A Coordenadoria de Transferência de Tecnologia da Agittec fechou o contrato de licenciamento da tecnologia “Processo de purificação de sal residual e uso do sal”, que será utilizada pela FAY Engenharia Industrial Aplicada. A tecnologia foi desenvolvida em conjunto com a Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI) e é o 8º contrato de licenciamento da UFSM.
O método desenvolvido é uma alternativa para o uso comercial dos sais residuais gerados durante o processo de destilação da glicerina, um subproduto gerado na produção de biodiesel. A cada 10 litros de biodiesel é gerado 1 litro de glicerina. Segundo os pesquisadores, as usinas poderão faturar R$ 15 milhões por ano com a venda do sal purificado, e economizar aproximadamente R$ 2,25 milhões com as despesas para o descarte adequado desse material em aterros sanitários.
Em entrevista para o portal da revista Biodieselbr, o professor dos cursos de Engenharia Agrícola e Engenharia Mecânica e coordenador do Laboratório de Engenharia de Processos Agroindustriais (LAPE) da UFSM Campus Cachoeira do Sul, Marcus Vinícius Tres, explica que o problema é que a glicerina não sai das usinas em condições de uso imediato. Antes, o material precisa passar por um processo de destilação que deixa para trás quantidades consideráveis de um tipo de resíduo sólido que precisava ser descartado com cuidados especiais que acabam gerando um alto custo para as empresas do setor.
Para identificar e buscar soluções para reduzir o custo do descarte dos resíduos, o grupo de pesquisadores realizou visitas técnicas em empresas. Como a maior parte do resíduo era formada por sais, uma solução seria destiná-lo para a indústria de alimentação animal, mas isso esbarrava na rejeição do produto in natura. “Esse sal está contaminado por ácidos graxos e outros resíduos químicos e os animais não o aceitam sem purificação, mesmo quando misturado à ração convencional”, explica Marcus Tres.
No processo desenvolvido pela equipe, o sal bruto é misturado a um solvente que separa contaminantes do sal purificado. No final, cerca de 80% da massa total pode ser aproveitada. Além de uma economia de aproximadamente R$ 2,25 milhões por ano só com a conta do descarte desse material, Marcus estima que usinas também poderiam lucrar cerca de R$ 15 milhões por ano com a venda do sal purificado.
Parceria pode solucionar problema ambiental do setor
A empresa licenciada para explorar a tecnologia é a FAY Engenharia Industrial Aplicada, que atua nas etapas de projeto, fabricação e montagem eletromecânica de plantas industriais. Inicialmente, a FAY desenvolverá um protótipo industrial para o processo de purificação de sal residual, desenvolvido pelos pesquisadores da UFSM e da URI, a fim de testá-lo num protótipo em escala semi-industrial.
Assim que esse protótipo apresentar performance, o processo poderá ser inserido nas indústrias parceiras que realizam a purificação da glicerina atualmente. Dessa forma, além de ser uma inovação capaz de solucionar um problema ambiental do setor, o processo irá gerar o sal purificado com características físico-químicas adequadas para a suplementação alimentar animal, proporcionando um subproduto de alto valor agregado.
Parceria entre universidades
A tecnologia é fruto de um trabalho de parceria entre pesquisadores da UFSM Campus Cachoeira do Sul e da URI Campus Erechim. Segundo Rogerio Dal Lago, professor de Engenharia Química e responsável pelo Laboratório de Tratamento de Efluentes e Resíduos na URI, a pesquisa teve início na universidade de Erechim, ainda quando o professor Marcus Tres estava vinculado à mesma. “Mesmo com a transferência do Marcus para a UFSM a parceria se manteve e com a evolução dos resultados obtidos chegou-se à conclusão que ambas as universidades deveriam ser as titulares da patente, pois ambas tiveram papéis fundamentais no desenvolvimento da tecnologia”, conta Rogerio. Essa cooperação proporciona que alunos de ambas as instituições troquem experiências através dos projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação desenvolvidos em conjunto .
Para Marcus, o licenciamento de uma tecnologia é o ápice na carreira de um grupo de pesquisadores, porque mostra que se obteve êxito em todas as etapas do desenvolvimento: concepção do projeto, ensaios experimentais, discussão e publicação dos resultados e depósito da patente no INPI. “O interesse de empresas no licenciamento da tecnologia confirma a importância do trabalho desenvolvido para o segmento de purificação de glicerina e biodiesel”, conta o pesquisador.
Rogerio diz que todo pesquisador sonha ter sua pesquisa reconhecida e que a mesma possa trazer ganhos para a sociedade. “O licenciamento de uma patente, o qual corresponde a uma quantidade ínfima em relação ao número de pedidos depositados anualmente no INPI, pode ser considerado como uma validação da pesquisa desenvolvida e no nosso caso, a concretização de uma realização como pesquisadores”, comemora Rogerio.
Inventores:
Marcus Vinicius Tres (UFSM Campus Cachoeira do Sul)
Rogério Marcos Dal Lago (URI Erechim)
Marshall Paliga (URI Erechim)
Carolina Elisa Demaman Oro (URI Erechim)
Marcelo Luis Mignoni (URI Erechim)
Texto: Giovana Dutra, acadêmica de Jornalismo e bolsista da Agência de Inovação e Transferência de Tecnologia (Agittec).
Ilustrações: Lucas Dalcin Matte, acadêmico de Desenho Industrial e bolsista da Agência de Inovação e Transferência de Tecnologia (Agittec).