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Epidemia de dengue no RS: apesar do desenvolvimento da vacina, a conscientização ainda é a solução



Dados epidemiológicos indicam que a dengue afeta cerca de 390 milhões de pessoas no mundo a cada ano, resultando em hospitalizações e mortes.

 

A dengue é uma doença viral que afeta principalmente áreas tropicais e subtropicais (em geral os países que apresentam menor desenvolvimento estão nessas áreas transmissão ocorre pela picada do mosquito Aedes aegypti, que é o chamado vetor, ou seja, o responsável por espalhar o vírus.

Existem quatro tipos de vírus da dengue, Denv-1, Denv-2, Denv-3, Denv-4, sendo o sorotipo 3 mais perigoso e o sorotipo 1 o mais comum de contrair. A infecção inicial pode passar despercebida ou causar sintomas leves, como febre, dor, vermelhidão no corpo e dor de cabeça. No entanto, em casos graves, pode levar a complicações como a Febre Hemorrágica da Dengue (FHD) e a Síndrome do Choque da Dengue (SSD),que  se diferenciam em alguns sintomas a mais como vômitos persistentes, sensibilidade e dor abdominal intensa, alterações acentuadas da temperatura (de febre à hipotermia), que podem ser fatais.

 Mas por que há um aumento nos casos de dengue? Então, uma das explicações pode ser os fenômenos climáticos. No Rio Grande do Sul, por exemplo, chuvas intensas ultrapassaram cerca de 50% da média em 2023, gerando um grande acúmulo de resíduos, aumentando a proliferação do mosquito e, por consequência, da doença. Em janeiro de 2024 já foram registrados 1.595 casos de dengue no Rio Grande do Sul. No mesmo período de 2023, foram 88. O aumento representa um número 18 vezes maior entre um ano e o outro. Atualmente, segundo a Secretaria Estadual de Saúde Do Estado, estamos vivendo uma epidemia.

Uma pessoa que já teve dengue, quando acometida novamente pelo vírus, pode acabar por ter um quadro mais grave da infecção. Isso acontece porque os anticorpos que o corpo produz contra o primeiro vírus podem facilitar a entrada de um segundo vírus nas células, fazendo com que ele se multiplique mais rápido, aumentando as chances de desenvolver a forma grave da doença. Por outro lado, se for a primeira vez que a pessoa contrai a dengue, as chances de ter uma forma grave da doença são menores.

            Em relação a prevenção da dengue, o Brasil se tornou o primeiro país do mundo a disponibilizar a vacina contra a doença no sistema público de saúde, após aprovação pela Anvisa em março de 2023. Em dezembro do mesmo ano, o Ministério da Saúde a incorporou ao Sistema Único de Saúde (SUS) de forma prioritária, visando à vacinação o mais rápido possível. Diante da capacidade limitada de fabricação das doses da vacina, cerca de 3,2 milhões de pessoas devem ser vacinadas ao longo de 2024, e para 2025, já foram contratadas nove milhões de vacinas.

A QDENGA© é um imunizante tetravalente (protege contra os 4 sorotipos da dengue) produzido a partir do vírus vivo atenuado, ou seja, do micro-organismo infectado, porém enfraquecido. Mas pode ficar tranquilo, mesmo sendo a partir do vírus vivo você não irá de contrair a dengue, afinal, a vacina não tem a capacidade de produzir a doença, pois passam por um processo no qual sua virulência é reduzida a níveis considerados seguros para a vacinação.

O esquema vacinal é composto por duas doses com intervalo de três meses entre elas. Inicialmente, a vacinação prioriza crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, devido ao alto número de hospitalizações nessa faixa etária. Desde fevereiro, 521 municípios já começaram a receber o imunizante. A vacinação ocorrerá em todo público-alvo de forma progressiva, ou seja, será iniciada pela faixa etária de 10 a 11 anos.

Para as idades entre 4 e 60 anos, a vacina também foi aprovada, entretanto, por enquanto estará disponível apenas na rede privada. Há duas opções disponíveis: a Dengvaxia©, produzida pelo Sanofi Pasteur, que foi a primeira vacina disponibilizada na rede privada, e é indicada apenas para quem é soropositivo, ou seja, para quem já teve dengue. São administradas 3 doses da vacina com intervalo de 6 meses entre as doses. Ou a QDENGA©, mesma vacina disponibilizada pelo SUS, produzida pelo Takeda, e que pode ser administrada em soropositivos e soronegativos, ou seja, independente de já ter tido ou não a doença.  A previsão para o imunizante desenvolvido no Brasil ficar disponível de forma ampla para toda a população é entre 2025 e 2026.

 

A vacina contra a dengue é um grande avanço, sendo um recurso de boa eficácia (em torno de 80%). Entretanto, vale lembrar de outras práticas importantes para prevenção da doença, como o uso de repelentes, manter os pátios limpos, evitar água parada, dentre outras. Com isso, juntos, podemos combater a dengue e manter todos mais saudáveis.

Referências Bibiográficas:

1. Khan MB, Yang ZS, Lin CY, Hsu MC, Urbina AN, Assavalapsakul W, Wang WH, Chen YH, Wang SF. Dengue overview: An updated systemic review. J Infect Public Health. 2023 Oct;16(10):1625-1642. doi: 10.1016/j.jiph.2023.08.001. Epub 2023 Aug 3. PMID: 37595484. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37595484/

2. BRASIL. Secretaria de Comunicação Social. Governo Federal trabalha para ampliar produção de vacina contra dengue. 2024. Disponível em: https://www.gov.br/secom/pt-br/fatos/brasil-contra-fake/noticias/2023/3/governo-federal-trabalha-para-ampliar-producao-de-vacina-contra-a-dengue. Acesso em: 10 fev. 2024.

3. INSTITUTO BUTANTAN. Portal do Butantan. Vacina da dengue do Butantan tem eficácia “muito satisfatória”, mas ainda está em desenvolvimento e precisa de aprovação da Anvisa. 2024. Disponível em: https://butantan.gov.br/noticias/vacina-da-dengue-do-butantan-tem-eficacia- “muito-satisfatoria”-mas-ainda-esta-em-desenvolvimento-e-precisa-de-aprovacao-da-anvisa. Acesso em: 10 fev. 2024.

4. SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES (SBIm). Notas técnicas – Vacinação contra dengue: perguntas e respostas mais frequentes. 2023.

5. SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES (SBIm). Nota técnica conjunta SBIm/SBI/SBMT – 03/07/2023 – Vacina Dengue 1, 2, 3 e 4 (atenuada) QDENGA. 2023. 

Autora:

Maria Eduarda Seixas Barboza

Acadêmica do curso de graduação em Farmácia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), aluna de Iniciação Científica no Laboratório de Biogenômica e colaboradora do Portal Ciência e Consciência.

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8780952101423378.

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