O Reservatório para Aproveitamento da Água da Chuva e Controle de Vazão da Água de Descarte teve seu pedido de patente deferido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) em setembro de 2020. O modelo de utilidade foi criado pelo Grupo de Pesquisa de Modelagem Hidroambiental e Ecotecnologias, pelos professores Daniel Allasia e Rutinéia Tassi, e pelo bolsista de Iniciação Científica Marcello Ferrão. O pedido de patente foi depositado em 2015.
Importância de ter uma patente concedida
Quando uma patente é concedida pelo INPI, a pesquisa dá um passo importante no caminho para se tornar um produto a serviço da sociedade. “No Brasil, se produz muita ciência de qualidade; por diversos motivos que vão da burocracia ao desconhecimento, não há ainda uma apropriação generalizada dessa tecnologia comercialmente, por isso importa-se soluções tecnológicas para suprir as necessidades”, conta o inventor Daniel Allasia. Ele explica que a patente assegura soberania nas soluções, diminui importações e pagamentos de royalties, e se transforma num produto estratégico para o país.
Sobre o reservatório
A expansão urbana causa uma maior demanda por água para diversos usos, não necessariamente potáveis. Por outro lado, ela afeta também a oferta de água, em função da impermeabilização e falhas na gestão, de uma diminuição da recarga subterrânea, do aumento do escoamento superficial, da contaminação de cursos de água, e outros fenômenos. A oferta pode ser aumentada através da utilização de pequenos reservatórios para coleta e armazenamento da água da chuva, que apresentam alta eficiência nas regiões urbanas devido à grande extensão de áreas como telhados, pátios e outras superfícies impermeáveis de captação e que podem variar desde simples “barris de chuva” até cisternas mais complexas.
Por outro lado, o excesso de essas áreas impermeáveis faz com que a água que originalmente se infiltrava no solo agora revestido, o que era evaporada na vegetação cada vez mais escassa, passe a escoar superficialmente. Esse escoamento superficial, pode ser até 6 vezes maior que na situação natural e, uma das formas do seu controle, é a utilização de pequenos reservatórios de detenção (também chamados de “piscinões”) que armazenam temporariamente a água da chuva, liberando-a aos poucos. O uso de reservatórios de detenção elimina a necessidade de ampliação de redes de drenagem, permitindo que milhões em recursos públicos sejam destinados a outros fins.
O principal requisito para o bom funcionamento do reservatório é que ele se esvazie logo após a passagem do evento chuvoso, para que seja garantido o volume de espera necessário para atenuação da próxima cheia. Entretanto, é importante considerar os princípios de funcionamento e as metodologias utilizadas para dimensionamento de cada tipo de reservatório, que pode ser de armazenamento, ou de detenção. E elas são conflitantes, uma vez que para o primeiro é desejável que esteja sempre cheio para atender as demandas por água não potável, e para o segundo é necessário que se mantenha vazio para que seja possível amortecer o próximo pico de chuva.
Dessa forma, os municípios que possuem normativas relacionadas a essas duas medidas acabam gerando um custo elevado aos empreendimentos pela necessidade de utilizar dois reservatórios, um para cada uma das finalidades. A partir disso, foi desenvolvido um único reservatório capaz de atender aos dois propósitos, com um custo menor e impactos positivos para o meio ambiente.
Benefícios da tecnologia aplicada
– Redução de custos: diminuição dos gastos, uma vez que é possível utilizar a água armazenada; eliminação de enchentes e necessidade de ampliar sistemas de drenagem na cidade ao manter as vazões equivalentes às de quando o local era natural; economia de energia elétrica através da eliminação da necessidade de bombas para irrigação, visto que esta pode ser feita por gotejamento;
– Manutenção de baixo custo: o sistema não possui partes móveis ou eletrônicas que podem quebrar, o que torna a sua manutenção simples e barata.
– Modulável: podem ser acoplados módulos, como se fossem “legos”, permitindo atender terrenos de diferentes tamanhos e com construções diferentes entre si sem necessidade de adaptações complicadas.
– Economia de espaço: ao invés de ter que construir dois reservatórios para ambas as finalidades, esse sistema permite que você tenha apenas um. Dependendo do material de fabricação, reservatórios acoplados podem substituir um muro, diminuindo ainda mais o espaço necessário.
– Critérios ambientais: diminuição de enchentes e do consumo de água.
– Praticidade e estética: possibilidade de utilização de diversos materiais no reservatório e no seu revestimento.
Sobre o grupo de pesquisa
O Grupo de Pesquisa de Modelagem Hidroambiental e Ecotecnologias se dedica ao fomento de soluções para o desenvolvimento sustentável. As atividades abrangem modelagem computacional, desenvolvimentos de planos de drenagem urbana, implementação de ecotecnologias (telhados verdes, trincheiras de infiltração, parede verde, pavimento permeável, etc) e suporte a diversas organizações que desejam implementar essas iniciativas. Para mais informações, acesse o site ou o perfil do grupo no Instagram.
Texto: Giovana Dutra, acadêmica de Jornalismo e bolsista da Agência de Inovação e Transferência de Tecnologia (Agittec)
Ilustrações: Camila Santarem, acadêmica de Desenho Industrial, bolsista da Agência de Inovação e Transferência de Tecnologia (Agittec).