A recente notícia de um surto de Doença de Newcastle (DNC) em uma granja comercial na cidade de Anta Gorda, no estado do Rio Grande do Sul, em maio de 2024, trouxe grande preocupação para os moradores do estado e consumidores de produtos derivados de aves. Não tão conhecida, essa doença acaba sendo confundida com a gripe aviária, devido à similaridade de transmissão, que pode ocorrer através do contato direto com aves infectadas ou superfícies contaminadas, bem como através de aves migratórias que podem atuar como reservatórios naturais. Contudo, os efeitos da DNC em seres humanos são bem menos preocupantes e graves, quando comparados aos da gripe aviária.
A DNC é causada por um vírus da família Paramyxoviridae, podendo causar uma mortalidade elevada em aves não vacinadas. Os sintomas nesses animais incluem problemas respiratórios, sinais neurológicos e uma queda na produção de ovos. Já a gripe aviária, causada por várias cepas do vírus da influenza tipo A, é uma doença viral altamente contagiosa que afeta aves, incluindo aves domésticas e selvagens. Entre as cepas mais preocupantes estão o H5N1 e o H7N9, que têm demonstrado potencial para infectar seres humanos, causando preocupação global devido ao risco de uma pandemia.
Em humanos, a DNC se apresenta como uma gripe leve, podendo apresentar febre, dor de cabeça e conjuntivite. A sintomatologia da gripe aviária em humanos pode variar amplamente, desde sintomas leves até quadros graves e fatais. Os sintomas iniciais frequentemente se assemelham aos da gripe comum, incluindo febre alta, tosse, dor de garganta, dores musculares e mal-estar geral. No entanto, em casos mais graves, a infecção pode evoluir rapidamente para problemas respiratórios severos, como pneumonia e síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), levando à insuficiência respiratória. Outros sintomas podem incluir diarreia, vômitos, dores abdominais e, em alguns casos, conjuntivite. A taxa de mortalidade é alta em comparação com a gripe sazonal, especialmente se o tratamento não for iniciado precocemente. Devido à gravidade potencial dos sintomas, a identificação rápida e o tratamento adequado são cruciais para melhorar as chances de recuperação.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) monitoram de perto os surtos de gripe aviária devido ao seu potencial de se transformar em pandemias. Desde 2003, mais de 860 casos confirmados de infecção humana pelo H5N1 foram relatados, resultando em cerca de 455 mortes. A cepa H7N9, identificada pela primeira vez em 2013 na China, causou mais de 1.500 infecções humanas, com uma taxa de mortalidade superior a 30%. Embora a DNC não seja conhecida por possuir alta taxa de infecção em humanos, seu impacto na produção avícola e na segurança alimentar é significativo.
Os surtos de gripe aviária e da DNC resultam em perdas econômicas substanciais para os produtores de aves. O controle das infecções por esses vírus envolve uma série de medidas, como vigilância contínua das populações de aves para detecção precoce de surtos, desinfecção regular das granjas e restrição de acesso, e programas de vacinação das aves. Além disso, a resposta rápida a surtos, com ações como quarentena imediata, abate total das aves infectadas e desinfecção de instalações, é essencial para evitar a disseminação do vírus.
A colaboração internacional também é vital para enfrentar esses desafios. Organizações como a OMS, OIE e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) trabalham juntas para monitorar a situação global, compartilhar informações e desenvolver estratégias de resposta. A pesquisa contínua sobre os vírus, incluindo o desenvolvimento de vacinas mais eficazes e métodos de diagnóstico, é essencial para conter e prevenir surtos futuros.
Por fim, os recentes surtos de DNC no Rio Grande do Sul ressaltam a necessidade de um esforço coordenado para proteger a saúde pública e a segurança alimentar. A vigilância, a implementação de medidas de biossegurança rigorosas e a cooperação internacional são fundamentais para controlar e prevenir esses surtos. Enquanto a gripe aviária e a DNC continuam a representar ameaças significativas, a preparação e a resposta eficazes podem minimizar seus impactos e garantir a sustentabilidade da indústria avícola.
Referências Bibliográficas:
1. “Influenza (Avian and Other Zoonotic).” Who.int, World Health Organization: WHO, 13 Nov. 2018, Disponível em: www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/influenza-(avian-and-other-zoonotic)
2. CDC. “Bird Flu.” Avian Influenza (Bird Flu), 16 July 2024, Disponível em: www.cdc.gov/bird-flu/
3. “Avian Influenza A(H7N9) Virus.” World Health Organization, 23 Feb. 2017, www.who.int/influenza/human_animal_interface/influenza_h7n9/en/, Disponível em: https://doi.org/entity/influenza/human_animal_interface/influenza_h7n9/en/index.html.
4. “Estado Confirma Foco de Doença de Newcastle.” Secretaria Da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável E Irrigação, 17 July 2024, Disponível em: www.agricultura.rs.gov.br/estado-confirma-foco-de-doenca-de-newcastle Accessed 28 July 2024.
Autora:
Débora Luísa Filipetto Pulcinelli
Acadêmica do curso de graduação de Farmácia, aluna de Iniciação Científica no Laboratório de Biogenômica – Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Currículo Lattes: https://lattes.cnpq.br/7672415642403469