser outro fator agravante, uma vez que o esforço para evacuar aumenta a pressão intra-abdominal, o que pode prejudicar as válvulas venosas ao longo do tempo.
Embora as varizes sejam associadas a uma aparência desagradável nas pernas, os sintomas podem ser muito mais complexos, com dor, cansaço, sensação de peso e desconforto nas pernas, especialmente após longos períodos em pé. Outros sintomas incluem ardência, formigamento, cãibras e inchaço. Em casos mais graves, a pele ao redor das varizes pode ficar mais escura e endurecida, levando a úlceras venosas, que são feridas de cicatrização difícil. Um aspecto interessante é que o grau de dor ou desconforto nem sempre está relacionado ao tamanho visível das veias. Algumas pessoas com varizes grandes não relatam dor, enquanto outras, com pequenas veias superficiais, sentem grande desconforto. As varizes também podem afetar a autoestima, especialmente quando são visivelmente pronunciadas. A sensação de constrangimento pode levar ao isolamento social, impactando a qualidade de vida e bem-estar emocional.
O tratamento varia de acordo com a gravidade. Em casos leves, podem ser usadas meias de compressão, que exercem uma pressão externa nas pernas, ajudando o sangue a circular de volta ao coração e reduzindo o inchaço e a dor. É recomendado realizar exercícios que envolvam os músculos das pernas, como caminhadas, ciclismo e natação. Nos casos avançados, intervenções mais invasivas podem ser necessárias, como a escleroterapia, na qual uma substância é injetada diretamente nas veias, provocando o seu fechamento. A ablação por laser ou por radiofrequência é outra alternativa, em que a energia térmica é usada para destruir as veias varicosas. Nos casos mais graves, a cirurgia pode ser indicada. O procedimento tradicional, chamado safenectomia, consiste na remoção das veias safenas doentes. Atualmente, técnicas menos invasivas, como a microcirurgia ou laser endovenoso, também vêm se popularizando.
A prevenção das varizes envolve medidas simples e eficazes, como evitar longos períodos de imobilidade, manter um peso saudável e adotar uma dieta rica em fibras para prevenir a constipação. A elevação das pernas ao final do dia pode ajudar a reduzir a pressão nas veias, assim como o uso de calçados confortáveis. É importante lembrar que, embora as varizes sejam comuns e geralmente não representem ameaça imediata à saúde, a detecção precoce e o tratamento adequado são essenciais para prevenir complicações mais graves e melhorar a qualidade de vida.
Referências Bibliográficas:
1. RAETZ, J.; WILSON, M.; COLLINS, K. Varicose Veins: Diagnosis and Treatment. Am Fam Physician. 2019 Jun 1;99(11):682-688. PMID: 31150188.
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Autor:
Luciano Araldi
Acadêmico do Curso de Medicina da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e colaborador do Portal Ciência e Consciência.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3413142507576457