Fonte: Wylinka
Os que acompanham a DEEP já sabem: nós da Wylinka somos apaixonados pelo papel da universidade em ecossistemas de empreendedorismo (especialmente pelo fato de boa parte do time ser composta por pessoas que vivenciaram intensamente a ciência na universidade). É a partir dela que geralmente se avança o desenvolvimento tecnológico nascido da pesquisa, ela quem oferece mão-de-obra qualificada para atuar em empresas nascentes de tecnologia, ela que possui espaços e infraestrutura para a realização de atividades que possam tornar a atmosfera de um ecossistema mais vibrante e muito mais. Mas sabemos que não é tão simples, sabemos que é deveras simplista pensar que basta somente aproximar o mercado da universidade para, em um passe de mágica, surgir inovação.
Há muito a ser pensado. Como funcionará o alinhamento cultural entre pesquisa e mercado? Quais os esforços necessários para transformar a pesquisa em tecnologia, a tecnologia em inovação? Como organizar uma universidade sob a perspectiva de ecossistemas de empreendedorismo? Como fazer uma tradução de idiomas antagônicos: a linguagem de um cientista — que pensa em método e valoriza o rigor dos processos não influenciando nos resultados — com a do empresário — que pensa em resultados, muitas vezes sendo necessária a adaptação dos métodos? É o velho dilema dos marketplaces: é muito fácil identificar o gap de mercado, difícil mesmo é fazer o fit funcionar de maneira fluida. Um dos pesquisadores do tema que mais consideramos é o professor Paulo Lemos, que apresenta um modelo de organização da UNICAMP sob o ponto de vista dos ecossistemas em seu livro Universidades e Ecossistemas de Empreendedorismo:
A longa introdução traz nosso texto a um ponto cego que muitos que estão fora não compreendem: o problema das métricas nas universidades. No Brasil, a qualidade de uma instituição de ensino superior é historicamente pouco influenciada pela inovação gerada — os pesquisadores, docentes e gestores são cobrados por métricas diferentes, e acabam naturalmente direcionando seus esforços para a excelência nas mesmas. Atualmente se mede muito a produção acadêmica — papers, revistas, grupos de pesquisa e produtividade nas publicações científicas -, ao passo que a inovação fica de lado. Com essa mentalidade, algumas Universidades brasileiras começaram a evoluir — observando outras métricas, como o número de pedidos de patentes. Mas seria essa métrica suficiente?
A resposta reside no caso da Universidade de Utah, apresentado no livro do Professor Paulo Lemos citado acima. Os níveis de geração de patentes de Utah atingem aproximadamente a metade das patentes do MIT (além de outras médias inferiores, como gastos em P&D e número de doutores), porém, Utah se direcionou para processos de transferência de tecnologia pensados na geração de startups, o que fez com que gerasse mais startups que o MIT nos anos de 2008 e 2009.
Comparação de números entre MIT x Utah
Isso demonstra que é importante ir além quando se pensa em métricas para inovação nas universidades — especialmente o papel dos NITs na transferência de tecnologia e estímulo à transformação das patentes em inovação. Pensando nisso, a Wylinka organizou, para as universidades, algumas métricas complementares interessantes que realmente estimulam a geração da tecnologias e sua aplicação empreendedora de modo a gerar inovação:
–Número de pesquisadores com projetos em incubadoras: atentar-se aos números ligados a projetos que saem dos ambientes de pesquisa e vão para as incubadoras é uma maneira de se observar a aplicação das tecnologias geradas. Com os movimentos dos mecanismos de aceleração, há muita oportunidade para o fortalecimento do papel das incubadoras na geração de inovação, como apresentamos nesse post e também nesse estudo feito por um membro da Wylinka junto com o professor Guilherme Ary Plonski (Núcleo de Políticas e Gestão Tecnológica da USP) e a professora Luciane Ortega (Agência USP de Inovação)
–Número de equipes de competição tecnológica: equipes de robótica, de automobilismo, de aerodesign etc. representam uma forte vivência para os alunos na criação de tecnologias e gerenciamento de projetos para tal aplicação. Essa vivência resulta em maior engajamento com o aprendizado por parte do aluno e o aproxima de uma visão holística na criação de tecnologias, formando cientistas e engenheiros mais inovadores. A Escola de Engenharia da UFMG já é um exemplo brasileiro de atenção a esse aspecto, como cobrimos nesse texto.
–Número de entidades estudantis de fomento ao empreendedorismo: ganhando relevância nos Estados Unidos (entrepreneurship clubs do MIT), no Reino Unido (NACUE) e na Escandinávia (AaltoES), os movimentos grassroots (espontâneos e não institucionalizados) são apresentados por alguns pesquisadores como o elemento chave da transformação de uma universidade para empreendedorismo. Alguns estudos reforçam a tese, como um sobre Stanford e outro da Finlândia. No Brasil, fortes exemplos são o Núcleo de Empreendedorismo da USP e o Centro de Empreendedorismo da UNIFEI.
–Número de bolsas de iniciação tecnológica: ainda pouco exploradas, as bolsas de iniciação tecnológica são uma modalidade criada pelo CNPq para o incentivo ao desenvolvimento tecnológico. Refletir sobre suas possibilidades e aplicações no contexto das universidades, NITs e afins pode ser um novo horizonte no fomento à inovação.
–Número de competições de plano de negócio por ano: a criação de planos de negócio é considerada como uma ótima vivência para que alunos e pesquisadores compreendam a esfera de negócio envolvida na aplicação de suas tecnologias. O plano de negócio visto não como elemento norteador da empresa, mas sim como elemento de aprendizagem gera bastante resultados quando aplicado num contexto universitário. Um bom exemplo é a competição do MIT — MIT 100K, que estimula anualmente alunos e pesquisadores a aplicarem suas pesquisas, concorrendo ao prêmio de cem mil dólares para o vencedor.